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    Memórias das ( B ) e a Morte de Juka Gurila – ( lll )

    Só vi o ( JUKA GURILA ) uma única vez e logo desconfiei que o matariam!

    Quero antes de tudo por uma questão de respeito aos crentes da minha terra , pedir as minhas sinceras desculpas se por ventura este meu artigo ferir alguma sensibilidade, num momento destes em que muitas atenções estão viradas para o nascimento de Jesus Cristo no dia de Natal.

    INTRODUÇÃO

    O facto de eu ter estado detido os dois anos e poucos repartidos entre a cadeia de S.Paulo e o campo de concentração do Tari na Kibala, não me dá ao direito de deturpar nem manipular os factos históricos sobre os acontecimentos do 27 de Maio de 1977, e por isso, quem achar que minto ou exagero pela forma como conto, por favor que me contrarie provando o contrário.

    HOUVE ALTURAS EM QUE ACREDITEI A CADEIA DE S.PAULO TER SIDO O INFERNO NA TERRA PELA BRUTALIDADE UTILIZADA CONTRA OS PRESOS

    Aliás tinha pensado perguntar ao Reginaldo Silva meu companheiro das masmorras da DISA, que nasceu com o farejo dos acontecimentos, se descrever aquilo como o inferno na terra pela forma como estávamos condenados á dormir, viver e cada um de nós esperando pela hora da sua morte se seria um exagero ou não?

    Pela brutalidade, extrema tortura, instrumentos utilizados já antes fabricados e improvisados que foram utilizados contra os presos, quero mesmo acreditar que aquela cadeia para alem de ter sido uma espécie de local de extermínio, utilizou presos que depois foram mortos como ratos para experiências de laboratórios cubanos ou russos, quem sabe ?

    JUKA AINDA VIVO JÁ TINHA A CABEÇA INFLAMADA E OS OLHOS QUASE JÁ NÃO SE VIAM

    Falar do Juka Gurila exige de minha parte grande controle das minhas emoções para não lagrimar, pois ao recordar-me dele outros tantos nomes de mais velhos e jovens do bairro, grande parte deles já não vivem, alguns mortos de forma estranha, enquanto outros nas frentes de combate e nunca mais seus corpos foram vistos vivos e nem mortos.

    Estou a lembrar-me neste momento dos também famosos e populares do bairro, mais precisamente das ( C ) o Calucha e Vitó dois amigos de dedo e unhas ambos da rua C8, o Lucas da rua C9 e outros tantos, que morreram no famoso massacre do kifangondo .

    Conheci o Juka por ai nos anos 68, era mais da relação do meu irmão mais velho Jaime Longas dada a nossa diferença de idade, ele pertenceu aos famosos do bairro Nelito Soares nas ( B ) que tinham como sua mutamba (ponto de encontro) ainda no tempo colonial o Centro Social de S.Paulo .

    Nunca conheci o seu verdadeiro nome mas era de Juka Gurila, que toda gente o tratava no bairro dado a sua estatura, um cambuta rijo, tipo (galinha cabiri) muito respeitado e considerado por outros jovens e mais velhos do bairro

    Importa já agora fazer aqui uma pequena referencia, enquanto no beco do Tondela no bairro Sambizanga era a mutamba (ponto de encontro) dos ladrões que se consideravão revolucionários como me referi no outro artigo.

    Enfrente ao portão do Centro Social de S.Paulo que já foi um lugar chik para a (PBU) Pequena Burguesia Urbana no tempo colonial, era o lugar onde os mais velhos famosos, entre estudiosos, kotas da surra, aldrabões, engatatões, estilosos que só vestiam roupas de marca, brancos, mulatos e negros se encontravam e estavam ali todos juntos solidários uns com os outros como verdadeiros irmãos, foi bonito vê-los.

    QUASE NÃO RECONHECI O JUKA , TINHA A CABEÇA INFLAMADA O ROSTO REBENTADO POR CHICOTADAS, CORONHADAS E CINTURÕES!

    As atrocidades praticadas pelos homens ao serviço de Agostinho Neto, Ludi Kissassunda, Onambwé, Carlos Jorge, Iko Carreira e outros ultrapassaram todos os limites possíveis, ao ponto que é difícil comparar a maldade com a maldade, a brutalidade com a brutalidade e o perverso com o perverso.

    Para aqueles que não sabiam importa dizer que este mesmo Juka Gurila tinha sido antes também um operativo da mesma DISA, numa altura em que esta policia secreta de Agostinho Neto já não gozava de boa fama e não caia na simpatia do povo, porque afinal não eram todos também pera doce.

    Pois existem também relatos arrepiantes do seu tempo que qualquer dia vou abrir os arquivos onde se falam também de esmagamentos de testículos com alicates entre outros métodos utilizadas para se forçar confissões e não só…

    Fórum Livre Opinião & Justiça

    por Fernando Vumby

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