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    O que é o ‘eixo da resistência’, aliança que Irão ameaça empregar em conflito no Médio Oriente

    A tensão no Oriente Médio está ficando mais intensa a cada dia que passa.

    Desde o ataque surpresa do Hamas a Israel, em 7 de outubro, quando mais de 1,3 mil pessoas foram mortas do grupo islâmico, uma campanha de bombardeios sobre Gaza, liderada pelo exército israelense, vem causando uma tragédia humanitária, com mais de 4 mil mortos e centenas de milhares de refugiados.

    A situação se agravou na terça-feira (17/10), depois de uma explosão atingir um hospital em Gaza, deixando centenas de mortos – israelitas e palestinos culpam uns aos outros em relação à responsabilidade pelo ocorrido.

    Estes últimos 11 dias de terror na região foram acompanhados de advertências de ambos os lados.

    Israel prometeu “varrer o Hamas do mapa”, enquanto o Irão, principal patrocinador e aliado do Hamas, alertou para os riscos de uma escalada do conflito no Oriente Médio se o país liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não parar o seu ataque a Gaza.

    Especificamente, o Ministro das Relações Exteriores do Irão, Hossein Amirabdollahian, falou de uma possível contra-ofensiva do chamado “eixo de resistência”, a aliança com a qual o Irão promove a sua influência na região.

    Além de alertar que “o tempo está se esgotando para uma solução política”, Hossein Amirabdollahian assegurou que este grupo poderá levar a cabo “ações preventivas” se os “crimes de guerra contra os palestinos não pararem”.

    Mas o que é esse “eixo de resistência” ao qual a autoridade iraniana se referiu? Qual a sua importância no Médio Oriente e como é ele articulado?

    O que é o ‘eixo de resistência’?

    Nos últimos anos, a influência iraniana foi reforçada por meio de uma rede de aliados em vários países vizinhos, que é chamada de “eixo de resistência”.

    Essa influência ocorre no contexto de conflitos como os da Síria e Iêmen, e na luta contra o Estado Islâmico no Iraque.

    Segundo o serviço persa da BBC, este eixo, marcadamente antiamericano e anti-Israel, é composto principalmente pelo Irão, Síria, grupo Hezbollah no Líbano, milícias xiitas no Iraque, Afeganistão e Paquistão, grupos militantes nos territórios palestino e os Hutis (grupo rebelde do Iêmen).

    Embora o denominador comum destes grupos seja o fato de serem xiitas, tal como a maioria da população do Irão, o eixo também inclui um grupo sunita: o Hamas.

    “O Irão conseguiu ter aliados e representantes no Líbano, nos territórios palestinos, no Iraque, na Síria e no Iêmen. Todos eles são usados ​​pelo Irão para promover seus objetivos políticos”, explica Lina Khatib, diretora do Middle East Institute, com sede em Londres.

    “Mas é preciso fazer uma distinção: estes grupos não são ligados à Autoridade Palestina”, acrescenta a pesquisadora à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

    Em um artigo publicado em 2020 pela BBC News Mundo, Kayvan Hosseini, jornalista da BBC Persa, afirmou que todos estes grupos recebem “apoio logístico, econômico e ideológico” do Irão.

    O arquiteto desta rede de influência iraniana foi Qasem Soleimani, ex-comandante do grupo de elite Quds, da Guarda Revolucionária Iraniana.

    Essa organização é responsável pelas ações militares secretas das forças iranianas no exterior e por meio da qual se articulam os laços de Teeroã com grupos e milícias em outros países.

    Soleimani foi morto pelos Estados Unidos em janeiro de 2020 em um ataque de drone quando saía do aeroporto de Bagdad, capital do Iraque.

    Como o grupo se articula?

    Segundo Lina Khatib, a grande maioria das milícias que compõem o eixo “surgiram de queixas contra as realidades políticas dos seus países”.

    Assim, “eles geraram apoio popular local ao se apresentarem como pessoas que buscavam mudar o status quo para melhorá-lo”, afirma o acadêmico.

    Pouco a pouco, tornaram-se atores políticos importantes, ao ponto de muitos deles terem mais apoio da população do que os seus próprios governos.

    “Estamos falando de grupos extremamente influentes que alcançaram mais poder político do que outros na região”, afirma Khatib.

    Um dos grupos mais antigos, poderosos e bem armados é a organização islâmica libanesa Hezbollah.

    Este movimento foi fundado com o apoio do Irão em 1982 em resposta à ocupação israelita do Líbano, mas desde 2006 também tem um braço político e vem alcançando um papel importante na política daquele país.

    Para Israel, o Hezbollah é uma ameaça muito importante na região.

    Mais recentemente, as guerras na Síria e no Iêmen deram ao Irão a oportunidade de continuar a expandir sua influência no Médio Oriente.

    E o Irão é um dos principais aliados de Bashar al-Assad – membro de uma seita xiita heterodoxa – na Síria. Entretanto, no Iêmen, Teerã apoia o movimento rebelde Houthi, que desde 2015 enfrenta uma coligação liderada pela Arábia Saudita, o grande rival regional do Irão.

    Situação semelhante existe no Iraque, onde o Iroã é aliado de milícias xiitas que lutam contra o Estado Islâmico desde 2014 e se agruparam nas chamadas Forças de Mobilização Popular (PMP), que hoje constituem um ator importante no sistema político daquele país.

    O grupo é importante hoje?

    Para Lina Khatib, hoje a articulação do “eixo de resistência” pode significar uma grande ameaça para Israel.

    “Todos estes grupos são há muito tempo aliados políticos e militares, não só para alcançar objetivos nacionais, mas também geopolíticos para o Irão no Médio Oriente”, explica.

    “Isso significa que se o Irão tomar agora a decisão de coordenar todos esses grupos contra Israel, terá capacidade para o fazer”, acrescenta.

    O próprio ministro das Relações Exteriores iraniano tem afirmado que os líderes dos grupos de resistência “desfrutam de coesão, desenharam os cenários e têm as mãos no gatilho”, segundo declarações recolhidas pela Agência de Notícias da República Islâmica (IRNA).

    Porém, também houve avisos do outro lado do conflito – eles foram claros. Quando questionado sobre a possibilidade de intervenção do Irão ou do seu aliado libanês Hezbollah, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deu um ultimato: “Não façam isso”.

    Nos últimos dias, os americanos enviaram dois grupos de porta-aviões para o Mediterrâneo Oriental com o objetivo de mandar uma mensagem clara: se o Irão e os seus aliados se envolverem no conflito, terão de considerar o poder militar americano, e não apenas o de Israel.

    Certamente, a explosão no hospital em Gaza piorou esse cenário. Por meio de uma declaração pública, o governo iraniano afirmou que o acontecimento representa um “ponto de virada” e que “este crime não ficará sem resposta”.

    Ele também instou os países e grupos que “buscam a liberdade” a se unirem para “fornecer total apoio à resistência do povo palestino”.

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    FonteBBC

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