Quarenta e seis anos dedicados à divulgação, valorização e defesa do país além-fronteiras, por meio da sua criação artística, valeram ao músico Barceló de Carvalho (Bonga) a Medalha de Bravura e do Mérito Cívico e Social, 1.ª Classe, outorgada no âmbito do 43º aniversário da independência nacional.
Dono de uma rica e vasta discografia, Bonga é dos poucos criadores angolanos que, ao longo da sua vida e carreira artística, mesmo com muitos altos e baixos pelo meio, tem dado o melhor de si em prol da angolanidade, usando como arma a voz e a música para levar aos quatro cantos do mundo o nome de Angola e dos angolanos.
Banido no país e exaltado no estrangeiro durante longos anos (tendo sido condecorado pelo governo francês, em 2014, com a insígnia de Cavaleiro na Ordem das Artes e Letras), Bonga, considerado por críticos como sendo o porta-bandeira do semba, ritmo de dança e música tipicamente angolano, recebe, do seu Governo, o devido reconhecimento nunca antes dado ao seu trabalho.
Reconhecido no mercado musical internacional como dono de um reportório artístico que eleva a cultura angolana ao mais alto patamar, Bonga recebe, pelas mãos do Presidente da República, João Lourenço, uma das mais altas condecorações atribuídas pelo Executivo a personalidades políticas, culturais, militares e socais, de um leque em que se destacam, ainda, Viriato Clemente Francisco da Cruz, a título póstumo, com a Ordem da Independência, 1.º Grau, e Liceu Vieira Dias (fundador do agrupamento N’gola Ritmos), também a título póstumo, com a Ordem do Mérito Civil, 1.º Grau.
Quem é Bonga
José Adelino Barceló de Carvalho nasceu em Quipiri, na província do Bengo, a norte de Luanda, em Angola. A família tratava-o carinhosamente por Zeca. A sua infância foi passada em bairros como os Coqueiros, Ingombota, Bairro Operário, Rangel e Marçal. Aí vive-se um ambiente intimista de preservação das músicas e tradições angolanas, marginalizadas pela dominação colonialista presente na época.
O folclore dos musseques (bairros pobres) cedo fascinou o pequeno Zeca e, por isso, começou a frequentar e a participar das turmas dos bairros típicos de Angola, onde iniciou a sua actividade musical.
Foi no bairro do Marçal onde fundou o grupo “Kissueia”. Bonga resolve criar o seu próprio estilo musical, afirmando a especificidade da cultura angolana, numa época muito conturbada.
Carreira musical
Em 1972, na Holanda, lança o seu primeiro álbum “Angola 72”, no qual canta a revolução e o amor à pátria. É por esta altura que Barceló de Carvalho passa a chamar-se Bonga Kuenda. Adopta um nome africano que significa “aquele que vê, aquele que está à frente e em constante movimento”.
Bonga actua pela primeira vez nos Estados Unidos, em 1973, aquando da celebração da independência da Guiné-Bissau, integrado num espectáculo de homenagem à cultura lusófona.
Em Abril de 1974 lança “Angola 74”. Nos anos, 80 torna-se no primeiro artista africano a actuar a solo, dois dias consecutivos no Coliseu dos Recreios (Lisboa), símbolo da música portuguesa, é o primeiro africano “Disco de Ouro” e de “Platina”, em Portugal.
O seu sucesso estende-se para lá das fronteiras lusófonas e Bonga actua no Apolo, em Harlem, no S.O.B. de Nova Iorque; no Olympia de Paris, na Suíça, no Canadá, nas Antilhas e em Macau.
O seu sucesso é resultado de um trabalho árduo, intensivo e metódico e de uma imaginação criativa que caracteriza toda a sua carreira.
A marca Bonga
Bonga cria uma fusão entre a sua pessoa e a música de Angola, tornando-as indissociáveis e tendo como maior estandarte o semba, um ritmo tradicional angolano correspondente ao samba brasileiro, mas precursor deste.
Também interpretou géneros musicais cabo-verdianos, sendo responsável pela roupagem da coladeira “Sodade” para uma morna, 18 anos antes de Cesária Évora a tornar mundialmente famosa.
Prémios
Bonga recebeu inúmeros prémios de popularidade e homenagens relativamente à sua obra, em que conta com distinções várias, medalhas e discos de ouro e de platina.
Tem manifestado inúmeras vezes a sua solidariedade e altruísmo, dando concertos de beneficência para instituições como a MRAR, a Amnistia Internacional, FAO, ONU e UNICEF.
Para além disso, tem participado em CDs como “Em Português Vos Amamos” dedicado a Timor, “Paz em Angola” ou ainda “Todos Diferentes, Todos Iguais”, um marco na luta contra o racismo.
Tem mais de 300 composições da sua autoria, 32 álbuns, seis video-clips, sete bandas sonoras de filmes, e álbuns com inúmeras reedições em todo mundo.
Os seus temas têm sido interpretados por ilustres artistas como, no Brasil, Martinho da Vila, Alcione e Elsa Soares, em França, Mimi Lorca, na República Democrática do Congo, Bovic Bondo Gala, no Uruguai, Heltor Numa de Morais, e muitos artistas angolanos da nova vaga. (Angop)