A África do Sul é o primeiro país africano a testar uma vacina britânica contra a pandemia de Covid-19 que já causou a morte de 2.657 pessoas e tem 151.209 contaminações. Em Abril passado dois cientistas franceses avançaram a hipótese do continente africano servir de cobaia para testar vacinas anti Covid-19, o que gerou uma forte polémica e revolta, com o director da OMS, o etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus a denunciar propósitos “racistas” e a “herança de uma mentalidade colonial”.
Longe desta polémica as autoridades sul-africanas já começaram de forma voluntária os testes da vacina anti Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.
A pioneira foi a província de Gauteng, que inclui Joanesburgo e Pretória, as duas cidades mais afectadas pelo novo coronavírus e a instituição responsável pela iniciativa é a Universidade de Witwatersrand.
Segundo a OMS e apesar da sua eficácia não estar ainda comprovada, esta vacina é das mais promissoras entre as cerca de 200 vacinas potenciais em desenvolvimento em todo o mundo, sendo que menos de uma dúzia estão a ser testadas em seres humanos.
O estudo incluirá cerca de 2.000 voluntários no país que tem mais de 150.000 pessoas infectadas pelo vírus Sars-Cov2 que já causou cerca de 2.500 mortes, sendo o país mais afectado pela pandemia em África.
Os participantes incluirão 50 pessoas que vivem com o HIV – Vírus de Imunodeficiência Humana, que causa a SIDA.
Na Universidade de Witwatersrand, os responsáveis pelos ensaios salientaram que este é um passo “importante” para a África do Sul e que participar nos ensaios é uma forma de ajudar a garantir que a África e os países de baixos rendimentos em geral, não fiquem para trás na corrida global por uma vacina.
“Quando participarmos em ensaios, há uma obrigação moral bastante forte de podermos dizer ajudámos a desenvolver, aquilo que esperamos que seja uma vacina bem sucedida e por isso, queremos garantir que as pessoas no país onde a vacina foi desenvolvida, tenham acesso a essa vacina”, disse Helen Rees, directora executiva do Instituto de Saúde Reprodutiva e VIH da Universidade de Witwatersrand.
África ultrapassou a barreira dos 10 mil mortos e tem cerca de 400 mil pessoas infectadas pela Covid-19, segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana esta quarta-feira (1/07) o continente africano regista 10.151 mortos e 404.937 casos, enquanto o número de recuperados é de 192.646.
A África Austral é a região mais afectada do continente com 157.057 contaminações e 2.735 mortos, apesar de o norte de África liderar no número de mortes contabilizando 4.296 e 101.112 infecções.
Testes promissores no Reino Unido
A vacina em questão chama-se ChAdOx1 nCoV-19 e foi desenvolvida por peritos do Instituto Jenner da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
O seu nome vem do vírus ChAdOx1 que lhe serve de base e que provoca uma constipação ou gripe clássica, mas que foi geneticamente modificado, para se tornar inofensivo.
Já foram realizados ensaios promissores no Reino Unido, abrangendo cerca de 4.000 voluntários, mas o impacto decrescente da pandemia nesse país levou os cientistas a procurarem ensaios também noutros Estados.
Assim, para além da África do Sul, a vacina também será testada no Brasil, com quem foi estabelecida uma parceria para a compra de até 100 milhões de doses entre Dezembro de 2020 e Janeiro de 2021 e outro ensaio de ainda maior escala está a ser preparado para os Estados Unidos.
O objectivo é determinar se esta vacina é eficaz em diferentes pontos do globo e se as pessoas com SIDA, particularmente frágeis, podem também ser protegidas.
No mês passado, a empresa farmacêutica AstraZeneca, que chegou a acordo com a Universidade de Oxford para fabricar milhões de doses, afirmou que, se os resultados forem os esperados, a vacina poderá começar a ser comercializada no Reino Unido em Setembro ou Outubro.
No entanto, os peritos internacionais alertam para o facto de que, se uma vacina eficaz for efectivamente alcançada, só poderá ser distribuída a nível mundial em 2021, na melhor das hipóteses.