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    Serifo Nhamajo seguidor de Lula

    Presidente interino do Parlamento, Serifo Nhamajo assume-se como discípulo de Lula. Diz que “rompeu temporariamente” com o PAIGC e se candidatou à Presidência da República, após uma “reflexão profunda”, em resposta ao desejo manifestado por um grupo influente de militantes do partido e da sociedade civil. No calor da campanha, o político, tido como principal opositor de Carlos Gomes Júnior, falou ao Jornal de Angola na sua residência em Bissau. “Para mim a solução é o diálogo, a inclusão e o respeito pela vida humana. Sem isso o país vai continuar numa estabilidade fictícia”, afirmou Serifo Nhamajo, rotulado como “uma figura moderada, não conflituosa e respeitadora”.

    Jornal de Angola – Quais são as razões que o levaram a romper com o PAIGC?

    Serifo Nhamajo – Quando se abateu sobre a pátria a tragédia da morte do presidente Malam Bacai Sanhá, iniciou-se logo um processo de reflexão entre os militantes. Entre os vários candidatos do partido à Presidência a escolha de um grupo de militantes bastante influente recaiu sobre mim. No entanto, algumas divergências, nomeadamente, em relação ao presidente do partido, fizeram com que a minha candidatura fosse feita nestas circunstâncias. Mas ela foi muito bem acolhida em todas as regiões do país.

    JA – A sua candidatura não constitui uma violação aos estatutos do PAIGC?


    SN –
    Não. Nós temos sensibilidades no partido legalmente autorizadas, mas também temos uma norma no nosso partido que diz que quem quiser fazer uma actividade extra-partidária pode suspender temporariamente as suas actividades. Por norma, um candidato deve estar fora. O candidato à Presidência tem que ser uma figura extra-partidária para poder congregar toda a sociedade. A grande maioria dos militantes do PAIGC dá-me o seu apoio. Por isso, continuamos no PAIGC.

    JA – Sente falta de confiança da parte do eleitorado?

    SN – Não. Felizmente a Guiné-Bissau é um país pequeno e nós conhecemo-nos todos. O trajecto de cada um, o passado de cada um é marcante. Eu sou deputado desde 1995. Quando fui convidado para o governo recusei, porque eu achei que seis meses, um ano, não eram tempo suficiente para fazer alguma coisa no governo. Eu quero estar num sítio onde possa fazer alguma coisa. Sou uma pessoa moderada, não conflituosa e muito respeitadora. Todos me admiram, mas agora estão a dizer que estou a ser empurrado por alguém. Talvez esteja a ser empurrado pela justiça, porque senão não estaria nessa luta.

    JA – Que balanço faz da primeira fase da campanha?

    SN – Surpreendentemente, muito positiva. Tivemos uma grande adesão dos militantes. Deus quis que eu fosse antes disso presidente da comissão que está a trabalhar para a reconciliação nacional. Se eu fosse polémico não estaria à testa dessa comissão.

    JA – O aspecto tribal tem peso nas eleições na Guiné-Bissau?

    SN – Sim. Sabe que no passado foi utilizado este factor. E alguns políticos para serem eleitos utilizam o aspecto tribal, têm tendência em alinhar-se à zona de influência étnica. Mas eu nunca aprovei essa prática. Por isso, quando faço a minha política sinto-me à vontade. O mosaico étnico é a nossa riqueza. Mas se for mal utilizado cria problemas.

    JA – Quais são os principais males de que enferma a Guiné-Bissau?

    SN – A experiência demonstra que é preciso sermos mais tolerantes, dialogantes e eliminar o sentimento de desprezo pelos outros. A política de exclusão é outro elemento muito determinante para a desgraça na Guiné-Bissau. Tem que haver inclusão e um diálogo permanente. Durante os anos que se seguiram a independência houve tentativa de unidade nacional para a formação da nação guineense, mas houve descarrilamento.

    JA – O que se vive agora são as consequências desses problemas graves?

    SN – Com o descarrilamento renasceu um sentimento antigo de divisão para reinar. E essa divisão foi utilizada por alguns sectores para poderem melhor enquadrar-se no topo da hierarquia da Guiné-Bissau. E isso criou vários recalcamentos e a desgraça que se viu depois com a morte de várias pessoas. Por isso é que a Guiné-Bissau está rotulada como o país de vários casos.

    JA – Qual é o estado da Justiça no país?

    SN – A nossa Justiça está debilitada. Não tem recursos, não tem condições de trabalho, não tem autonomia real. Por isso a investigação fica à mercê dos caprichos de certos indivíduos. É um problema muito sério. Portanto, para mim a solução é o diálogo, a inclusão e o respeito pela vida humana. Sem isso o país vai continuar numa estabilidade fictícia.

    JA – Uma eventual vitória sua significa também o triunfo do PAIGC?

    SN – Sem dúvida. A história do PAIGC é uma história nacional. Por isso nós somos e seremos sempre militantes do PAIGC.

    JA – Qual é o seu principal opositor?

    SN – O meu principal opositor é o mal na Guiné-Bissau. Eu quero combater o mal para que a paz reine.

    JA – Como avalia a cooperação com Angola?

    SN – Brilhante. Num momento difícil, Angola assumiu, como país amigo, ajudar a Guiné-Bissau. Se não fosse a intervenção de Angola o processo de reforma estaria comprometido. A formação de quadros no sector de segurança não estaria ao nível da performance que hoje tem. Isto é visto pelos guineenses, realmente, como uma cooperação de irmãos para irmãos.

    Fonte: JA

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