O músico angolano Barceló de Carvalho “Bonga Kwenda” tem previsto quatro shows, nos dias 3, 9,10 e 11 de Setembro, entre França e Portugal, para assinalar o 79º aniversário.
Em declarações à ANGOP, Bonga avançou que fará, durante os 4 shows, numa síntese dos seus sucessos musicais promovidos pelo povo.
Bonga adiantou que os espectáculos estão a ser preparados com alguma dificuldade dadas as restrições impostas pela pandemia da Covid-19, mas promete surpresas, com realce para os convidados.
O considerado embaixador da música angolana, avançou que parte das receitas serão destinadas a instituições de beneficência em Portugal e em Angola.
O artista realçou, em língua nacional kimbundo, faltar o “etu mu dietu”, que em português significa “nós entre nós”, numa clara alusão à necessidade de mais solidariedade entre as pessoas.
Em relação ao actual estado da cultura angolana, Bonga deplorou o facto de não ter os apios necessários, frisando que alguns servem-se dela e deixam-na cair.
Sobre a música angolana, ressaltou que caminha um pouco desajustada da realidade profunda do país, apelando aos mais jovens cantores e aspirantes empenho, procura, coragem e sintonia com a música angolana e seus intérpretes.
Perfil
José Adelino Barceló de Carvalho nasceu em Porto Quipiri, província do Bengo, a norte de Luanda, em Angola. A família tratava-o carinhosamente por Zeca.
A infância foi vivida em bairros como os Coqueiros, Ingombotas, Bairro Operário, Rangel e Marçal. Sempre viveu em ambiente intimista, de preservação das músicas e tradições angolanas, marginalizadas pela dominação colonial presente na época.
O folclore dos musseques (bairros pobres) cedo fascinou o pequeno Zeca e, por isso, começou a frequentar e a participar das turmas dos bairros típicos de Angola, onde iniciou a actividade musical.
Foi no bairro Marçal onde fundou o grupo Kissueia. Bonga resolveu, depois, criar o próprio estilo musical, afirmando-se na especificidade da cultura angolana, numa época muito conturbada.
Carreira musical
Em 1972, na Holanda, lança o seu primeiro álbum “Angola 72”, no qual canta a revolução e o amor à pátria. É por esta altura que Barceló de Carvalho passa a chamar-se Bonga Kwenda. Adopta um nome africano que significa “aquele que vê, aquele que está à frente e em constante movimento”.
Bonga actua pela primeira vez nos Estados Unidos, em 1973, na celebração da independência da Guiné-Bissau, integrado num espectáculo de homenagem à cultura lusófona.
Em Abril de 1974 lança “Angola 74”. Nos anos 80 torna-se no primeiro artista africano a actuar a solo, dois dias consecutivos no Coliseu dos Recreios (Lisboa), símbolo da música portuguesa. É o primeiro africano “Disco de Ouro” e de “Platina”, em Portugal.
O sucesso estende-se para lá das fronteiras lusófonas e Bonga actua no Apolo, em Harlem, no S.O.B. de Nova Iorque; no Olympia de Paris, na Suíça, no Canadá, nas Antilhas e em Macau.
Marca Bonga
Bonga cria uma fusão entre a sua pessoa e a música de Angola, tornando-as indissociáveis e tendo como maior estandarte o semba, um ritmo tradicional angolano correspondente ao samba brasileiro, mas precursor deste.
Também interpreta géneros musicais cabo-verdianos, sendo responsável pela roupagem da coladeira “Sodade” para uma morna, 18 anos antes de Cesária Évora a tornar mundialmente famosa.
Prémios
Bonga recebeu vários prémios de popularidade e homenagens, além de outras distinções, nomeadamente medalhas e discos de ouro e de platina.
Em 2010 foi galardoado com o Prémio Nacional de Cultura e Artes, na categoria de Música.
Em 2014 foi condecorado, pela Embaixada de França em Angola, com a insígnia de Cavaleiro na Ordem das Artes e Letras, e em 2018 o Estado angolano condecorou-o com a Medalha de Bravura e do Mérito Cívico e Social, 1.ª Classe, no âmbito das celebrações do 43º aniversário da independência nacional.
Tem manifestado a sua solidariedade e altruísmo, dando concertos de beneficência para instituições como a MRAR, a Amnistia Internacional, FAO, ONU e UNICEF.
Para além disso, tem participado em CDs como “Em Português Vos Amamos” dedicado a Timor, “Paz em Angola” ou ainda “Todos Diferentes, Todos Iguais”, um marco na luta contra o racismo.
Tem mais de 300 composições da sua autoria, 32 álbuns, mais de 60 video-clips, sete bandas sonoras de filmes, e álbuns com inúmeras reedições em todo mundo.
Suas músicas têm sido interpretadas por outros artistas, com destaque a Martinho da Vila, Alcione e Elsa Soares (Brasil), Mimi Lorca (França), na República Democrática do Congo, Bovic Bondo Gala, no Uruguai, Heltor Numa de Morais, e muitos angolanos da nova vaga.