O processo aberto ontem em França é histórico, porque é o primeiro do género no país e porque acontece 20 anos depois dos atos que estão a ser julgados.
É difícil, hoje, julgar os responsáveis pelo genocídio no Ruanda. Hoje, tal como em 1994, as provas são poucas, a acusação é feita com base nos testemunhos.
Pascal Simbikangwa, hoje com 54 ans, é acusado de crimes contra a humanidade. No tribunal, é a palavra dele contra a das testemunhas.
“A única pena que tenho é que este processo chegue 20 anos depois. Por outro lado, isso vai dar força, porque 20 anos depois, é preciso que se fale sobre estes factos, nunca os esquecer, combater a banalização”, diz Jean Simon, advogado da associação “Survie”.
Como foi possível, há 20 anos, que se tenha chegado a um tal ponto?
Ao contrário do que se pensa, hutus e tutsis não eram, na origem, etnias, mas sim duas categorias sociais diferentes. Os tutsis eram criadores de gado, pretensamente superiores aos hutus, agricultores.
Com a independência, os papéis invertem-se. Os tutsis deixam o país, mas sonham voltar ao poder assim que o presidente hutu Habyarimana é assassinado a bordo de um avião.
O poder hutu reforça-se e a palavra de ordem é matar o que chamam as “baratas”. As milícias “interahamwe”, treinadas pelas forças armadas, começam um trabalho coletivo de busca, tortura, violações e morte. Entre 800.000 e um milhão de tutsis foram mortos.
Bastaram três meses para cumprir o genocídio. 80% da população tutsi foi dizimada, naquela que foi uma das mais graves catástrofes do século XX.
20 anos depois, cerca de um milhão de pessoas foram já julgadas. As penas, tal como as jurisdições, foram muitas e variadas.
Em 94 a ONU criou o tribunal penal internacional para o Ruanda, com sede na Tanzânia. Dos 100 casos julgados, houve 65 condenações por genocídio e crimes contra a humanidade, incluindo o primeiro-ministro ruandês da altura.
20 anos depois, o Ruanda é ainda um país mortificado por este massacre. Hoje, é proibido a um cidadão ruandês identificar-se como hutu ou tutsi. Ironia da história, hoje são as forças de manutenção da paz do Ruanda que intervêm noutro país a passar por uma grave crise – a República Centro-Africana. (euronews.com)