A medicina tradicional, hoje mais conhecida por medicina natural, tem sido o “acudir” de mais de 50 por cento da população mundial, em relação a saúde. Em Angola, embora o uso de plantas medicinais para o tratamento de algumas doenças vem desde os tempos primórdios, apenas há alguns anos a prática tem sido frequente.
No país, o mercado começou a dar passos maiores com o surgimento de ervanárias e naturopatas, cujo trabalho abriu novas perspectivas de venda e ajudou no surgimento de mais especialistas em medicina natural.
Numa ronda por alguns mercados de Luanda, onde são vendidos produtos de medicina natural, a reportagem do Jornal de Angola constatou que a maioria dos medicamentos são comercializados no mercado informal e alguns sujeitos a exposição solar.
No mercado da Vila de Viana, há uma área só para a venda de produtos de uso ao tratamento de medicinal natural. Mariana Estêvão, uma das vendedoras deste mercado, explica que a procura pelos produto naturais é crescente a cada dia.
Para o naturopata José Nguepe, a venda em mercados informais tem vantagens e desvantagens. Uma das questões mais preocupantes, disse, é a exposição de produtos naturais a temperatura ambiente muito quente, em especial as raízes e folhas, que acabam por perder propriedades.
“Não sou contra a venda de medicamentos naturais nos mercados informais, mas defendo que, deve haver uma regulamentação, assim como maior cuidado com quem vende na rua e expõe os produtos a temperaturas quente, ao ponto de o tornar nocivo à saúde humana”, disse.
A medicina natural, acrescentou, é um mundo vasto que ainda tem muito por se explorar, em especial no domínio da investigação científica. “A medicina natural é parte da cultura angolana. Nalguns países a população recorre a este método curativo de forma acentuada, noutros nem por isso”.
No país, adiantou, existem também algumas localidades em que a medicina natural é parte da cultura local. “Na Huíla, há comunas em que a medicina convencional ainda não chegou. Os medicamentos naturais têm sido a solução”, contou.
O uso da medicina natural no país, destacou, tem ganhado maior aceitação nos últimos anos. “Estamos a trabalhar para dar mais proeminência a essa prática, através de uma base científica”, disse, além de explicar que com a maior divulgação da prática foi possível reverter a imagem do naturopata, ou da medicina natural, como prática associada a feitiçaria.
Venda informal
A venda de produtos naturais é uma realidade concreta, um pouco por todos os mercados informais de Luanda, assim como noutras províncias. A maioria, com base na ronda efectuada, é conservado em más condições.
Para os vendedores, não é errado vender os produtos nestas condições. “Sempre vendemos nessas condições. Não faz mal”, defendem, além de destacar que a venda também é feita em ervanárias e outros estabelecimentos. “É a escolha dos clientes, tendo em conta, também, os preços praticados”.
Enquadramento legal
O naturopata defende a importância de haver um enquadramento do ponto de vista da Lei, com detalhes sobre quem pode vender medicamentos naturais e sob quais condições, assim como os responsáveis pelas prescrições médicas.
“Hoje, o ervanário, cuja função deveria ser limitada, apenas, a venda dos medicamentos, também faz o papel dos naturopatas”, disse José Nguepe, criticando a atitude de muitos vendedores que não consultam, mas indicam os medicamentos a serem tomados.
“O país está numa fase embrionária em relação a medicina natural. Precisamos instruir as pessoas que praticam a venda informal destes produtos, pois apesar de saber que o fazem para garantir o ganha-pão é preciso os explicar sob os perigo à saúde pública a que sujeitam as pessoas”, referiu.
Há medicamentos, esclareceu, que quando expostos a temperaturas muito quentes, perdem as propriedades fundamentais e, devido aos princípios activos da planta, podem se tornar tóxicos. “Algumas plantas têm propriedades que não podem ser associadas a outras, pela composição destas. Muitos vendedores comercializam estes produtos, sem grandes conhecimentos sobre a bioquímica da planta. Já tivemos casos de pacientes vítimas de intoxicação”, expôs.
A par disso, adiantou, também é importante se instruir o público a terem mais cautela na compra de medicamentos vendidos no mercado informal. “É comum receber no consultório pacientes que fizeram medicação com produtos vendidos em locais menos apropriados e, ao invés de melhorar, estavam a piorar”.
Conceito e história dos cuidados de saúde com medicamentos naturais
A medicina tradicional é o conjunto de práticas em saúde desenvolvidas antes do que se classifica como medicina moderna (ou convencional) e ainda hoje são praticadas por diversas culturas em todo o mundo.
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), a medicina tradicional é o total de conhecimento técnico e procedimentos baseados nas teorias, crenças e as experiências de diferentes culturas, sejam ou não explicáveis pela ciência, usados para a manutenção da saúde, como também para a prevenção, diagnose e tratamento de doenças físicas e mentais.
Em alguns países utilizam-se indistintamente os termos medicina complementar, medicina alternativa ou medicina não-convencional e medicina tradicional.
O termo é amplamente utilizado para referir-se aos diversos sistemas de Medicina Tradicional, como por exemplo a chinesa, a ayurvédica hindu, ou a unani – árabe.
O conceito abrange terapias com medicação à base de ervas.
Por Manuela Gomes
