Segunda-feira, Maio 27, 2024
15.5 C
Lisboa
More

    Sonangol: Porque Angola produziu menos crude em 2013

    Francisco Maria de Lemos, Sonangola. (Foto: D.R.)
    Francisco Maria de Lemos, Sonangol.
    (Foto: D.R.)

    Tal como é tradição, a administração da Sonangol compareceu em peso na conferência de imprensa que assinalou o 38.º aniversário da petrolífera nacional, na qual foi feito o balanço da sua actividade no ano anterior. Foi a primeira vez que foram divulgados os resultados consolidados do grupo, segundo as normas internacionais de contabilidade IFRS (International Financial Reporting Standards), onde se confirmou uma descida das receitas de 10% (44,2 mil milhões de dólares) e o crescimento dos lucros que mais do que triplicaram (2,96 mil milhões de dólares) face ao ano anterior.

    Outra novidade foi a revelação por parte do presidente da Sonangol, Francisco de Lemos José Maria, do desempenho registado pelas quatro grandes áreas de negócio do grupo. A de “exploração e produção”, gerou resultados positivos de 2,2 mil milhões de dólares (75% do total) ao passo que a da “logística e distribuição” contribuiu com 751 milhões (25% do total). Os 44 milhões de dólares de lucro obtidos pelo conjunto dos “negócios não nucleares” da Sonangol (caso da companhia de aviação Sonair, a operadora de telecomunicações Mercury, a imobiliária Sonip, a Clínica Girassol ou as participações financeiras e os investimentos industriais) foram anulados pelos 43 milhões de prejuízos da área da “refinação e transporte” de combustíveis.

    Francisco de Lemos, na sua mensagem de abertura, aludiu, com orgulho, ao facto de 86% das vendas da Sonangol terem revertido para os cofres públicos (sob a forma de impostos sobre a produção, transacções e rendimentos de petróleo, as receitas de concessões e o imposto de consumo). Em 2013, a Sonangol entregou ao Tesouro nacional 24,18 mil milhões de dólares, valor que representa uma redução de 12 % face ao ano anterior. Paralelamente, o endividamento do grupo cresceu 28%. Dos 13,5 mil milhões de dólares que estavam em dívida no final do ano passado, 25% referem-se a empréstimos de curto prazo (que terão de ser reembolsados no final de 2014) e 75% de longo prazo (a amortizar apenas em 2022).

    Quota na Puma Energy sobe para 30%

    Tal montante visa financiar os ambiciosos investimentos da maior empresa nacional, que totalizaram 7,45 mil milhões de dólares em 2013 (mais 1000 milhões do que no ano anterior). A maior fatia foi para a área de exploração e produção (5,7 mil milhões de dólares, 77% do total). Seguiram-se, com o mesmo peso relativo (10% do total), os investimentos financeiros corporativos (758 milhões de dólares) no qual se destaca o aumento da participação accionista na Puma Energy — de 20% para 30% — e os investimentos em negócios não nucleares (717 milhões de dólares). Já as áreas de refinação e transporte (172 milhões de dólares) e da logística e distribuição (77 milhões) registaram um peso pouco expressivo na carteira de investimentos. O presidente revelou, no entanto, que a Sonangol aumentou a sua capacidade de armazenagem em terra (mais 10%), mas, em contrapartida, diminuiu no mar (menos 20%).

    (Foto: D.R.)
    (Foto: D.R.)

    Mas o tema forte da conferência de imprensa foi a quebra na produção de petróleo de 1,1% registada em 2013, algo que contrasta com a variação positiva de 4,5% verificada no ano anterior. O total produzido em 2013 foi de 626 milhões de barris/ano (que correspondem a 1,715 milhões de barris/dia) e a queda, face a 2012, foi de 6,97 milhões de barris. Francisco de Lemos começou por referir que 71% dos desvios (entre a produção estimada e a real) verificaram-se em Novembro, sendo relativas às concessões no Bloco 0 (operado pela Chevron), no Bloco 15 (da Esso), no Bloco 17 (da Total) e no Bloco 18 (da BP). Perante a insistência dos jornalistas durante a sessão de perguntas, o presidente da Sonangol confessou ainda estar a aguardar, por parte dos administrações dessas operadoras, mais informações sobre as reais causas da baixa de produção. “O petróleo não foi extraído, mantém-se no subsolo. A dúvida é saber até que ponto será possível recuperá-lo de modo a respeitarmos as nossas previsões de produção para este ano”, afirmou.

    O administrador Paulino Jerónimo, com o pelouro da exploração e produção de hidrocarbonetos, adiantou algumas explicações. Ficámos a saber que, no Bloco 0, houve um desvio de 10% na produção de Novembro, devido ao facto de terem sido feitos trabalhos de ligação entre plataformas que demoraram mais tempo do que o previsto. No Bloco 15, surgiu uma falha nos compressores, derivada do facto de, nesse mês, não ter sido enviado gás para o projecto Angola LNG, que se encontrava parado para manutenção. No Bloco 17, responsável por um terço da produção nacional, houve uma ligeira paralisação no campo Dália e a falta de disponibilidade de sondas fez com que não tivessem sido perfurados três poços que estavam planeados. “Quando há um problema neste bloco, afecta a produção geral”, reconheceu. Por fim, no Bloco 18, no qual têm surgido vários problemas técnicos, foi reportado um incidente curioso: um peixe furou a mangueira de exportação. “Temos de trabalhar seriamente com as operadoras para revermos os planos de manutenção preventivas e sermos ainda mais rápidos a corrigir as eventuais falhas”, sintetizou o administrador. 

    (D.R.)
    (D.R.)

    China vale 45% das exportações de crude. Seguem-se a India e Taiwan, que ultrapassou os Estados Unidos

    Francisco de Lemos fez também questão de detalhar que embora a queda geral de produção tenha sido de 1,1%, a quota-parte produzida pela Sonangol manteve-se praticamente inalterada. “O Bloco 31, onde a petrolífera nacional tem uma participação de 45%, deu uma enorme contribuição para mitigar as reduções verificadas nos outros blocos”, justificou. Já a produção relativa aos outros investidores (excluindo a Sonangol) aumentou em 24%, devido a entrada em operação de novos campos petrolíferos. Ao passo que a parcela relativa aos direitos patrimoniais do Estado (a partir dos quais se obtém a receita da concessionária) caiu 10% (face ao crescimento de 11% verificado no ano anterior).

    Durante a conferência de imprensa foram revelados outros números interessantes. Em 2013, a Sonangol produziu 1,209 milhões de barris equivalentes de LPG (gás liquefeito que inclui o chamado gás de cozinha), um valor que quase duplicou face a 2012 e que foi proveniente de três fontes: o Bloco 0, a unidade de LNG do Soyo e a refinaria de Luanda. Esta, por sua vez, sofreu um aumento da capacidade de processamento (mais 14% para 45,8 mil barris/dia). Em termos anuais, a refinaria de Luanda produziu cerca de 2 milhões de toneladas de produtos refinados (mais 11% do que em 2012) destacando-se o crescimento da nafta (31%), jet fuel (24%) e petróleo iluminante (17%). Recorde-se que a refinaria de Luanda, que é a única em operação do país — a nova, do Lobito, ainda em fase de construção de infra-estruturas, só estará pronta em 2017 ou 2018 — só responde por 15% das necessidades de consumo. Daí que Angola tenha precisado de importar, no ano passado, 4,55 milhões de toneladas de produtos refinados (mais 2% do que em 2012), dos quais 71% (3,2 milhões de toneladas) relativas ao gasóleo e 22% (1 milhão) à gasolina.

    Em sentido contrário, Angola exportou 285,7 milhões de barris de petróleo bruto, menos 9% do que no ano passado, algo que, nas palavras do presidente, “teve um impacto significativo nas receitas da empresa”. Conforme esclareceu a administradora Anabela Fonseca, a China, não obstante a ligeira desaceleração da economia, ainda é o principal comprador das exportações nacionais de crude (45% do total), seguida da Índia (com 12%). Os Estados Unidos caíram para quarto destino devido à produção de gás de xisto — eram o terceiro, posição hoje ocupada por Taiwan. Seguem-se África do Sul, Espanha e outros países com quotas menos expressivas (Brasil, Panamá, Malásia, Japão, Irlanda e Itália).

    (D.R.)
    (D.R.)

    Nas exportações de gás e de outros produtos refinados, a Sonangol registou resultados mistos. Caíram em cerca de 50% as vendas de propano e de butano (estas ultimas, devido ao aumento do consumo interno). Em contrapartida, as exportações de nafta subiram 50%, as de fuel oil 24% e as de gasolina e gasóleo 20%.

    Internamente, foram vendidas 5,5 milhões de toneladas de produtos refinados, o que representou uma diminuição de 19% face ao ano anterior. É interessante, porém, observar algumas mudanças no padrão de consumo de combustíveis do consumidor angolano. As maiores quedas nas vendas surgiram no petróleo iluminante (50%) e na gasolina (25%), ao passo que se verificaram aumentos no jet fuel (35%), gasóleo (8%) e gás butano (5%).

    Filomena Rosa, presidente da Sonangol Distribuidora, traçou o novo perfil de consumo. Na sua opinião, o consumo de gasolina baixou porque a população tende a usar mais viaturas a gasóleo e recorre a outros meios de transportes como, por exemplo, o ferroviário. Já o petróleo iluminante (querosene), antes usado nos fogões e nos candeeiros quando havia falhas de energia, tem vindo a perder espaço para o gás de cozinha. “O crescimento económico do país acelerou a urbanização, que fez nascer novos hábitos de consumo”, justificou.

    Em termos agregados, o total das vendas da Sonangol em 2013, foi de 44,2 mil milhões de dólares (perda de 595 milhões face ao ano anterior). Tal descida é fruto do efeito combinado da quebra de produção (de 10% no caso dos direitos de produção da Sonangol) e da redução dos preços de venda (de 3,6% no caso do petróleo). Vale a pena recordar que o preço médio de venda do petróleo bruto da Sonangol foi de 107,79 dólares por barril em 2013 (versus os 111,86 do ano passado), ao passo que o preço de referência inscrito no OGE 2013 era de 96 dólares por barril (versus 77 em 2012).

    Outros negócios compensam a queda

    (D.R.)
    (D.R.)

    As receitas da Sonangol no segmento da exploração e produção também caíram 11% (menos 3,7 mil milhões de dólares). Tal redução, segundo esclareceu Francisco de Lemos, foi agravada pelo impacto da lei do OGE 2013 que fixou em 7% a remuneração do agente do Estado para as concessões (queda estimada de 848 milhões de dólares). Foi, no entanto, parcialmente compensada pelos rendimentos adicionais noutros segmentos. “Tivemos receitas de mais 704 milhões de dólares nas áreas da refinação, transporte, distribuição e logística, devido ao aumento da subvenção ao preço do combustível. Fruto da entrada em produção do Bloco 31, a subsidiária Sonangol Pesquisa e Produção teve a receita adicional de 1,67 mil milhões de dólares. As comercializações de cerca de 24 mil imóveis feita pela Sonip no ano passado, renderam mais 1,426 mil milhões de dólares ao passo que os negócios não nucleares (Holding, Sonair, Mercury, Essa e Clínica Girassol) adicionaram cerca de 100 milhões face à receita de 2012.”

    Este ano, a Sonangol vai realizar 
a primeira emissão corporativa no mercado internacional de capitais

    A conferência de imprensa terminou com boas notícias. A primeira, foi a revelação de que a Sonangol atribuiu, em 2013, 700 bolsas de estudo a jovens dos 16 aos 18 anos de idade e que este ano serão beneficiados mais 550 bolseiros, a somar aos jovens quadros e futuros colaboradores formados anualmente pela Academia da Sonangol. A segunda, é que este será o ano em que a Sonangol vai realizar a sua primeira emissão corporativa no mercado internacional de capitais. A terceira, que arrancou uma onda de aplausos na sala, foi o anúncio que os colaboradores da Sonangol que têm prestações de casa por pagar (e as obrigações em dia) terão um desconto de 25% na amortização. Tal prémio deve-se, nas palavras do presidente, ao contributo de todos para os bons resultados do grupo.

    COMO CHEGAR À AMBICIOSA META DOS 2 MILHÕES DE BARRIS/DIA EM 2015

    A contribuição virá de dois novos campos, que estarão operacionais já este ano, 
um no Bloco17 (da Total) e outro no Bloco 15/06 (da ENI). Em 2015, entrarão em funcionamento dois campos no Bloco 0 e campos adicionais nos Blocos 15 e 17

    Diante das dificuldades técnicas que as operadoras enfrentaram no ano transacto e que explicam a queda de 1,1% na produção de crude, os jornalistas questionaram Francisco de Lemos, presidente da Sonangol, se a meta de produção preconizada para 2015 — de 2 milhões de barris/dia — teria de ser revista, algo que foi prontamente desmentido. Francisco de Lemos, afirmou que “há cerca de um mês, a Sonangol estava a produzir 1,628 milhões de barris/dia, o que significa que estamos a voltar aos níveis normais, dado que a produção média, em 2013, foi de 1,724 milhões de barris/dia”. Acrescentou que “a contribuição para a referida meta virá de dois novos campos, que estarão operacionais já este ano, um no Bloco 17 (Total) e outro no Bloco 15/06 (ENI)”.

    Mas há outras razões de esperança. Em 2015, vão entrar em funcionamento os campos Lianvi e Mafureira Sul, no Bloco 0 (Chevron), os satélites do Bloco 15 (Exxon Mobil) e campos adicionais no Bloco 17 (Total). Recentemente, a Sonangol aprovou o plano de desenvolvimento do campo Kaombo, no Bloco 32, também operado pela Total, cuja capacidade de produção pode ascender a 225 mil barris/dia. Ainda este ano, deverá igualmente ser aprovado o programa de exploração do campo Cameia, no Bloco 21 (bacia do Kwanza, operado pela Cobalt) que marcará a estreia de Angola no promissor segmento do pré-sal. Por fim, estará concluído o road-how internacional para a licitação de dez novos blocos onshore (veja EXAME n.º 45).

    Francisco de Lemos falou igualmente do potencial do gás natural (decorrem estudos sísmicos e geológicos na bacia do Baixo Congo, onde no passado foram feitas descobertas, e na do Kwanza). E foram dadas explicações adicionais quanto ao projecto LNG, no Soyo, que já vendeu cinco carregamentos (os primeiros foram para o Brasil, China, Japão e Coreia do Sul).

    O presidente também anunciou que este ano irá reforçar a frota de navios Stena V-Max, “para antecipar o aumento do volume de produção e as consequentes necessidades de transporte”, e que a oferta de parques e terminais de armazenagem vai crescer. “Está em construção o novo terminal oceânico da barra do Kwanza, a par da ampliação do existente do Namibe, assim como a edificação dos novos parque de combustíveis do Lubango e do Soyo”, enumerou.

    O ANO DE ESTRÉIA DE ANGOLA NO PRÉ-SAL

    Francisco de Lemos esclareceu ainda que a política de incentivo à entrada de empresas privadas angolanas no sector irá continuar. Recordou que as primeiras tentativas surgiram durante a licitação de 2006, onde algumas empresas nacionais foram integradas nos grupos empreiteiros, e cujo primeiro campo entrará em produção no final deste ano. “Verificou-se, no entanto, alguns constrangimentos no cumprimento das obrigações, pelo que foi desenvolvido um novo formato para a licitação de 2013, com critérios de elegibilidade mais específicos, nos quais os investidores nacionais terão acesso a uma quota-parte dos blocos, estando integralmente (ou parcialmente) isentas do risco geológico”, esclareceu.

    Referiu, a este propósito, que está a ser estudada a participação do sector seguradoras (por exemplo, através dos fundos de pensões) e deixou, no final, a convicção de que o papel dos investidores nacionais deverá ser mais activo nos leilões de blocos onshore, dado que exigem investimentos (e exposições ao risco) menos exigentes. 

    
O Navio Kerala foi recuperado 
sem 12 mil toneladas de gasóleo

    As causas do misterioso desaparecimento do navio ainda estão por esclarecer. Independentemente de ter sido um acto de pirataria real, ou forjado, a verdade 
é que a embarcação já regressou a Luanda, mas só se aproveitaram 78% da carga

    Durante 2013, a frota de navios da Sonangol transportou 10,9 milhões de barris de petróleo, um aumento de 50% face a 2012, a somar a 421 mil metros cúbicos de LNG (menos 18%) e 8,2 milhões de toneladas de produtos refinados diversos (valor igual ao do ano passado).  Ainda assim, a Sonangol, por vezes, tem de se socorrer do aluguer temporário de navios (time-charter). Foi o que sucedeu com o navio Kerala, que fora contratado pela Sonangol e que terá alegadamente desaparecido em Janeiro ao largo da costa de Luanda. O “alegadamente” aqui faz sentido, dado que os donos do navio queixaram-se de ter sido alvo do ataque de “piratas”, ao passo que as autoridades marítimas angolanas julgaram tratar-se de uma mera simulação.

    Na conferência de imprensa da Sonangol, não foram dados esclarecimentos adicionais sobre esse “mistério”. O facto é que o navio foi interceptado pela Marinha nigeriana uma semana mais tarde. Foi, posteriormente, removido para o mar do Gana por razões de segurança e, numa operação conjunta com os respectivos governos, resgatado e devolvido às autoridades angolanas. A Sonangol esclarece que já procedeu ao descarregamento do crude remanescente, no qual se registou a ausência de 12 mil toneladas de gasóleo — o equivalente a 8 milhões de dólares.

    Segundo a administradora para os Activos e Investimentos Internacionais, Anabela Fonseca, “foram descarregadas 68 mil toneladas de diesel e recuperados cerca de 78% da carga que tinha a bordo. Numa apreciação preliminar, o produto recuperado está fora das especificações, o que é aceitável  dado que esteve muito tempo armazenado no navio, exposto ao calor e estando com níveis de água muito elevados”. Recorde-se que este incidente teve uma grande repercussão nos media internacionais devido às preocupações quanto ao alastramento para sul da pirataria que actua no golfo da Guiné, perto da Nigéria, país de onde têm origem a maioria das quadrilhas de sequestro da região.

    RETIRADA DA SONANGOL DO IRAQUE DEVE-SE A QUESTÕES DE SEGURANÇA

    Apesar desse revés, a internacionalização da Sonangol prossegue. Este mês, vai ser 
divulgado o contrato de partilha de produção para a zona comum de exploração entre Angola e a RDC. Em 2015, deverá ser anunciada a perfuração do primeiro poço em Cuba.

    A aventura da Sonangol no Iraque começou em 2009, quando a petrolífera obteve o direito de operar através de uma participação accionista de 75% nos campos petrolíferos de Qayara (com reservas estimadas de 800 milhões de barris) e Najmah (de 900 milhões) na província de Níneveh, no Noroeste do Iraque. São locais, recorde-se, onde permanecem activos os grupos extremistas sunitas, num país cuja violência, segundo as Nações Unidas, subiu ao nível mais alto dos últimos cinco anos, com cerca de 9 mil mortos, a maioria dos quais civis, em 2013. “Fomos incapazes de desenvolver qualquer trabalho, devido às questões de segurança, pelo que nos vimos forçados a abandonar o Iraque”, explicou Anabela Fonseca, administradora responsável pelos investimentos internacionais.

    Acrescentou que a Sonangol já tinha feito, no ano passado, uma declaração de força — que o governo iraquiano aceitou —, alertando para o facto de os custos da empresa estarem a subir, ao mesmo tempo que se via impedida de desenvolver a sua actividade. Referiu ainda que está em curso uma auditoria técnica e financeira independente para permitir que a Sonangol finde as suas operações sem violar as obrigações contratuais para com o Iraque. “Enquanto a auditoria não terminar é prematuro falar em quanto a petrolífera perdeu com a operação”. Francisco  de Lemos complementou, no entanto, que há compradores interessados em adquirir a quota da Sonangol no Iraque.

    ATENTOS ÀS OPORTUNIDADES EM ÁFRICA

    Na sessão de perguntas, a administração foi questionada pelos jornalistas sobre a actividade da Sonangol noutras latitudes. Anabela Fonseca começou pode desmentir a notícia do alegado interesse em abrir um escritório de trading na China, o maior comprador do crude angolano. “O nosso escritório de Singapura é responsável pela Ásia, o de Houston pelas Américas e o de Londres pela Europa e África”, esclareceu. Confirmou-se, no entanto, que os trabalhos em Cuba decorrem a bom ritmo. “Foi-nos pedidos que fizéssemos a avaliação do potencial do território cubano. Se tudo correr bem, em 2015 já esperamos perfurar o primeiro poço”, esclareceu.

    No continente africano os administradores recordaram que, no passado, a Sonangol já realizou experiências, sem grande sucesso, na Nigéria, Gabão e Sudão. A empresa admite, porém, ter interesse em participar, ainda que minoritariamente, nos blocos que estão a ser criados em países vizinhos como a Zâmbia e a Namíbia.  A operação mais avançada é, no entanto, a da República democrática do Congo (RDC), onde foi estabelecido o corredor para a exploração conjunta de recursos dos dois países. A Sonangol admite que este mês serão divulgados os termos do contrato de partilha de produção relativo a esse corredor.

    Também está em curso, tal como tem sido noticiado na imprensa, o papel cada vez mais activo da Sonangol na economia de São Tomé e Príncipe (por exemplo, na ampliação de portos e aeroportos, nos combustíveis, na formação de quadros e na entrada do capital da companhia aérea STP através da Sonair). No início deste ano foi anunciada a assinatura de uma linha de crédito por parte de Angola, de 180 milhões de dólares, destinada ao financiamento de infra-estruturas, e que, segundo os media locais, será reembolsada através de participações em futuros projectos petrolíferos no país. (exameangola.com)

    Por: Filipe Cardoso e Romão Brandão

     

     

     

    Publicidade

    spot_img

    POSTAR COMENTÁRIO

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

    - Publicidade -spot_img

    ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Reunião do G-7 critica abertamente as práticas comerciais da China e ameaça tomar medidas coercivas

    O envolvimento da China no sistema de comércio global foi duramente criticado pelos Ministros de Finanças do Grupo dos...

    Artigos Relacionados

    Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
    • https://spaudio.servers.pt/8004/stream
    • Radio Calema
    • Radio Calema