O historiador guineense Julião Soares Sousa recebeu na quinta-feira, em Lisboa, o prémio Fundação Calouste Gulbenkian, História Moderna e Contemporânea de Portugal, da Academia Portuguesa da História, pelo livro “Amílcar Cabral (1924-1973), vida e morte de um revolucionário africano”.
O livro mostra Amílcar Cabral como um “líder com uma inteligência singular” e também o político “astuto, na forma como interpretava as aspirações do povo da Guiné e de Cabo Verde”, disse à Agência Lusa Julião Soares Sousa, investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XXI da Universidade de Coimbra.
O co-fundador do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), “era um homem integralmente comprometido com as causas justas do mundo, sem ódio nem ressentimentos”, conta o historiador, sublinhando também a “grande capacidade” que Amílcar Cabral “tinha para ‘dar a volta por cima’, mesmo nas circunstâncias mais adversas”.
Editado este ano, o livro resulta de um projecto de investigação iniciado em 1998, suscitado por “um dos acontecimentos mais dramáticos da história recente do meu país, que foi o conflito político-militar de 7 de Junho e que acabaria por durar mais de um ano”, recorda Julião Soares Sousa.
“A opção de estudar Amílcar Cabral na ocasião tinha como objectivo primordial recordar as pessoas de que era preciso recuperar algumas das ideias, ir buscar nele alguma inspiração que ajudasse a Guiné-Bissau a suplantar as crises que estavam a atrofiar o seu desenvolvimento”, explica o historiador.
Naquele período “de dor e de luto”, importava, sustenta Julião Soares Sousa, “recuperar a brilhante ideia” do dirigente africano que “entre um homem que leva uma arma e outro que leva uma enxada, vale mais aquele que leva uma enxada”. Esta ideia de Amílcar Cabral, destacou, “continua actual”. “O espírito militarista ainda prevalece no nosso país”, afirmou.
Fonte: Jornal de Angola
otografia: DR