Líder bloquista navega pela Ria Formosa e entra no mar para conhecer a Companhia de Pescarias do Algarve. Sobre o discurso dos entendimentos deixa o líder da PaF a falar sozinho.
Uma manhã diferente para Catarina Martins e para a comitiva do Bloco de Esquerda (BE). O partido tirou os pés da terra em Olhão e lançou-se ao mar no barco Mar da Armona para conhecer parte do trabalho Companhia de Pescarias do Algarve, uma empresa que se dedica à aquacultura, recolhendo a cerca de milha e meia da costa ostras e mexilhões.
Aquela atividade, como explicou António Farinha (presidente do conselho de administração da empresa), designa-se por aquacultura offshore. Uma expressão de que o BE não gosta, mas que neste contexto aplaudiu. Pelo volume de produção, pela retenção da riqueza no país e pelas práticas ambientalmente sustentáveis daquela sociedade.
A operar desde 1835 e com cerca de 30 funcionários, a Companhia de Pescarias do Algarve, segundo António Farinha, é a maior produtora de bivalves da Península Ibérica. E em 2015, por exemplo, estima faturar dois milhões de euros. O Mar da Armona, esse, tem capacidade para capturar 18 toneladas de mexilhões e ostras em oito horas e recolhe cinco a sete mil toneladas desses bivalves ao longo do ano.
Com uma política de produção amiga do ambiente, “sem alimentos ou fármacos” e permitindo que os bivalves cresçam sem interferência humana, António Farinha conta ainda que quando os mexilhões são recolhidos e não estão no tamanho mínimo são de seguida devolvidos ao mar. Para poderem crescer.
Catarina Martins aplaudiu e fez a apologia de “um país guiado por exemplos deste”. António Farinha retribuiu a simpatia e defendeu que Portugal possa vir a ter “uma mulher ao leme”. Catarina, por que não?
A líder do BE insistiu na importância de empresas como aquela, que contribuem para que “a riqueza criada fique no país” e para que exportemos “produtos que sejam mais bem pagos e permitam melhores salários, salários dignos, salários decentes”.
Depois de o barco atracar no porto de pesca de Olhão, Catarina fez eco das preocupações que o empresário lhe transmitira minutos antes. A burocracia que atrasa e até bloqueia investimentos e a falta de apoios à aquacultura ecologicamente sustentável. E alertou para a “transparência” que deve ser exigida ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) a propósito dos estudos que conduz.
Isto porque António Farinha assinalou que no ano passado foi forçado a parar durante cinco meses por um estudo do IPMA, não divulgado, ter alegadamente detetado toxinas na zona em que habitualmente opera. Porém, o empresário contesta esse estudo, vincando ter outros conduzidos por laboratórios certificados por Bruxelas que apontam noutro sentido.
Após a ação de campanha mais descontraída até este momento, Catarina Martins foi questionada sobre o apelo de Pedro Passos Coelho aos partidos políticos para que não criem “trincheiras” e procurem “consensos” com as demais forças políticas. Por aquilo que depender do BE, o líder da coligação Portugal à Frente (PaF) fica a falar sozinho.
“É possível levar a sério um primeiro-ministro que diz que quer consensos ou alargar conversas a todas as forças políticas quando nem sequer do respeito básico pelo Estado de direito democrático que é conhecer a Constituição foi capaz?”, questionou.
E depois de quase três horas a bordo, voltou a dizer que não embarca num governo com António Costa a qualquer preço. As condições, afirmou, são claras: o PS deve abandonar a ideia de cortar 1660 milhões de euros nas pensões não contributivas, desistir de descapitalização da Segurança Socialo pela via da redução da taxa social única e recuar na proposta de flexibilização dos despedimentos. (dn.pt)