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    Hugo Moutinho, DG Angomart: “O nosso compromisso é também com as comunidades onde estamos”

    O grupo chama-se Noble e nasceu em Angola no ano de 2003, onde actua no segmento do Comércio por grosso e a retalho, além da indústria. Em 2014, criou a insígnia AngoMart, através da qual passou a liderar a notabilidade dos negócios no país.

    Mais recentemente, optou por lojas de proximidade, Freshmart. Até ao momento, só no segmento de retalho possui 70 lojas distribuídas por 14 províncias. Em Luanda são já 43 e nas demais províncias somam até aqui 27 unidades comerciais.

    Ao olharmos para o universo Noble Group, conte-nos o que os motivou e motiva para apostarem nos ramos que elegeram?

    O Noble Group é uma empresa de direito angolano, mas de investimento estrangeiro. Como dissemos nalgum momento atrás, o grupo nasceu em Angola, em 2003 e o seu gestor máximo está desde à data aqui no país. A motivação além da oportunidade de fazer negócio foi ver em como poderíamos participar nos esforços de prover serviços e com a qualidade e experiência de que dispomos.

    Em relação às apostas nos mais variados ramos, vale afirmar que a nossa aposta na Indústria está em vias de ser reactivada, propriamente na indústria de produção de fertilizantes. O compromisso com Angola é tal que, neste momento de pandemia, 95 por cento dos trabalhadores expatriados do grupo não saíram do país.

    A concentração da economia por Luanda não pressiona o plano estratégico do grupo?

    A concentração por Luanda é uma realidade que pouco ou nada podemos fazer. Quem deve ajustar-se é seguramente o operador e não o consumidor. Hoje, o consumidor é mais conhecedor, mais exigente, tem maior domínio dos padrões internacionais. É, por isso, que devemos adaptar-nos a eles e nunca o inverso.

    Há uns anos, tudo que trazíamos ao mercado vendia-se, pois a oferta determinava a procura. Actualmente, é o inverso. É a procura que determina a oferta. Nisso, precisamos demonstrar reactividade ao comportamento do mercado já bastante dinâmico, antecipando-se à sua evolução.

    O AngoMart é o carro-chefe dos negócios ou apenas o que ganhou maior notoriedade?

    O AngoMart é a marca de maior notoriedade e também, desde 2014, é a que impactou de forma mais positiva na vida das nossas comunidades. Queremos ter sempre a melhor relação preço-qualidade e isso fazemo-lo como padrão e promessa com os consumidores. Temos seguido essa visão desde 2014 com as lojas AngoMart, daí serem a referência que hoje representam no universo Noble Group e no mercado da distribuição moderna.

    Há ainda a somar a tudo o que já dissemos o facto de os clientes, nas nossas lojas, poderem viver experiências novas, desde a oferta diversificada de bens e serviços ao ambiente em que as compras acabam por ser feitas. O reconhecimento da marca, pensamos que resulta disso. Logo, não foi objectivo, mas acaba por ser consequência directa.

    A vossa marca é já uma referência na distribuição moderna?

    Somos. Mas, em boa verdade é o consumidor quem decide. Trabalhámos todos os dias e reinvestimos no país como resposta à confiança que sentimos dos consumidores. Por exemplo, nos anos de 2014 e 2015, altura do melhor período da economia nacional, muitos poucos operadores tiveram a visão e a coragem de reinvestir os lucros a pensar no futuro. No nosso caso, foi nesse período em que iniciámos a apostar nas indústrias.

    Os que o fizeram, hoje, ganham mais e estão mais preparados para enfrentar o actual momento. Abrirem-se cinco lojas em ano de crise é um claro sinal de confiança e de avanço. Isso ocorre porque queremos retribuir às comunidades a confiança que elas nos trazem diariamente. Queremos ter um impacto positivo na economia do país e nas comunidades onde estamos presentes. Esta é que é a nossa missão.

    Normalmente, vocês não avançam os valores dos investimentos. Qual a dificuldade de falarem destes números?

    Não há nenhuma dificuldade. É apenas uma política da empresa. Preferimos que a realidade fale por nós. Nenhum consumidor pede-nos o valor dos investimentos (só os jornalistas rsrsrsrsrs). A preocupação que temos é proporcionar a melhor qualidade-preço ao consumidor. Se está satisfeito com isso, também ficamos.

    O mais importante é que o cliente ao comprar, no final, ele mesmo perceba que não lhe ficou mais caro ter optado pelas nossas lojas. Não se trata de fugirmos ao tema, mas importa-nos mesmo muito mais a forma como somos retribuídos pelos consumidores. Mas posso dizer-lhe que investimos muito para formar os funcionários e todas as equipas, só apoiadas com dois expatriados, além da construção de infra-estruturas em si.

    O que ganha um trabalhador da vossa empresa?

    É uma boa questão, mas devo desafiá-lo a ir às nossas páginas nas plataformas sociais do Linkdin, por exemplo, e lá se encontra o salário proposto já na admissão de um funcionário, desde o gerente aos atendedores de caixa. Preferimos tornar clara as regras de jogo. Sabemos que isso não é comum, mas é também opção do grupo.

    Os ordenados saem dos 165 mil kwanzas aos mais de oitocentos mil em função da qualidade ocupacional. Porque queremos uma posição forte no mercado, em todos os segmentos em que estamos, apostámos nas comunidades e nisso é preciso dar um nível de vida adequado e atrair-se ao grupo os melhores quadros nacionais. Tudo isso faz-se com boa remuneração.

    E no campo social o que fazem?

    O facto é que aqui fazemos muito e comunicamos muito pouco. Deveremos ser das empresas, que nessa época de confinamento, terá distribuído mais cestas básicas. Em Junho, por exemplo, fizemos duas acções sociais, juntamente com a União Europeia e fomos limpar a praia, pois investimos bastante na educação, no ambiente e na saúde.

    Nesse mesmo mês, fizemos a remodelação de um orfanato-escola, no Zango, que renovámos completamente as instalações, apenas pouco comunicámos. Fizemos e entregámos aos beneficiários. Este é o nosso orgulho e o nosso compromisso. Também já participamos de uma doação para o Banco Alimentar, assim como associamo-nos aos clamores do Sul de Angola.

    Fale-nos sobre como abastecem as lojas numa fase de restrições nas importações, menos divisas à disposição e um consumo mais elevado…

    As prateleiras vazias não estão associadas às dificuldades de abastecer as lojas. São outros desafios que estejam a enfrentar as referidas marcas, pois, hoje, é possível ter produto para abastecer ao consumidor.

    Para conseguir todas as variedades e competir nos níveis que se pretendem, este momento, de certeza, é mais desafiante nesse aspecto. Hoje em dia, as nossas indústrias e a política de fomento à indústria e à agricultura fazem com que haja sempre mais disponibilidade no mercado local. As duas últimas lojas que abrimos, abastecemos com 60 por cento de produtos locais. Felizmente, a produção interna permite-nos abastecer as nossas lojas. Não devemos nos esquecer que o Noble Group detém sete (7) indústrias em vários sectores.
    Abastecemo-nos por via das nossas indústrias e de todas as demais da cadeia nacional. Quando o permite e nos oferece condições de oferta e no preço e qualidade ajustada às nossas exigências, priorizamos o mercado local.
    90 por cento da fruta e verdura do AngoMart vêm do mercado local. A carne que vendemos é proveniente do Cuanza-Sul (Wuaku Kungo) e Huíla (Lubango). O arroz e a massa, por exemplo, também são abastecidos por produtores locais.

    E em relação aos empregos criados, qual é o vosso ponto de situação?

    Se considerarmos as duas últimas lojas inauguradas em Junho, nas quais criámos 60 empregos no Largo do Ambiente e 150 em Talatona, que totalizam, 210 de postos de trabalho directo e outros 250 indirectos, mais toda as mudanças previstas até ao final do ano que vão proporcionar novos 400 empregos directos e 600 indirectos, podemos afirmar que a nova imagem da AngoMart  traz ao mercado 610 postos de trabalho directo e outros mais de 1.000 indirectos.

    Vale reiterar que temos bastante esperança na recuperação do mercado e por isso mesmo estamos a investir. Actualmente, estamos já com 2.030 funcionários e as estimativas indicam que chegaremos aos três mil. Se considerarmos o Grupo Noble, estamos a falar de perto de cinco mil trabalhadores.

    Onde são formados os operadores das lojas AngoMart e quais os critérios de admissão?

    Tivemos que nos preparar para assegurar o plano de expansão. Para tal, criámos uma escola de formação em Fevereiro deste ano e quando fazemos os processos de admissão, o candidato faz testes de selecção com avaliação básica das aptidões em Matemática e Língua Portuguesa, depois avançamos para um outro nível em que avaliamos a atitude muito mais do que a experiência.

    O que entendemos, nesse processo, é que a experiência pode ser adquirida com o treinamento das equipas dentro dos grupos. Depois disso, os seleccionados fazem formação em dois tempos, sendo uma parte em sala de aprendizado e a outra no terreno. Ou seja, quando admitidos, os que reúnem os requisitos avançam para formação na escola de treinamento e “on job” nas lojas.
    Para quem não cumprir os critérios de admissão, fica-se, pelo menos, com a experiência adquirida nos treinamentos. Dependendo da função de cada um, em média os trabalhadores fazem em média três meses de formação. Aqui é importante referirmos que a formação nesse período já é remunerada.

    No vosso Plano Estratégico, o que está previsto para a construção de novas lojas, províncias, trabalhadores a admitir e o tempo de execução dos mesmos?

    Neste momento, no segmento de retalho, temos um total de 70 lojas, espalhadas por 14 províncias, incluindo Luanda, onde estamos com 47 unidades e outras restantes 27 divididas em 13 províncias. Atendendo à situação do mercado e da economia em si, não perspectivamos novas lojas para as restantes quatro zonas do país onde não estamos representados por lojas, mas que, seguramente, recebem os nossos produtos através de agentes.

    O plano de expansão precisa ser sustentável também para a empresa pelo que, no momento, a nossa concentração é continuar com o crescimento em Luanda. No entanto, vamos remodelar várias lojas na capital e nas restantes províncias. Este ano, estamos só a preparar o futuro, no qual acreditamos. Pensamos no pós-Covid, pós-crise económica, com o retomar do negócio. Nesse sentido, vamos reforçar as actuais unidades.
    Já inaugurámos duas lojas em Junho e teremos, até ao final do ano, mais outras três, na província do Huambo. Vale esclarecer que o que está a ser feito é uma mudança profunda, pois a nossa imagem que era mais de um operador grossista está agora a passar para a de um retalhista, com nova imagem, mais produtos, maior proximidade, qualidade e preço atractivo.
    Além destas cinco inaugurações, ainda este ano, vamos também remodelar cinco lojas, duas das quais em Cabinda e Lubango (Huíla) adaptando e ajustando-as com as exigências actuais.

    Há um tempo, o AngoMart era muito falada por oferecer preços baixos. O que mudou?

    É o consumidor quem manda. Acho que ainda somos o operador com o melhor preço. A nossa promessa foi, é e será a melhor relação preço-qualidade para o consumidor. Ao menos, fazemos tudo para cumprir esse desejo. Nisso, estamos a acrescentar variedade, frescura, proximidade, investindo em marcas próprias e também juntar à oferta marcas internacionais de reconhecida referência.

    Os gestores das lojas são desafiados a ajustarem-se à evolução do mercado, vendo já o país do futuro. Ainda assim, preços baixos e todos os dias é o que nos move. Quem quiser saber, onde pretendemos chegar no futuro, basta ver a nossa loja de Talatona e compreenderá o compromisso do grupo com a economia do país e com a geração de empregos.

    O sector da distribuição queixa-se muito da contrafacção e o dumping. Como encara estes fenómenos?

    A mim me parece que estes factores não estão associados ao sector formal. Acho não ser preocupação do sector formal. É mesmo um não tema para nós. É possível haver dumping, mas os controlos de contabilidade protegem os operadores.

    Há sim o risco de os formais sofrerem destes ataques por parte de grupos inconfessos. A legislação do país protege e a transparência que se exige a cada dia nos actos melhora o desempenho do sector.

    Quais as grandes dificuldades do sector alimentício?

    Estamos preocupados com duas coisas. Somos favoráveis às políticas que fomentem a indústria e a agricultura. Contudo, também preocupa-nos não se perder o objectivo disso tudo: criar empregos, fazer crescer a economia e ter preços competitivos para o consumidor final. E, isso seguramente, poderá privilegiar o produzir localmente em detrimento das importações.

    Não devemos tirar o foco nesse objectivo. Em relação aos preços em alguns sectores, estes podem não baixar por falta de competitividade e de representatividade de determinadas indústrias, pois que o mercado é regido pela lei da procura e da oferta. Por essa razão, quando a indústria nacional não está capacitada para responder à procura, é preciso criarem-se mais facilidades para a importação e continuar-se a garantir a melhor relação qualidade-preço ao consumidor.
    Em mercados mais maduros, como é o caso das bebidas, devido à estruturação destes, o consumidor final beneficia com a qualidade, quantidade e custo da oferta.

    Só para previsar, em que províncias e com que serviços estão presentes com as vossas lojas?

    Até ao momento, estamos presentes, além de Luanda, nas províncias de Cabinda, Zaire, Cuanza-Sul, Huambo, Benguela, Huíla, Uíge, Cuando Cubango,  Bié, Moxico, Lunda-Sul, Lunda-Norte e Malanje, que totalizam 27 lojas.

    Para as outras quatro (4) províncias em falta, designadamente Namibe, Cunene, Bengo e Cuanza-Norte há planos no médio e longo prazos para lá chegarmos. De momento, servimos estas localidades através de agentes/representantes e através das lojas de províncias mais próximas.

    Daqui há 10 anos que AngoMart teremos?

    O mercado nacional é muito dinâmico e de seis em seis meses apresenta muitas alterações. Precisa-se de muita agilidade. O que podemos dizer é que até ao final deste ano, teremos no total 15 lojas, todas já com a nova imagem. E para os próximos três anos, podemos imaginar a abertura de mais cinco ou dez lojas.

    Recentemente, a direcção do grupo esteve em Cabinda…

    Cabinda também é um mercado em que estamos presentes. Apesar da descontinuidade territorial, ainda assim, valorizamos o mercado local e estamos a preparar a remodelação da loja, passando-a do formato actual para uma infra-estrutura do tipo a inaugurada em Talatona (com quatro mil metros quadrados), são só com melhor imagem visual e forma de disposição das prateleiras, mas também com mais diversidade de bens e serviços.

    PERFIL

    Nome
    Hugo Moutinho

    Idade
    47 anos

    País de origem
    França

    Início de carreira
    Há 20 anos no retalho alimentar

    Percurso profissional/empresarial
    Já trabalhou na Alemanha, França, Portugal, Itália e Países Baixos

    Vinda para Angola
    Há 4 anos

    Maiores desafios em Angola
    Fazer crescer as comunidades onde estivermos presentes

    Contributo à economia angolana
    Sou um homem de desafios e por isso vim para cá. Consegui descobrir que aqui se precisa de resiliência e muita agilidade e forte capacidade de decisão

    Como lida com o dia-a-dia?
    Vestido de forma pouco formal e no terreno ver a concorrência, incluindo os mercados informais para ter ideia de preços e da melhor oferta

    Então conhece o Catinton?
    Sim e muito bem. Já fomos ao Catinton, Kwanzas, Mercado do 30, Estalagem, ou seja, vamos a todos os mercados informais, além dos concorrentes, para podermos conhecer a realidade

    Como vê os próximos 10 anos?
    O tempo é de incerteza, mas precisa-se de cada vez mais confiança

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