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    Analistas angolanos dizem que Covid-19 agrava desigualdade social no país

    Após um ano de pandemia da Covid-19, especialistas angolanos consideram que o seu impacto na economia angolana veio apenas destacar as políticas públicas que conduziram o país a uma situação de crise há mais de seis anos.

    O economista José Cerqueira acredita que em todos os sectores da vida social houve uma queda acentuada, embora o Instituto Nacional de Estatística não apresente números, mesmo com o abrandamento na repartição do rendimento nacional.

    “Uma franja da população caiu na miséria e Angola está mal preparada para uma situação como esta, não há associações que distribuam alimentos, vestuário para as pessoas que caíram na miséria. Temos que reflectir na nossa sociedade os modelos de associativismo. Temos esperança que as coisas mudem com a vacina e que as coisas voltarem ao normal”, afirma Cerqueira.

    Em relação à dívida externa com a China, aquele economista acredita que agora é uma boa oportunidade para negociá-la, embora seja preciso rever os mecanismos de contratação de dívidas onde haja maior transparência.

    Todavia, entende que o relançamento da economia deve passar pela alteração da actual política fiscal e monetária visando desagravar a crise agudizada pela pandemia da Covid-19.

    “Enquanto não houver alterações na política monetária e fiscal vai ser difícil desenvolver um ritmo suficiente para absorver jovens que procuram postos de trabalho e reduzir o desemprego no país. Isto levou a uma crise terrível e perturbações sociais em Angola “, garante.

    Políticas integradas precisam-se

    Por seu lado, o coordenador da organização não governamental Acção de Desenvolvimento Rural e Ambiente (Adra), Carlos Cambuta, a par dos efeitos da Covid-19, aponta a estratégia de combate à seca como agravante da situação actual.

    “Precisamos de políticas integradas para acudir as populações que estão a morrer no Sul de Angola”, alerta.

    Já o economista Fernando Heitor, entende que estes problemas reflectem-se em desemprego e diminuição do rendimento disponível das famílias, que estão a conduzir o paísa uma redução do consumo e do investimento, pelo que sugere medidas rápidas e eficazes.

    “No caso de Angola os impactos não foram muitos, se comparado com outros países do mundo. O que mais impacta negativamente é a malária, a fome e a pobreza, sendo que as taxas de tributação estão desajustadas com o contexto económico que o país atravessa. A prestação de serviços públicos é precária, portanto a Covid-19 só veio agravar a situação já existente”, alerta Heitor, quem considera fundamental na estruturação da política macroeconómica a diversificação por via da aposta séria na agricultura, numa revolução verde.

    “Estamos a sofrer porque a agricultura de sequeiro já não é viável em pleno século 21. Há generais com muitas parcelas de terra e que não fazem nada. Precisamos de uma revolução verde”, defende aquele economista que diz ser utopia as previsões de redução da recessão económica.

    Medidas do Governo vs recessão económica
    “Já fomos a terceira maior economia de África e hoje somos a sétima. O mesmo partido no poder, em nenhum país do mundo é possível. Veja o caso do México. Nos tornamos uma economia corrupta e de negociatas. A solução é que haja alternância política, nenhum país consegue trazer mudanças qualitativas com as mesmas pessoas a lidera”, defende o especialista.

    O Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola questiona as medidas do Governo para a diminuição dos efeitos da recessão económica esperada para este ano.

    Sem gravar entrevista, o coordenador do CEIC e professor catedrático da Universidade Católica em Angola, Alves da Rocha, disse à VOA que em Angola “não estão disponíveis informações sobre estas matérias, desconhecendo-se quantas unidades económicas encerrarão em 2020, quanto mais emprego será destruído, em quanto de salário o rendimento nacional será afectado.

    Alves da Rocha refere que esta crise é provocada, simultaneamente, por um choque do lado da oferta e do lado da procura, o que poderá criar uma espiral depressiva, gerando uma grande e persistente recessão.

    “O efeito da oferta é causado pelo risco de contágio dos trabalhadores, fazendo com que haja uma redução da força de trabalho, significando paragem das empresas, interrupções do comércio internacional e rupturas nas cadeias de valor”, acentua o especialista.

    A única instituição que avançou com um estudo sobre os efeitos da Covid-19 e da presente crise foi a Universidade Católica de Angola, tendo estimado uma recessão em 2020 de cerca de 6,8%.

    Mas, alguns empresários, que verdadeiramente, sentem o peso da economia e das dificuldades em fazer a economia acontecer em Angola, têm afirmado que as previsões do CEIC da UCAN são optimistas, colocando essa fasquia em 8%.

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