Segunda-feira, Abril 29, 2024
12.3 C
Lisboa
More

    Congresso de magros resultados – Graça Campos*

    Como a generalidade dos cidadãos comuns, o que guardo do VIII Congresso do MPLA, além dos já habituais e inevitáveis rituais de pendor carnavalesco, é o alargamento, para números “extraterrestres”, do Comité Central e do seu Bureau Político.

    Nem com os seus comprovados 90 milhões de filiados, o Partido Comunista Chinês deu expressão tão “sobrenatural” ao seu Comité Central.

    Um amigo, sociólogo de formação, diz que é mais fácil domar um bando de quase 700 almas penadas do que grupos menos de 40 ou 50 indivíduos. Segundo a teoria em que se sustenta esse sociólogo, quanto maiores forem os grupos, maior é a sua heterogeneidade. E vice-versa. Se calhar é nisso que pensaram os “cientistas” que decidiram o alargamento do CC para 693.

    Como a outros cidadãos comuns, a mim também despertou alguma curiosidade a chamada de uma menina de 18 anos para o CC.

    Não é tanto a idade da rapariga que está em causa. São as razões, infelizmente não explícitas. A jovem será um génio, uma sumidade invulgar em alguma área do saber?
    Sem explicação, ponho-me a especular sobre se o CC do MPLA decidiu partilhar com a JMPLA a função de viveiro do partido.

    Outro momento do congresso do MPLA que vai perdurar temporariamente na memória de alguns cidadãos, por inusitado e patético, é aquele em que as senhoras da OMA se voluntariam para ser escudos do partido.

    Como a generalidade dos cidadãos comuns, o que guardo do VIII Congresso do MPLA, além dos já habituais e inevitáveis rituais de pendor carnavalesco, é o alargamento, para números “extraterrestres”, do Comité Central e do seu Bureau Político.
    (DR)

    Secundadas pelo presidente do MPLA, as senhoras disseram-se dispostas a oferecer o corpo às balas.

    Nos partidos modernos não é normal tanta entrega, tanta disponibilidade para servir de carne para canhões.

    Ia o congresso do MPLA nesse rame-rame quando a ENDE, não se sabe por iniciativa própria se em obediência às renovadas “ordens superiores”, decidiu gerar um facto alheio ao congresso, mas com ampla repercussão nos corredores da sala de conferências do MPLA. É que diligentes funcionários da Empresa de Distribuição de Energia fizeram coincidir com o congresso uma diligência à casa do presidente emérito do partido para, ao que alegaram depois, recordar aos seus habitantes a existência de facturas penduradas na tesouraria da empresa.

    O atabalhoado comunicado do Conselho de Administração da ENDE, feito logo a seguir, só adensou as suspeitas de que não foi uma diligência casuística…

    Depois da muita fanfarra e da total ausência de mensagens lúcidas no congresso, a generalidade dos cidadãos acreditaram que o comício do dia 11, que selaria o fim do evento, fizesse luz sobre os propósitos do MPLA em relação ao País.

    Era expectável que, no comício, o MPLA dissesse ao País as razões por que pretende manter-se no poder.

    Mas aquilo que deveria tornar-se num momento de esclarecimento e de convencimento redundou num imenso banho de água fria.

    Historiador de formação, confundiu o palco: perorou abundante e cansativamente sobre o passado do País e, quando se lembrou do presente, disse o que não devia. Caracterizou a fome como fenómeno relativo e quase sugeriu que é uma infâmia dizer que neste País há gente que não come.

    Paulo Pombolo, o reconduzido secretário-geral do MPLA, ainda tenta arrumar em pastas os magros e desconhecidos resultados de um congresso que soube a quase nada quando explodiu no colo do líder um embaraçoso escândalo.

    A carta da ministra das Finanças à Secretaria para os Assuntos Jurídicos e Judiciais do Presidente da República é uma verdadeira denúncia de reiteradas práticas de má gestão do erário por parte do principal gestor público, o Titular do Poder Executivo.

    Em países sérios, a carta-denúncia da ministra das Finanças teria como primeira consequência a renúncia imediata do gestor que usa, recorrentemente, institutos como a contratação simplificada para drenar dinheiro público a favor de amigos.

    Se já não eram famosos, os magros resultados do congresso acabam, agora, completamente diluídos no escândalo que Vera Daves expôs e alguém providenciou a sua disseminação pública.

    Abalado pelo escândalo que atinge em cheio o seu líder, o MPLA está, agora, perante uma hercúlea empreitada: convencer os angolanos de que é merecedor do seu voto de confiança.

    *Jornalista e director do Correio Angolense

    Publicidade

    spot_img

    POSTAR COMENTÁRIO

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

    - Publicidade -spot_img

    ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Contagem regressiva para a Cimeira do Clima COP29, no Azerbaijão, expõe as tensões sobre o financiamento

    Os líderes políticos afirmaram que as conversações da COP29 deste ano se centrarão num desafio que não conseguiram superar...

    Artigos Relacionados

    Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
    • https://spaudio.servers.pt/8004/stream
    • Radio Calema
    • Radio Calema