O próximo sábado, 24 de Outubro, voltará a ser um dia tenso em Luanda. Em contexto de profunda crise económica, desemprego e carências, jovens activistas voltarão a sair às ruas.
Mas desta vez a tensão é um pouco maior, pois a UNITA, cuja “máquina” partidária tem uma capacidade de mobilização efectiva, irá também sair às ruas: “estaremos nessa manifestação que visa pressionar o Presidente da República a clarificar alguns aspectos que não mencionou no discurso sobre o Estado da Nação”, como a data das eleições autárquicas e a “transparência no combate à corrupção”, disse o secretário provincial em Luanda da UNITA, Nelito Ekuikui, à VOA. A Juventude da UNITA (JURA) também já divulgou um vídeo de apoio ao protesto (VER).
Na memória de todos ainda está o caso Edeltrudes Costa – foco há alguns meses de ataques cerrados contra João Lourenço, de quem é “braço-direito” – e, sobretudo, a forma como o regime se tem multiplicado em esforços para retirar dos media qualquer menção aos casos suspeitos que o envolvem, noticiados a partir de Portugal.
Censura que ficou evidente pela “sugestão” a um comentador da TV Zimbo de que não abordasse o assunto na sua crónica semanal – a que o mesmo respondeu demitindo-se.
Um dos organizadores da manifestação de sábado, Benedito ‘Dito’ Dali fundamenta a manifestação nas dificuldades vividas pelos jovens, perante as quais “os dirigentes dizem que não há dinheiro no país (enquanto) assaltam o erário público e o transferem para o exterior”.
Como, adiantou, “é o caso, por exemplo, de Edeltrudes Costa, acusado de ter desviado mais de 20 milhões de dólares das contas públicas”. “Enquanto isso há pessoas a morrerem por falta de comida, por falta de medicamentos nos hospitais, é falta (de) vontade de resolver os problemas dos cidadãos”.
A preocupação do regime torna-se cada vez mais evidente. No passado fim-de-semana, uma manifestação no Huambo contra o “caos social” foi impedida pela Polícia Nacional, segundo presidente da associação cívica Sinédrio, Gabriel Delfino. Mas, segundo este, será remarcada.
A recente visita de Lourenço a Malanje, a 13 de Outubro, foi antecedida das já habituais detenções “prévias” de manifestantes – muito habituais em Cabinda. Um grupo de uma dezena de activistas apresentou esta semana ao sub-Procurador Geral da República local uma queixa por actuação ilegal da Polícia Nacional, que os terá detido preventivamente – e ilegalmente.
Já esta semana, registaram-se motins às portas de Luanda, quando a Polícia tentou desalojar famílias que ocupam a zona do Cacuaco ilegalmente. Os habitantes reagiram com violência à medida tomada pela administração local, com arremesso de pedras contra viaturas particulares, da polícia, que foi chamada a intervir, e dos bombeiros. Colocaram barricadas de pneus a arder no meio da estrada.
No Africa Monitor desta semana analisamos quais as condições que estes movimentos – e outros menos espontâneos – têm para causar perturbações mais sérias. E a eficácia da máquina repressiva – desde as informações até às unidades especiais de polícia, algumas com formação de elite – para controlar uma situação que irá manter-se tensa num período de crise que não tem fim à vista.
Fim, é já seguro dizer, teve a atmosfera conciliadora que Lourenço procurou promover quando chegou ao poder. A 2ª parte do “Lourencismo” é feita de supressão de direitos, de violência, de censura – e de protecção de suspeitos.