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    Desemprego: o problema são os jovens activos (ou a falta deles)

    Entre 2008 e 2017, a Europa perdeu 17% da sua população jovem activa (disponível para trabalhar). E é aqui, e não nas dinâmicas de criação de emprego, que segundo o FMI reside a justificação para a diminuição do desemprego jovem.

    A taxa de desemprego jovem na Zona Euro diminuiu mais de cinco pontos percentuais entre 2013 (24,3%) e 2017, ano em que ficou abaixo dos 19%. A notícia podia ser boa, só que esta redução não é resultado de uma maior empregabilidade dos jovens na Europa. É antes o reflexo de um problema maior: a redução pura e simples da população jovem activa (entre os 15 e os 24 anos e disponível para trabalhar) no velho continente. O alerta consta do relatório anual de avaliação à Zona Euro que o Fundo Monetário Internacional (FMI) acaba de divulgar e onde analisa, entre outros parâmetros, a evolução do emprego durante o período de recuperação económica.

    Entre 2008 e 2017, mais de três milhões de jovens perderam os seus postos de trabalho. No mesmo período de tempo, a percentagem de população jovem na zona Euro sofreu uma redução de oito pontos percentuais, enquanto a dimensão da população jovem activa registou uma quebra na ordem dos 17%. “Os resultados mostram que apesar das tendências demográficas adversas continuarem a ser o principal factor de redução da força de trabalho nesta faixa etária, muitos jovens começaram a investir mais na sua formação e prolongaram os estudos, ou integraram o grupo dos ‘desencorajados’ (não estudam, não trabalham e desistiram de procurar emprego), possivelmente como reflexo das fracas oportunidades de carreira”, explica o relatório.
    Menos 3 milhões de jovens activos

    Mas vamos aos números. A população jovem activa na zona Euro começou a diminuir em 2008 e só estabilizou em 2016, com um saldo de menos 3 milhões de jovens. Segundo o relatório, entre 2013 e 2017, o número de jovens desempregados sofreu uma redução de 0,9 milhões, mas só foram criados 0,3 milhões de novos empregos. Contas feitas, 0,6 milhões de desempregados saíram do mercado de trabalho. “Mais de dois terços da redução conseguida, durante este período, no desemprego jovem fez-se com um emagrecimento da força de trabalho” e não com a criação de mais emprego, clarifica o FMI.

    Esta redução da força de trabalho jovem encontra duas justificações, além da demográfica (relacionada com as baixas taxas de natalidade): a diminuição da imigração e o já referido aumento da percentagem de jovens que decidiram apostar na formação, especialmente nos anos imediatamente após a crise. A percentagem de jovens a frequentar o ensino aumentou cinco pontos percentuais entre 2008 e 2017, fixando-se nos 57%. A justificar este aumento poderá estar o facto de grande parte dos empregos criados no período de recuperação económica exigirem sólidas competências técnicas, elevados níveis de qualificação e experiência, levando os jovens a reconhecer que sem investimento na qualificação dificilmente conquistariam boas perspectivas de carreira.
    Part-times aumentaram 10%

    Entre 2013 e 2017 o emprego total na zona Euro cresceu 5,4%. Se analisarmos somente o emprego jovem, o crescimento não foi além dos 3,1%, no mesmo período. Mais de 60% dos empregos criados foram em funções qualificadas em áreas como as tecnologias, finanças, energia e saúde e com exigência de níveis de experiência sólida, excluindo uma parte significativa dos jovens do leque de candidatos. Segundo o FMI, os novos empregos criados para os jovens foram quase exclusivamente part-time. Enquanto as vagas a tempo parcial aumentaram 10% entre 2013 e 2017, o número de empregos a full-time para candidatos mais jovens permaneceu sem grandes alterações.
    Mais vulneráveis e com maior risco de pobreza

    As implicações macroeconómicas de um cenário desta natureza são várias: maior vulnerabilidade contratual, falta de apoios sociais no desemprego e maior risco de pobreza para os mais jovens. O relatório do FMI relembra que “a percentagem de empregos temporários na Zona Euro é elevada quando comparada outras economias e continuou a aumentar após a crise”. E embora o risco de desemprego jovem possa ser superior sem o recurso ao trabalho temporário, “estes contratos colocam numa situação de maior vulnerabilidade os trabalhadores mais jovens”, argumenta o FMI.

    O organismo vai mais longe e recorda que durante o período de crise os critérios de elegibilidade para o acesso a apoios no desemprego foram repensados, e muitos dos jovens desempregados não têm hoje acesso a estes benefícios. Razão pela qual, a percentagem de população jovem em risco de pobreza continua a aumentar na Zona Euro.

    As principais melhorias ocorridas no desemprego jovem no período pós-crise ocorreram na Irlanda, Eslováquia, Lituânia, Letónia e Portugal, onde a taxa de jovens sem emprego diminuiu mais de dez pontos percentuais. Ainda assim, em oito países, o desemprego jovem continua acima dos 20%. Portugal é um deles, com uma taxa de desemprego jovem de 21,5% no primeiro trimestre deste ano.

    Inverter esta tendência exige, segundo o FMI, reformas estruturais profundas que promovam a reciclagem de competências, um sistema de protecção social adequado a um mercado de trabalho em mudança, redução da carga tributária associada ao trabalho, incentivos financeiros a aposta na formação em áreas de elevada carência no mercado laboral e melhoria do ambiente empresarial através da redução da burocracia, de forma a promover uma economia de escala e o verdadeiro mercado único em matéria laborais. (Expresso)

    por Catia Mateus

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