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    O livro é um ‘corpo estranho’ no mercado angolano

    (Foto: D.R.)
    (Foto: D.R.)

    Os livros estão encaixotados nos armazéns das livrarias e editoras, por falta de procura, sendo boa parte vendida em dia de lançamento. É uma utopia pensar viver da escrita quando livrarias emblemáticas como a Lello estão a fechar.

    O mercado livreiro em Angola tem vindo a registar alguns avanços quanto à produção e ao consumo nos últimos anos. Todas as semanas são lançados livros e o que é feito no país é de boa qualidade, pois existem cada vez mais editoras e gráficas com serviços que em nada ficam a dever ao que que se faz em outros mercados, como é o caso da Dammer, uma das melhores gráficas do país. O que falta, segundo Kiocamba, do Movimento Lev’Arte, «é a cultura de leitura, ainda muito fraca. As pessoas não compram livros de forma constante e isso acontece porque a grande maioria não foi educada para gostar de ler», afirmou ao SOL.

    De acordo com Carmo Neto, presidente da União dos Escritores Angolanos, «os livros ainda são um corpo estranho no mercado angolano». Partilha a ideia de Kiocamba de que «os consumidores de livros fazem-no de forma esporádica», disse também ao SOL.

    É uma utopia pensar em viver da arte de escrever, sobretudo ficção. «Assiste-se a uma maior procura por livros técnicos, facto que está a fazer com que as editoras comecem a mudar a estratégia e apostem nesses projectos, porque são economicamente mais viáveis», disse por outro lado ao SOL o escritor Nguimba Ngola. «Não conseguimos viver da arte de escrever, vendemos mensalmente números muito baixos para conseguirmos viver dos livros», lamentou.

    À semelhança do que está a acontecer com a União dos Escritores Angolanos, as editoras e as superfícies comerciais que trabalham com livros têm grandes amontoados de cópias nos seus armazéns. «Eles são produzidos, mas depois não são vendidos porque são divulgados apenas no dia do lançamento. São vendidas algumas centenas de livros, mas o grosso fica encaixotado», disse Kiocamba, secundado também neste ponto por Carmo Neto. Só as poucas feiras do livro que vão surgindo contrariam esta tendência de falta de promoção.

    «Conforme fazem os músicos, os escritores e as suas editoras deviam fazer campanhas de vendas, ficar em pontos como o Largo da Independência, a Casa da Juventude e ir às províncias. Levar o livro ao consumidor e não esperar o contrário», aconselhou Kiocamba.

    Quanto custa produzir um livro em Angola?

    O preço de um livro varia bastante em função do tipo de material e o número de páginas. Segundo explicou Kiocamba, «ainda continua a ser mais caro produzir em Angola mas, somando o valor do transporte e as taxas aduaneiras a pagar, já faz não muito sentido produzir no exterior». Sublinhou ainda que «a questão da qualidade já não deve ser posta em causa, há boas editoras e gráficas».

    Em média, para produzir 1.000 exemplares de um livro com cerca de 100 páginas, em formato A5, são necessários cerca de 600 mil kwanzas, pouco mais de 5.000 dólares norte-americanos. Os custos é que determinam os preços e nesse formato os livros chegam a ser comercializados ao valor mil kwanzas.

    Nguimba Ngola fez saber por seu turno que normalmente o autor, de acordo com as modalidades praticadas no mercado angolano, fica com pouco mais de 10% das receitas do livro, uma margem que considera bastante reduzida.

    Menos livrarias, mais livros nos supermercados

    Os sítios onde os livros são colocados à venda são outro ‘calcanhar de Aquiles’ para este mercado. Os entrevistados do SOL foram unânimes ao dizer que o problema começa com a logística, pela dificuldade de fazer chegar os livros aos poucos pontos existentes.

    O país possui 18 províncias e algumas delas, senão a maioria, não têm uma livraria sequer. Já são poucas e ainda se assistiu nos últimos dois anos ao encerramento de casas emblemáticas da capital, como foram os casos da livraria Lello e da Nobel.

    O surgimento de novas superfícies comerciais está a minimizar o problema, sendo os livros agora também vendidos em lojas como o Kero ou o Maxi, entre outras. Até nas lojas das bombas de combustível se podem encontrar livros. «Isso tem vindo a ajudar muito os escritores», disseram os especialistas contactados pelo SOL.

    Para divulgar mais as obras dos escritores nacionais, a União dos Escritores Angolanos está à frente de um projecto que prevê inserir em breve algumas obras infantis no sistema de ensino. Hoje mesmo, 30 de Outubro, a UEA está a reunir com boa parte dos escritores do género do país, avançou ao SOL Carmo Neto. (sol.ao)

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