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    ‘Há algumas denúncias verbais sobre pessoas que não são formadas em medicina veterinária e estão a exercer como tal’

    (OPAIS)
    (OPAIS)

    Comecemos por falar deste congresso, temos já um número de médicos veterinários no país que justifique um congresso com exposições científicas, ou é apenas um congresso ainda para organizar a Ordem?

    Eu penso que quantidade não define a qualidade, não é preciso haver muitos veterinários para se poder organizar um congresso. A realização de congressos insere-se no quadro orgânico da Ordem… o congresso é o órgão máximo que reúne os veterinários. Depois temos a assembleia que é anual, o congresso reúne-se de dois em dois anos… está previsto, tal como os conselhos directivos. De qualquer forma, na Ordem já estão inscritos mais de duzentos e quarenta médicos veterinários.

    O que posso acreditar que se esteja a passar é que as pessoas pensam que só se devem inscrever na Ordem se estiverem a exercer a profissão de veterinários…
    Isto quer dizer que há muito mais que os 240 médicos inscritos?

    Haverá muito mais, estamos à procura. A última assembleia, de Março, deliberou seis meses como prazo de inscrição na Ordem. Depois disso vamos partir para os processos-crime porque há pessoas que estão a exercer ilegalmente a profissão, veremos se sim ou não. Mas se formos a fazer uma análise holística sobre os porquês de alguns profissionais não estarem a exercer a veterinária, se eles se candidataram a um emprego, como licenciados, é porque foram licenciados em algum curso, e se é veterinária é justo que eles estejam inscritos para defenderem uma classe da profissão que sabem exercer.
    A ordem tem alguma ideia sobre se as pessoas que estão a exercer a profissão são, de facto, médicos veterinários?

    Este é um risco que se corre, são exactamente os profissionais da classe que têm que combater isso, inscrevendo-se, para melhor podermos controlar. Não tenha dúvidas que devem existir, e já há algumas denúncias verbais sobre pessoas que não são formadas em medicina veterinária e estão a exercer como tal. Alguns são nacionais, graças a Deus os casos são poucos, e outros não são nacionais, são expatriados.
    Há clínicas em Luanda em que nos deparamos com expatriados a exercer a profissão, não sabemos se são efectivamente médicos porque não estão inscritos na Ordem…

    Não estão.
    E o papel fiscalizador da Ordem?

    A Ordem tem um papel fiscalizador. A Ordem está organizada em três conselhos regionais que são: o Conselho Regional Norte, o Conselho Regional Centro e o Conselho Regional Sul. Destes, o Conselho Regional Norte é o que controla o maior número de províncias porque inclui o Leste. Os conselhos regionais têm este papel. Aqui em Luanda o Conselho Regional tem estado a fazer uma luta titânica para controlar isto. Vai contra nós a falta de pessoal, porque têm que ser os próprios médicos veterinários que assumiram este compromisso na Ordem que têm que estar a ir às clínicas veterinárias. Algumas resistências se vão encontrando e alguns mecanismos nós vamos buscando em função de tais resistências.

    Quando olhamos para o médico veterinário que tem exercício legal estamos a pensar apenas nas clínicas veterinárias para pequenos animais, mas não vamos esquecer a quantidade de quintas, a quantidade de fazendas que este país tem.
    E elas estão cheias de médicos estrangeiros?

    Há muitos médicos estrangeiros que estão…
    Ou supostos médicos estrangeiros, não é melhor dizer assim?

    Sim, os profissionais que lá exercem, nem sei de que profissões, muitos nem estão ligados à saúde, nem à medicina veterinária, nem à pecuária, nem nada que se pareça. As pessoas entram para aqui para vender medicamentos, para fazer farmácias, para fazer pet shops, para venderem produtos para animais e de repente são veterinários.
    O que leva os médicos veterinários angolanos a virarem-se para e educação, alguns para outros serviços administrativos, até no Ministério da Agricultura há imensos “burocratas” veterinários, e para depois termos nas clínicas e no campo médicos, ou supostos médicos estrangeiros… má remuneração, falta de reconhecimento das suas competências, ou apenas algum desencanto com a profissão em Angola?

    Penso que as pessoas quando decidem enveredar por uma profissão, quando tiram um curso superior, têm as suas expectativas. Creio que ninguém tem a expectativa de vir a exercer veterinária e não estar equiparado aos outros profissionais com o mesmo nível, com a mesma licenciatura, etc., pelo menos. O que acontece é que em termos de medicina veterinária não há muitas carreiras aliciantes. O principal empregador dos veterinários até há poucos anos era o Ministério da Agricultura, já não o é. E já não o é porque de repente o profissional descobre que o Ministério da Educação paga mais, que o Ministério do Ensino Superior paga mais, que o Ministério das Pescas paga mais e como um profissional com uma série de valências ele prefere ir para estes ramos onde é melhor remunerado e onde pode encontrar melhores condições de trabalho.

    O Ministério da Agricultura está a fazer um belíssimo trabalho, neste sentido, muito recentemente nos fez chegar um dossier que estamos a analisar, porque temos um Conselho Profissional Deontológico para começarmos a inferir sobre estas carreiras. A medicina veterinária é uma carreira muito bonita que tem uma componente médica e outra técnico-profissional que cria uma série de dificuldades no seu enquadramento. Como exemplo, o Ministério da Agricultura tenta enquadrá-los de acordo com os engenheiros, tem uma componente parecida, mas também, por outro lado, tem que se acautelar a questão médica. Estamos a tentar arranjar um meio-termo para…
    O que pergunto é se não haverá uma contradição quando os médicos veterinários angolanos não encontram motivação para a carreira mas outras pessoas vêm de fora aproveitar as oportunidades e são bem pagos?

    Pode não ser necessariamente isto.
    Os produtores preferem pagar melhor a quem vem de fora?

    Vamos recordar que este país tem apenas uma faculdade de Medicina Veterinária, que está na Universidade José Eduardo dos Santos, no Huambo…

    Mas há um curso novo no Lubango, de Zooveterinária e em que até ministram aulas professores do ISCED.

    Este é outro problema, o Conselho Profissional e Deontológico da Ordem dos Médicos Veterinários de Angola recebeu uma denúncia sobre este curso de Zooveterinária, uma denúncia feita por estudantes do mesmo curso que não conseguem ver definido o seu perfil de saída. Porque ninguém quer fazer um curso para não ter onde trabalhar. A Ordem está a trabalhar nisto, fizemos uma carta à Ordem dos Engenheiros, onde estão enquadrados os engenheiros zootecnistas, e estamos à espera da resposta deles para, de uma forma conjunta, podermos ir constatar in loco o que se está a passar, realmente, com este curso.
    E não se consegue cancelar o curso à partida, para não repetirmos situações como a dos estudantes que no fim do curso descobriram que as suas universidades não estavam legais?

    Estamos a meio do ano lectivo…
    Mas os alunos poderão continuar a ter gastos num curso que não lhes garante nem competências nem saída profissional…

    Isto exige um parecer forte das duas ordens, os engenheiros zootécnicos e os médicos veterinários. Para podermos levar um fundamento consistente ao Ministério do Ensino Superior que o licenciou. Porque as pessoas podem estar a fazer algumas confusões e é preciso apurar. Tem de se apurar a veracidade dos factos. Esta única faculdade que forma médicos veterinários, a do Huambo, conta com apoios e subsídios que vêm do estrangeiro, onde existem várias faculdades e de onde já vieram bons médicos veterinários. Partindo de países, sem querer fazer propaganda, como a antiga União Soviética, Cuba, Brasil, da República Checa e de outros, têm vindo bons médicos veterinários (angolanos incluídos). O problema está em uma pessoa vir de um destes países, chegar e não ter por onde começar, onde ir procurar emprego. Até que você consiga chegar ao dono da fazenda, de certeza que ele também andou à sua procura. É uma questão de coordenação, algumas estruturas temos que ir criando, como os mecanismos para a procura de emprego, para procurar um profissional, tem que se sistematizar um bocadinho mais tudo isso. Porque muitas vezes nos aparecem, mesmo na Ordem, colegas acabados de formar que querem encontrar um emprego e não sabem onde procurar.
    Nem os produtores sabem onde ir buscá-los…

    Não sabem…
    Mas será simples se forem à faculdade recrutar quem está a terminar, ou a estagiar…

    O problema é que o produtor também quer um médico experiente, esta é outra barreira que não conseguimos ultrapassar. O Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social tem as suas políticas, tem os concursos públicos e muitas vezes cria-se uma lista de espera para estes jovens que acabam de chegar. Mas sei que o Governo está estruturar isto e a tentar vencer os tais anos de experiência exigidos, porque senão o jovem nunca vai trabalhar.
    Tudo isto vai ser discutido no congresso?

    Tudo isto e muito mais coisas vão ser discutidas neste congresso do Lubango, de 29 a 31 de Outubro. O congresso é organizado pela Ordem dos Médicos Veterinários de Angola e pela Associação dos Veterinários Africanos. Quis o destino que eles os formulassem este convite. Aceitámos. E assim teremos no Lubango o terceiro Congresso dos Médicos Veterinários Angolanos e o quinto Congresso da Associação dos Veterinários Africanos. Para nossa sorte, o presidente da associação africana é também o presidente da associação mundial de veterinários.
    Isto quer dizer que estão bem entregues?

    Bem entregues. Vamos tentar transformar este congresso num evento histórico, válido e que corresponda ao nosso lema que é: O Médico Veterinário e os Objectivos do Desenvolvimento do Milénio. Que é um desafio que Angola aceitou até 2015.
    Entre estes objectivos estão enquadrados o combate à fome, às doenças, etc. mas ao andarmos por este país não encontramos rastos do médico veterinário nas áreas de exploração pecuária camponesa. As campanhas de vacinação, com os animais em transumância, não permitem um controlo efectivo. Estamos seguros em termos de saúde animal ou temos muito por fazer?

    Muito se tem feito. Muito se vem fazendo, o Ministério da Agricultura tem o controlo disto. Quer seja dos animais em transumância, e o Ministério acabou de assinar recentemente acordos transfronteiriços porque a transumância é inevitável. Se acompanhou o problema do Cunene, da seca, houve seca deste lado e houve seca na Namíbia…
    E o gado adoeceu

    Com animais depauperados, esfomeados, porque houve mais seca na Namíbia e a grande tendência de quererem vender o gado, violando qualquer tipo de norma e passar para o lado de cá. Para além disso, o próprio tipo de pastos obriga muitas vezes os criadores a andar de um lado para o outro. Este povo foi dividido por uma fronteira político-administrativa, na verdade há pessoas entre os criadores que têm familiares no outro lado e vice-versa. Para controlar isso criou-se um corredor com quinze quilómetros de cada lado, que é um espaço em que o gado anda, com o seu criador, e nesta zona os dois países têm a obrigação de garantir a vacinação.
    Outro problema está nas feiras do gado que se realizam agora em quase todas as províncias, quando ouvimos os realizadores a garantir que tudo vai correr bem porque o gado vindo de fora chegou ontem ao porto e amanhã já estará exposto. Onde fica a quarentena e o controlo sanitário? Podemos estar a meter e a leiloar doenças…

    É, alguns erros têm sido cometidos. Eu estive na última feira agro-pecuária do Lubango, fui convidada, até porque existe uma grande parceria entre a Ordem dos Médicos Veterinários de Angola e o Ministério da Agricultura, que se consubstancia também na parceria com o Instituto dos Serviços Veterinários que é o topo do serviço veterinário no Ministério, e temos parcerias com o Instituto de Investigação Veterinária e com a Faculdade de Medicina Veterinária… e fomos convidados para esta feira, como dizia, isto eu vi, realmente, houve animais não vou dizer muito para não direccionar, mas que vieram de fora e que não foram submetidos à quarentena. Estiveram aqui muito pouco tempo, acredito que o risco maior não seja para nós, mas para os animais que vieram.
    Mas haverá uma lei?

    A justificação foi a dos trâmites administrativos para o embarque dos animais, etc.
    Mas é obrigatório? É uma questão de saúde pública.

    É uma questão de saúde pública…
    E nada se deveria sobrepor a isto

    Algumas questões começam a ser detectadas e acredito que sejam dirimidas a curto, médio prazo. Por exemplo, estivemos em França este ano e a Organização Mundial de Sanidade Animal, a OIE, assinou um protocolo com algumas organizações mundiais, entre as quais destaco a Organização Mundial de Saúde, para Uma Só Saúde. Esta “Uma Só Saúde” é para humanos e para animais. Existem normas, o problema é que como em qualquer profissão existem sempre também aqueles que falham, mas chamamos logo a atenção, no momento, para o problema da quarentena. Um dos próximos artigos do Boletim da Ordem dos Médicos Veterinários é exactamente acerca destas falhas de quarentena. Veja os animais de raça fina, animais que nunca estiveram em contacto com esta flora patogénica, os riscos que correm, as perdas que podem advir. E isto que nós vimos aí tem, acontecido também em relação aos criadores de gado.
    Os nossos criadores têm perdido muitos animais?

    Têm perdido muitos animais, exactamente por não respeitarem as quarentenas e movimentarem os animais.
    Há alguma proximidade entre a Ordem e as associações de criadores? É que os médicos queixam-se dos produtores que pagam mal, que querem decidir sobre actos médicos, etc. e nota-se também alguma impreparação do criador, que muitas vezes não sabe no que está metido, mas tem dinheiro.

    Como em qualquer outro ramo, também aqui o empresário, o criador, quer dinheiro, mas como se trata de uma profissão muito bonita o criador, as vezes, acha que também sabe das coisas. É aquilo a que chamo doutor criador. Ao fim de alguns anos ele acha que já viu tudo, já consegue fazer o diagnóstico diferencial. E não é verdade. Porque mesmo o médico veterinário muitas vezes tem de se socorrer de exames laboratoriais…
    Este é outro problema, não temos a investigação veterinária a trabalhar como deve ser.

    Deixe-me continuar. Estamos a estabelecer alguns protocolos. Está em carteira o protocolo de cooperação com a COPLACA, que é a cooperativa dos criadores do Planalto da Camabatela, estivemos recentemente a falar com a sociedade do Huambo. Estamos a tentar parcerias com estas cooperativas e com as sociedades todas, para ver se conseguimos tirar benefícios de parte a parte. Porque a eles também interessa que a prestação do serviço veterinário tenha algumas benesses.
    E a parte do apoio ao diagnóstico, não temos laboratórios funcionais, nem delegacias…

    Temos laboratórios, muitas vezes a cadeia é quebrada pela cultura, a cultura de procurar os serviços do laboratório. Uma questão muito debatida num conselho do Ministério da Agricultura, creio que foi no Cunene, por exemplo, é que vai aparecendo um surto de dermatofilose, uma doença que vai aparecendo nos bovinos e nos cavalos, e o médico veterinário, ou o indivíduo que vende medicamentos, sem análises vai já administrando um antibiótico qualquer, só que, por razões de resistência antibiótica, aquele medicamento pode já não ter o efeito esperado e há recidivas, porque nunca chega a curar. Há que recorrer. Os mais atentos, foi um surto que apareceu na província de Benguela, se não me engano, recorreram ao Instituto de Investigação Veterinária e conseguiu-se provar que o antibiótico que se estava a usar nem sequer era o mais adequado. Mudaram e tiveram resultado. O que acontece é que se passa a palavra ao colega da outra província e ele pega no novo medicamento e vai administrar e pode dar-se o caso de não ser o antibiótico certo para aquele outro efectivo. Nós próprios temos que dar mais vida à rotina do próprio laboratório.
    Em Luanda?

    Os laboratórios regionais estariam também em condições de responder, temos é de os procurar.
    O laboratório do Instituto de Investigação Veterinária de Luanda não parece que possa responder a muita coisa

    A rotina de um laboratório faz-se com a prática, se não recorremos para as análises mais básicas não podemos aspirar ter grandes equipamentos e fazer grandes análises.
    Antigamente havia nas comunidades uma casa para o médico veterinário, e ele tinha um carro para poder percorrer determinadas áreas e ter contacto com a realidade. Isto foi perdido por completo?

    Tínhamos as estações zootécnicas. Se prestar atenção aos números, 240 médicos veterinários, ainda que estivessem todos a trabalhar na produção e com os pequenos animais não seriam suficientes. Socorrem-se sempre de técnicos médios, socorrem-se de técnicos básicos, os vulgos ATPs. Nestes temos de começar a investir na formação. E a Ordem quer pegar nisto. Essas infra-estruturas desapareceram, esta é a fase do reerguer. Existiam infra-estruturas para albergar, e os outros ministérios também tinham … casas para os funcionários, onde as transferências eram obrigatórias, o funcionário conhecia toda a Angola e tinha sempre onde ficar com a sua família. Eu acredito que isto voltará a acontecer, porque lá, fora do asfalto, no meio bem rural, não vamos conseguir o médico veterinário chegar sempre.
    Comemos carne segura em, Angola, da que produzimos?´

    A que produzimos e é abatida nos poucos matadouros que existem, porque ainda temos falta de matadouros, e é inspeccionada por médicos veterinários, tem qualidade.

    Mas sabemos da relutância do criador em desfazer-se de uma carcaça, ele quer dinheiro. Mas imagine, e nisso temos que pensar, que se trata de uma peste, que dizima a criação, o criador quer desfazer-se dos animais vendendo, usando até matadouros “artesanais”. É pegar, abater e começar a vender. Nesta altura, como existe a necessidade de garantir a saúde pública, porque a saúde animal e a saúde pública estão interligas, nestes casos, se houver condições para abater todo o efectivo, tinha de haver formas de indemnizar também o criador. Há que elaborar determinados programas que prevejam condições em que nem o Estado perde tudo, nem o criador perde tudo.
    E temos médicos veterinários a inspeccionar os supermercados e restaurantes, porque nota-se em alguns deles que as condições de acondicionamento de manipulação das carnes não são as mais adequadas?

    Haja braços que garantam a inspecção da carne que é levada à grande superfície, que é levada ao restaurante. Tem que haver mais inspecção, realmente, porque são muitos restaurantes e muitos, se calhar, nem se deviam chamar restaurantes. As condições que ali existem… o Ministério do Comércio,  o Ministério da Hotelaria e Turismo, de princípio também têm médicos veterinários, estes projectos são desses ministérios.
    A raiva é outro aspecto de que se falou muito e de que se fala quando o Hospital Pediátrico de Luanda apresenta publicamente números, mas parece que ciclicamente se vai esquecendo o problema, tal como não se vêem os canis gatis prometidos. Nas campanhas as vacinas estão na rua de manhã até ao cair da noite e pode degradar-se…

    A vacina não é tão termolábil como tal. A luta contra a raiva tem uma comissão interministerial, exactamente no âmbito do “Uma Só Saúde”. Existem muitos organismos a lutar contra a raiva…
    Não a preocupa que a Ordem não esteja na comissão?

    A Ordem é muito nova, apesar de ter dez anos. O problema é a comunicação, uma grande arma que temos de começar a dominar um bocadinho mais, nós. Quem coordena a comissão é o ministro da Agricultura. E não são precisos todos os técnicos na comissão. O grande segredo nesta luta é a prevenção. Nesta altura, do cio das cadelas, começa a preocupação outra vez. A chamada época do cão-louco. Nesta altura há muita mordedura entre cães e no meio deles há os que têm o vírus.

    A Ordem está inscrita na Agência Mundial de Luta contra a Raiva, que trabalha em vários países, tem a experiência da Índia, de Marrocos da África do Sul, eles partilham. Outro segredo, há alguns anos o Presidente da República dizia que um país só é rico quando tiver os seus cidadãos formados, não literalmente assim, mas tem que se começar a formar as pessoas, tem que se educar para a saúde. Cada utente de um animal de companhia tem de saber qual é o seu código de conduta, o que tem de fazer para cuidar dele e garantir que também cuida da sua saúde. Tem que saber que existem zoonoses, que são doenças que passam de animais para as pessoas. No início desta semana vivi um episódio em que alguém me ligou e falava de uma criança no Moxico que tinha sido mordida dois meses antes, não tinha havido vacina humana e que agora apresentava sintomas neurológicos e estavam os profissionais de saúde aflitos a procurar soro para a criança. O que eu disse foi que em função da manifestação de tais sinais o mais provável era que já se tinha perdido a criança.
    Faltou a vacina

    É outro problema, as doses de vacinas anti-rábica humana são suficientes? Porque chegar a este ponto se podemos educar as pessoas a se defenderem da raiva? Se podemos educar o agricultor que tem o cão a fazer turnos de dois dias a tomar conta da lavra, e muitas vezes quando o vai substituir o cão já entrou em lutas contra animais selvagens e já está infectado, porque há muitos animais selvagens que não manifestam a doença mas são reservatórios do vírus. É por aí onde entra o vírus selvagem. Há países que conseguiram erradicar a raiva, mas é preciso educar as pessoas que estão em contacto mais directo para estancar a passagem do vírus selvagem para os animais domésticos, o cão que faz de guarda, o gato.
    E sobre o Congresso?

    As inscrições estão abertas na sede da Ordem, em Luanda. Temos também inscrições abertas nas representações da Ordem em cada província, no Conselho Regional Sul, no do Centro e no do Norte. Temos disponíveis os telefones 924378545, 924378546. E não é preciso ser médico veterinário para participar no congresso. Todas as pessoas de ciência, ou que queiram obter conhecimento e que tenham preocupações sobre a raiva, sobre a forma como as carnes são vendidas, etc. estas pessoas podem participar. Até os que querem saber sobre a criação de animais, etc.
    Vamos tendo notícias de 3 milhões de cabeças de gado no Cunene, etc. mas importamos carne. Também se fala em exportar carne. Andamos a delirar, ou alguma coisa corre mal no consumo da carne angolana?

    Ao invés de exportar, como já se diz, está-se a criar núcleos de criadores em províncias onde tradicionalmente não havia. Isso é positivo. Estamos a povoar, mesmo onde só se caçava.
    Pensa que já é hora de agravar as taxas de importação para valorizar a carne nacional?

    Acho que isso vai acontecer como a Coca-Cola. De repente, o que se bebe é de produção nacional, desculpe a propaganda.

    Há-de reparar que o criador cria para vender, isso passa por componentes antropológicas, questões culturais como esta dos antigos caçadores, passa pelo regime de exploração que deve ter gente com exploração intensiva, pela melhoria de raças e pela união das pessoas… tem, de haver união também entre os veterinários, há os que julgam que são os únicos que sabem, etc. Só aí poderemos falar em grande produção e exportação. O melhor talvez seja travar a grande importação. Já importamos carne de búfalo sem sabermos…
    E os cursos?

    A Ordem é chamada a avaliar os currículos dos cursos. Há que ver o que se ensina e como se forma gente para ter trabalho. Daí a história daquele curso da Huila. Temos de garantir que haja saída profissional e qualidade…
    É um curso que faz ricos?

    O médico veterinário é mais por paixão. É um curso bonito, mas não faz propriamente ricos, embora julgue que as pessoas fazem os cursos porque gostam, não para serem ricas…
    Quais são as queixas do veterinário angolano?

    A falta de carreiras e a má remuneração
    Então o veterinário é pobre?

    Não, é multifacetado. (opais.net)

    Por José Kaliengue

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