Segunda-feira, Maio 20, 2024
13.9 C
Lisboa
More

    ‘Bloqueio interno’, outro grande inimigo da economia cubana

    Em Cuba, sabe-se que seus antigos inimigos da Guerra Fria não são os únicos a lhe causar problemas. Além do bloqueio dos Estados Unidos, a ilha enfrenta travas internas que afectam sua economia.

    Pela primeira vez em seis décadas de Revolução, escreve a AFP, um presidente cubano e militante do Partido Comunista dá um nome à excessiva burocracia para trâmites e investimento estrangeiro, à corrupção no varejo e à importação compulsiva: “bloqueio interno”.

    Em 13 de Julho, diante do Parlamento, o presidente Miguel Díaz-Canel pediu que se trabalhe para “quebrar o bloqueio interno” e exigiu uma “atitude proactiva, inteligente, comprometida e colectiva”.

    “Muito saudável que o presidente se refira às coisas por seu nome e que seja audacioso nas análises dos problemas”, elogia o economista Pavel Vidal, ex-analista do Banco Central de Cuba.

    – Excesso de importação –

    A ilha socialista importa 80% dos alimentos que consome. Segundo o último dado disponível, em 2017, suas importações chegaram a 10,172 biliões de dólares contra 2,402 biliões em exportações.

    O governo americano de Donald Trump intensifica o embargo em vigor desde 1962, com restrições para envios de combustível e ameaças de demandas para os sócios estrangeiros que operam na ilha.

    Para Cuba, tem sido cada vez mais difícil importar e ter liquidez para essas operações. Os bancos internacionais correm o risco de serem multados, se participarem de intercâmbios comerciais com Havana.

    Isso afecta a capacidade de pagamento a fornecedores, complica o acesso ao crédito e gera desabastecimento com alta de preços.

    Díaz-Canel critica “a mentalidade importadora” de Cuba. “Importar acomoda e se transforma em um vício que mata a iniciativa”, alega.

    Estão em andamento oito projectos estatais para impulsionar a produção local de frango e porco. “Por enquanto, a proposta continua sendo concentrada no Estado, um modelo que fracassou por décadas”, disse Vidal.

    O sector estatal funciona com uma moeda supervalorizada. A reforma implica um ajuste na taxa cambial e a eliminação da dupla moeda circulante, além do fechamento de empresas ineficientes, afirma o economista.

    Para Díaz-Canel, subestimou-se o aporte do emergente sector privado, que emprega mais de 590.000 pessoas – em torno de 13% da força de trabalho.

    Por enquanto, as leis que favorecem o sector caminham devagar, provavelmente atravancadas por aspectos ideológicos. Ainda assim, seu reconhecimento na nova Constituição é visto como uma conquista.

    – Chega de lamentos –

    O ministro da Economia, Alejandro Gil, reconhece “deficiências internas”: problemas de produtividade, déficit em investimentos, baixa receita com exportações, desvios de recursos, indisciplinas, travas e burocracia.

    “Como disse o presidente, nós não podemos decretar o fim do bloqueio, mas podemos nos concentrar em resolver os problemas internos”, afirma Gil.

    o analista político cubano Arturo López-Levy, professor na Gustavus Adolphus College, em Minnesota, vê uma mudança de atitude no alto escalão.

    “Esse discurso, no qual o Partido Comunista reivindicava o mérito na sinceridade de anunciar tempos piores, está acabando. O governo tem que anunciar como vai resolver os problemas”, completou.

    Sem sair da retórica revolucionária, Díaz-Canel parece ter isso claro: “Da geração histórica, de Fidel e de Raúl [Castro], aprendemos a deixar de lado o lamento inútil e a nos concentrarmos em buscar saídas”, comentou López-Levy.

    O sucessor dos irmãos Castro deve reformar o sistema económico de viés soviético para evitar uma crise similar à dos anos 1990, conhecida como “período especial”. A crise se deu, basicamente, pela queda da então União Soviética, seu maior sócio comercial. Agora, a economia está mais diversificada e tem outras alternativas.

    “São mudanças possíveis e que o governo pode fazer por si próprio. Não tem que esperar que as condições externas mudem”, considera López-Levy.

    – Como enfrentar a situação –

    Cuba avança lentamente na reforma de seu modelo. Desde Julho, aumentou o salário médio de 30 para cerca de 50 dólares e, esta semana, foram publicadas normas para garantir a estabilidade nos preços e evitar a inflação.

    Especialistas pedem um uso mais eficiente do combustível e a promoção da agricultura urbana. Cuba aposta no desenvolvimento do turismo, um de seus principais motores económicos.

    Para López-Levy, o presidente demonstrou iniciativa e capacidade de trabalho em equipe, sabendo lidar com uma geração histórica que é o farol que guia o país.

    “O problema é que continua à margem dos problemas estruturais, e Cuba não tem todo tempo do mundo”, alerta.

    Publicidade

    spot_img

    POSTAR COMENTÁRIO

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

    - Publicidade -spot_img

    ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Os EUA pretendem remodelar as cadeias de abastecimento globais na Ásia, e a China contorna isso com investimentos em países asiáticos

    Os aumentos tarifários do presidente Joe Biden sobre uma série de importações chinesas são apenas as últimas medidas dos...

    Artigos Relacionados

    Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
    • https://spaudio.servers.pt/8004/stream
    • Radio Calema
    • Radio Calema