Ana Silva espera no beco da esperança. O seu sorriso é nadado de lágrima acrílica. E a estrutura pictórica que nos apresenta, desde o passado 23 de Janeiro, no hall do Instituto Camões, é um deslizar de olhares a ver a vida a percorrer a sua frágil metamorfose, enquanto a sombra da memória lava as águas e o sangue, as vestes translúcidas da morte, até aparecer a luz finíssima que sabe sorrir.
Em todo o espaço há lama semovente tecendo rendilhados de cores tão ténues que nunca chegam à tinta. E rostos tragados pela luz queimada, e rostos amenos de imensa piedade, e rostos que sabem respirar o calor das mãos. Toda essa mostra é interpenetrada de acrílico vítreo, é uma alma onde Ana Silva sobrepõe a dor de viver e a esperança de sobreviver, a marca digital de uma longa viagem que, quando chega ao fim, ainda parece começar. Há uma tela com 60 imagens antropomórficas, no mesmo ritmo da cor feérica, entre o nada e o ser.
Depois há quadros onde a pintora já esteve a falar com os kazumbis e a verdade certa, e de onde regressou pela porta do espanto.
Tudo é tão frágil nessa criança nua que ardem pássaros no horizonte da sala e nos cantam ao ouvido, como se a pintura ainda estivesse por nascer neste mundo. (CULTURA-Jornal angolano de Artes & Letras)
Por: José Luís Mendonça