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    População disputa água com animais no centro de Moçambique

    Sob sol intenso, Julieta Afonso, 18 anos, enche uma vasilha no fontanário enquanto observa atenta outros dois recipientes cheios, com o receio de uma “invasão de animais”, no distrito de Guro, Manica, centro de Moçambique.

    “Estou na bomba desde as cinco horas da manhã e agora que são 11 horas enchi três baldes. Mas devo ficar atenta aos cabritos e porcos que podem entornar a água para beber” disse à Lusa Julieta Afonso, que lembra numerosos episódios de amigas que tiveram de voltar ao início da fila depois de perderem baldes de água.

    No distrito de Guro, a norte de Manica, a população disputa fontes de água potável com animais, sobretudo, porcos, galinhas, patos e cabritos, que sem outras fontes são obrigados a recorrer a fontanários públicos para enfrentarem o “calor devorador” da região.

    A escassez de água cria também problemas no ensino.

    “A busca de água chega a ocupar-nos o dia inteiro, porque temos limites para cada pessoa. Eu junto as minhas irmãs, saímos as 03:30 de madrugada para marcar a fila e regressamos às 11 ou mesmo até à tarde sem ter conseguido cinco bidões de 20 litros” diz Beta Muchanga, que falta ás aulas para ir á água.

    O distrito tem 88 fontes de água, mas apenas 53 estão em funcionamento para abastecer uma população de 44.889 habitantes do distrito, que vive bastante dispersa. Atualmente em Guro, um furo ou poço é usado por 2100 pessoas, contra a média de 300 pessoas por cada furo.

    “Água sempre foi um problema em Guro. Ainda temos fontes bastantes exíguas e existem pessoas que estão a consumir água imprópria, sobretudo no interior do distrito onde o drama é maior. Mas tem melhorado muito o abastecimento de água nos últimos anos, visto que abrimos muitos furos nos bairros” disse à Lusa Diolinda Vissai, administradora do distrito de Guro.

    Uma iniciativa governamental está a vedar os perímetros onde foram colocadas as fontes de água nos bairros da sede distrital de Guro, para impedir a invasão dos animais enquanto a população se abastece nos furos.

    Uma avaliação conjunta do Ministério das Obras Publicas e Habitação e da Direção Nacional de Água, de 2011, sobre uso de infraestruturas de abastecimento de água, indica ainda que a população moçambicana tem como principal fonte de água os poços não protegidos (36 por cento).

    O último Plano Estratégico Social (2009-2011) indica que nas zona urbana foram abrangidos perto de dois milhões de beneficiários servidos de água potável, aumentando para 60 por cento a parcela da população com acesso a água.

    O mesmo plano previa que mais de 7,4 milhões de habitantes das zonas rurais de Moçambique fossem beneficiados através do aumento da cobertura do abastecimento de água de 48,5% para 70% até 2015, mas a realidade no terreno sugere que o governo não conseguira reduzir até 2015, a proporção da população sem acesso sustentável a água potável, segundo estabelece a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.

    “Se calhar, quando tivermos mais fontes de água, estaremos numa situação privilegiada onde já podemos partilhar água sem guerra com os animais, pois haverá líquido para colocar nos curais. Não sabemos quando este dia chegará” desabafa Julieta Afonso.

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