1 Mesmo que Angola tenha pretensões, ao mais alto nível político administrativo, de seguir a viragem protagonizada pelo Rwanda, ao instaurar o inglês como língua oficial, mesmo admitindo essa hipótese da governação angolana, atribuir o nome de “Uol Strite” (Wal Street) ao primeiro centro financeiro da cidade de Luanda assemelha-se a uma submissão cultural de Angola à globalização neo-liberal (anglosaxónica) estadunidense.
A notícia avançada pelo Jornal de Angola, na edição de 10 de Setembro, pela voz do presidente do conselho executivo da Sociedade Baía de Luanda, Miguel Carneiro, deixa-nos (est)eticamente arrepiados.
2 Em primeiro lugar, por razões históricas. Se a intenção é glorificar um símbolo da história dos EUA, com a atribuição do nome de “Uol Strite” a um empreendimento em Luanda, apenas estaremos a honrar os que trucidaram os peles-vermelhas (índios) e lhes roubaram as terras para fazer a megalómana nação que é hoje os EUA.
A prestar homenagem à história e à sociedade norte-americana e aos seus valores, seria mais honroso dar o nome desse empreendimento àquele chefe índio, Touro Sentado, que derrotou o general Custer e os soldados facas longas na batalha de Little Big Horn (Pequeno Grande Chifre), em 1876, na região onde hoje fica o estado de Montana. Pelo menos, estaríamos a ser solidários com os autóctones norte-americanos, cuja história de ocupação e de luta se assemelha à nossa.
Em segundo lugar, por razões culturais (linguísticas). Nós, angolanos, herdamos dois patrimónios incontornáveis do Encontro de Civilizações iniciado neste território no século XV. O primeiro é a língua portuguesa. O segundo é o mapa em forma de quadrilátero de um país onde cabem povos de diferentes palavras bantu. A língua portuguesa detém um papel central na comunicação, por isso foi considerada desde a independência nacional, como a língua oficial.
Dar nomes às coisas da nossa terra na língua que fala a Rainha de Inglaterra não será uma espécie de alienação cultural? O Colóquio sobre a Cultura Nacional, que decorreu em Luanda, em Setembro de 2014, realçou “a questão da construção de uma Nação próspera baseada na identidade sociocultural do homem angolano”, e propôs “o uso e a utilização de motivos culturais nacionais em indústrias, instituições e serviços, bem como em todas as áreas da vida e da actividade dos cidadãos (…)”.
3 Nós não somos ingleses. Tão pouco norte-americanos. Temos uma língua oficial, o português, e temos seis grandes línguas africanas capazes de nomear seja que empreendimento for que se erga em Angola. Além disso, temos figuras sociais e históricas que podem conferir, melhor que “Uol Strite”, um nome honroso ao primeiro centro financeiro da cidade de Luanda.
Veio-me, de repente, à memória, Carlos Rocha Dilolwa, guerrilheiro, economista e ministro do Planeamento e Coordenação Económica do 1º Governo de Angola. E ele há outras fontes culturais nacionais ou mesmo da África que serviriam melhor que “Uol Strite” essa intenção toponímica. Sejamos orgulhosamente angolanos. “Uol Strite” não cuia. (jornalcultura.ao)
Com este artigo, o autor representa-me inteiramente, ou seja, revejo-me em absoluto no seu argumento. O capitalismo tem sido uma experiência sócioeconómica muito difícil no nosso País e os Estados Unidos ainda não deram provas em como respeitam e respeitarão a soberania de Angola. Estas são razões bastantes para não nos precipitarmos com elogios ou homenagens à instituições de carácter essencialmente mercantil e que combinam a democracia com o belicismo anacrónico para imporem a sua vontade a outros povos.