Existe um empenho em resolver-se os problemas mais urgentes da auto-suficiência de bens e serviços para que o país possa paulatinamente reduzir de modo substancial a dependência das importações.
O governador Norberto dos Santos “Kwata Kanawa” enalteceu os esforços empreendidos para o combate à fome e à pobreza, por via do reforço da intervenção no meio rural, com o objectivo de apoio à agricultura familiar e o incremento do comércio a nível da região.
De que forma a província de Malanje está a promover o desenvolvimento e melhorar a qualidade de vida das populações?
Malanje tem um lema, “ Unidos fazemos Malanje acontecer”, na linha do que Sua Excelência o Presidente da República orientou em termos de reforço do diálogo com a população e, para isso, é indispensável a participação de todos os malanjinos. Para que tal aconteça, temos estado a reforçar a importância, a legitimidade e a organização dos Conselhos de Auscultação e Concertação SocialCACS. Neste sentido, o governo da província está preocupado em fazer uma governação presente através de contacto directo com as populações e, também, por via dos órgãos instituídos nomeadamente os Conselhos de Auscultação e Concertação Social (CACS), a nível provincial e municipal, preocupando-se em reforçar a sua importância, legitimidade e organização.
Que ideias os CACS têm dado para o melhoramento da gestão organizativa local?
Como se sabe, esses conselhos, além de estruturas da administração do Estado, integram as várias representações sociais, tais como partidos políticos, autoridades tradicionais, igrejas, organizações da sociedade civil, etc. Através desses órgãos são auscultados os problemas e opiniões que nos permitem tomar em tempo oportuno as melhores decisões para a sua solução e a sua integração na acção do governo provincial.
Temos ainda a preocupação de promover outras formas de organização social como sejam as comissões de pais, agentes comunitários de saúde, comissões de jovens e outras estruturas representativas, às quais vamos dar responsabilidades e meios para exercerem a sua função social.
O desenvolvimento da província de Malanje, à semelhança das demais, subordina-se ao plano nacional de desenvolvimento (PND)?
Com certeza. Para o efeito, foi elaborado o plano de desenvolvimento da província para o período 2013 – 2017, o qual se desdobra em programas anuais que têm como principal suporte financeiro o programa de investimentos públicos (PIP).
Outros programas de grande impacto social e económico integram a carteira do governo provincial, com destaque para o programa municipal integrado de desenvolvimento rural e de combate à pobreza (PMIDRCP), de abrangência multi-sectorial e em execução em todos os municípios da província, assim como os seus principais subprogramas, como por exemplo o Água para Todos (PAT) e os serviços municipalizados de saúde, dentre outros.
O conjunto de acções integradas nesses programas visam em primeira instância conferir uma melhor qualidade de vida às populações, principalmente as mais carentes, no que toca ao acesso aos principais serviços básicos.
Outras orientações, tanto de Sua Excelência o Presidente da República, do Governo central, bem como os compromissos internacionais, como seja as metas do milénio, são também tidas em conta na nossa agenda de trabalhos. É deste modo que o Governo da Província de Malanje tem procurado promover o desenvolvimento e melhorar a qualidade de vida das populações em Malanje.
Poderia enumerar os grandes desafios da sua governação para os próximos três anos?
Vamos dividir esta abordagem em duas dimensões: as questões transversais e, a seguir, os aspectos sectoriais. Relativamente aos aspectos transversais destacamos os seguintes:
1º – Acabar com a visão estreita de cada um preocupar-se apenas com o seu sector, mas procurar que todos os responsáveis, a todos os níveis da província, se sintam integrantes de um processo de governação colectiva, onde todos se preocupam com tudo e são responsáveis por tudo. Paralelamente, fortalecer o relacionamento e a articulação entre os vários órgãos da administração local, entre si, com o aparelho central e com outros actores sociais intervenientes no processo de desenvolvimento. Particular destaque é dado à relação entre as direcções, delegações provinciais e as administrações municipais.
2º – Encarar seriamente as questões de organização interna e reforço da capacidade, de modo a melhorar o desempenho de cada estrutura, responsável ou quadro, no cumprimento da legislação vigente, pondo em prática orientações já existentes que nem sempre são tidas em conta. Um desafio particular neste domínio é o reforço da província em quadros qualificados.
3º – Desenvolver modelos integrados de redinamização da economia local e dos serviços, de modo a estabelecer um ciclo virtuoso e fazer sair da pobreza extrema as zonas mais afectadas, através da criação de empregos e da fixação de pessoas nos municípios. Este desafio tem como foco o reforço da capacidade das administrações municipais, pela sua importância neste processo.
Isso implica dizer que a vida acontece mesmo nos municípios…
Tal como diz Sua Excelência o Presidente da República, engenheiro José Eduardo dos Santos “a vida acontece nos municípios”. Por isso, asseguraremos que tendencialmente sejam para lá encaminhadas as capacidades e os recursos porque, também em Malanje, o município deve ser o coração do desenvolvimento. Para o efeito, temos estado a desconcentrar a nosso nível tudo o que contribua para uma melhor prestação de serviços às populações, porque são elas a razão da nossa existência.
Em relação às questões sectoriais?
Bom, nós elegemos as seguintes: regularizar o aproveitamento das terras cedidas para exploração agrária, tendo em conta que existem várias centenas de milhares de hectares cedidos, que não têm qualquer aproveitamento, pondo em causa a perspectiva de desenvolvimento do sector agro-pecuário, pois inviabilizam qualquer iniciativa da parte de quem realmente quer e pode ser levado a cabo um projecto viável;
Reforçar a intervenção no meio rural, com foco no apoio à agricultura familiar e no incremento do comércio, assim como expandir os serviços bancários aos municípios, tendo em conta a importância e papel da banca no processo de desenvolvimento. Um aspecto particular neste domínio tem a ver com a bancarização dos salários. Aí onde não há estruturas bancárias, os funcionários têm de deslocar-se todos os meses à capital da província para levantar os seus salários, criando problemas de assiduidade e de produtividade no serviço;
Acompanhar e apoiar a instalação do pólos de desenvolvimento industrial e o turístico de Kalandula (PTK). Estes dois projectos representam verdadeiras alavancas para o desenvolvimento da província nos seus domínios específicos.
Também procuraremos melhorar o acesso e a forma de distribuição da habitação social. Este desafio tem particular importância na mobilização e fixação da população em geral e de quadros em particular, nos municípios.
Ainda temos que melhorar as vias de acesso principais, secundárias e terciárias, de modo a facilitar a ligação inter e intra municipal, facilitando outros processos inerentes ao desenvolvimento da província, em particular, e do país, em geral.
Queremos também prestar uma particular atenção à qualidade do ensino primário, pois consideramos ser a premissa fundamental para a qualidade do ensino nos níveis subsequentes. Ainda na mesma senda, consideramos ser imperioso acabar com as crianças fora do sistema de ensino formal em todo o território da província. Estes desafios passam necessariamente pela criação de condições para que os professores, de uma maneira geral, e os das zonas rurais, em particular, melhorem a sua preparação pedagógica e diminuam o seu elevado absentismo.
Em relação à oferta de outros serviços?
Pretendemos aumentar a oferta e o acesso de água potável à população, particularmente a das áreas rurais, tendo em conta a importância deste precioso líquido para o bem estar social, além de aumentar significativamente o acesso da população aos serviços de saúde com a qualidade mínima exigida, de modo a reduzir substancialmente os níveis de prevalência das principais endemias.
Planeamos igualmente continuar o trabalho de reintegração socioeconómica dos grupos vulneráveis, especialmente os antigos combatentes e veteranos da pátria, para que possam sair do limiar da pobreza e viver com dignidade.
Contribuir para o aumento da representação e da influência das mulheres na vida económica e social, prestando uma atenção muito especial aos problemas que mais as afectam, como sejam a violência doméstica, a fraca assistência materno-infantil, a representação nos órgãos de decisão, etc, são outros desafios, além de resgatar a dignidade e dar a necessária responsabilidade às autoridades tradicionais, tendo em conta o seu papel fundamental na ligação entre a administração local e as populações.
Quanto aos objectivos especí ficos centrais definidos no programa do Governo para 2014?
Destacamos a aprovação dos perfis e dos planos de desenvolvimento acção municipais (PDM), enquanto instrumentos fundamentais para o desenvolvimento local; a aprovação, a seu nível, da estratégia de expansão do ensino superior; aprovar e implementar a estratégia de acomodação de quadros nos municípios e comunas, com base nos projectos do programa nacional de urbanismo e habitação (PNUH); disciplinar e regularizar o processo de arrecadação de receitas locais; definição de estratégias, a nível da província, que conduzam à redução dos efeitos nefastos das chuvas e de outras calamidades naturais; interagir com o Ministério da Construção para conclusão do projecto executivo para a construção do centro político administrativo que acolherá, com a devida dignidade, as estruturas do governo local; submeter à aprovação do Chefe do Executivo projecto de construção e apetrechamento da Casa da Juventude de Malanje; aprovar e implementar a estratégia de distribuição de lotes de terreno às populações de baixa renda; assegurar a integração dos aspectos ambientais nos programas e projectos sectoriais de desenvolvimento económico e social, nos termos da lei; aprovar as reservas fundiárias do Estado e fazer a sua demarcação para o controlo efectivo dos solos e assim viabilizar os planos de urbanização em todas as sedes municipais, comunais e localidades; assegurar a implementação dos 11 compromissos para a criança, com base na estratégia de operacionalização já aprovada pelo governo provincial; accionar e fortalecer os mecanismos de controlo da exploração e comercialização dos recursos minerais; aprovar e implementar a estratégia de aumento dos quadros nos sectores da saúde, educação e agricultura através do enquadramento de técnicos formados nas instituições de ensino técnico e ou superior da província, nomeadamente da Faculdade de Medicina, da Escola Superior Politécnica, do Instituto Médio Agrário e da Escola de Formação de Técnicos de Saúde.
Quais os maiores investimentos que estão em execução, em termos de infra-estruturas?
Com suporte no programa de investimentos públicos (PIP) destacamos: o projecto de infra- -estruturas integradas da cidade de Malanje; (sub. central); a construção de 200 fogos em cada município (sub. central); a terraplanagem e tapete asfáltico do troço de ligação mussolo – Kambundi Katembo (Munic. Kamb. Katembo) – gov prov; o desassoreamento do rio Malanje (mun. Malanje) – gov. prov; a construção do Palácio de Justiça Militar (mun. Malanje) – gov. p.; a construção do parque zoológico de Cangandala – (mun. Cangandala); a construção do instituto superior agro-alimentar (mun. Malanje); a construção de 300 casas (mun. Malanje); a construção de 10 escolas do I e II ciclo do ensino secun dário, de grande dimensão; a construção do hospital municipal de Kiwaba Nzoji; a contenção de ravinas em dois bairros da cidade de Malanje; a construção de uma escola do ensino especial; a reabilitação das vias terciárias da província de Malanje, com o kit do plano do Inea provincial (vários muncípios); a construção da ponte sobre o rio Luando (mun. Luquembo) e por fim, a construção das estradas Kalandula/Massango; Quela/Kunda; Malanje/Kiwaba Nziji e Kiwaba Nzoji/Marimba.
Até que ponto a província da palanca negra está a corresponder ao lema: estabilidade, crescimento e emprego?
Por tudo o que foi referido ao longo desta entrevista, podemos dizer que estamos no caminho certo, não obstante as dificuldades e constrangimentos próprios do processo. A paz efectiva que agora comemoramos é o principal suporte da estabilidade que, por sua vez, se transforma na principal garantia para o crescimento e consequente aumento da oferta de emprego. Podemos dizer que a província de Malanje não foge à regra: há paz e segurança em todo o seu território; os projectos são identificados de acordo com as prioridades sentidas e com as iniciativas de cada agente e há um benefício cada vez maior para a população em geral.
Quais os grandes incentivos concedidos aos homens de negócio locais?
Os incentivos ou benefícios ao investimento são matéria da competência dos órgãos centrais do Executivo, nos termos da Lei do Investimento Privado. Cabe à Agência Nacional para o Investimento Privado (ANIP) operacionalizar o processo de recepção, análise e aprovação dentro dos limites estabelecidos na lei, para a atribuição de incentivos.
No que tange à província de Malanje, está prevista a elaboração de um plano estratégico para a captação de investimento privado e criação do guia do investidor e de um órgão de gestão desburocratizada do investimento para a província, tendo como referência o seu potencial, o seu plano estratégico de médio prazo e o plano nacional de desenvolvimento 2013-2017.
A captação de investimento privado de qualidade à altura dos desafios da província é uma das prioridades da governação actual de Malanje.
A situação do país é estável e a paz está a consolidar-se. Acha que Angola já se tornou ou está em vias de ser uma referência económica a nível da África subsahariana?
nos parece que o grande objectivo da nação, nesta fase, seja o de tornar-se uma referência económica. Pensamos até que esse nunca será um objectivo. Tornar-se uma referência económica e não só deverá ser fruto do esforço organizativo e empenho de todos e será alcançada enquanto reconhecimento e não enquanto estatuto. O nosso país está empenhado em resolver os seus problemas mais urgentes que são os da auto-suficiência de bens e serviços, para reduzir de modo substancial a sua dependência das importações. Diversificar a sua economia tal como orienta o Chefe do Executivo, de modo a que as riquezas do petróleo e dos diamantes sirvam para obter “know-how” e tecnologias de ponta ou então se transformem em reservas estratégicas, ao invés de servirem para adquirir bens e serviços que podem ser produzidos no país.
Que contributo a província está a dar para o aumento da diversificação económica?
Como é do conhecimento, a província de Malanje não tem petróleo e por isso não pode depender da economia de enclave. Isso por si só implica que tem responsabilidades acrescidas no que toca a orientar o seu desenvolvimento com recurso no aproveitamento e transformação dos seus recursos e potencialidades. É assim que a província elegeu como prioridade o sector agrário, como básico a indústria transformadora e o turismo como complementares. Naturalmente, a província tem outras potencialidades de origem mineira e geológica que, no entanto, carecem da sua identificação tão logo seja reelaborada a carta geológica de Angola no âmbito do plano nacional de geologia (PLANAGEO). Os empreendimentos agro-industriais de grande vulto, em curso no município de Cacuso e a instalação dos pólos de desenvolvimento industrial e turístico são apenas alguns exemplos.
O programa municipal integrado de desenvolvimento rural e combate à pobreza é o maior programa de inclusão social do país, implan tado em todos os municípios, desde 2012. Que passos foram dados até a esta data?
Como é sabido, esse programa está a ser executado em todos os municípios da província. No que toca aos aspectos relevantes há a destacar o seguinte: a gestão física e financeira é da responsabilidade das administrações municipais; o apoio técnico, supervisão, a monitoria e outros aspectos metodológicos são assegurados pela unidade técnica provincial de combate à pobreza, com suporte do seu secretariado técnico, o qual também se ocupa de aspectos ligados à capacitação dos quadros das administrações municipais.
No que toca à execução do PMIDRCP, são muitas as realizações ao longo destes dois últimos anos, havendo a destacar: a nível das acções integradas no âmbito do projecto municipal integrado de desenvolvimentos rural e combate à pobreza, realçam-se as seguintes: construção de 126 sala de aulas e reparação de 34; a construção de 33 escolas e reabilitação de 18 outras; a construção de 20 residências para professores e de 43 cantinas escolares. Nesse período, cerca de 31.000 crianças foram integradas no sistema formal de ensino.
Relativamente aos serviços municipalizados de saúde foram construídas 21 salas de parto, 31 postos médicos, 10 centros de saúde. No mesmo período, foram também reabilitadas 10 unidades hospitalares, entre centros e postos médicos. Foram ainda construídas 60 residências para médicos e enfermeiros e reabilitadas 11 outras, nos distintos municípios. Em termos de meios e equipamentos, foram adquiridas e distribuídas 153 motorizadas, 22 ambulâncias, 20 viaturas de apoio, 50 bicicletas, 49 unidades arcas de frio e oito geradores eléctricos. Foram ainda instalados 31 sistemas eléctricos fotovoltaicos. No âmbito dos cuidados primários da saúde, foram formados 290 agentes comunitários de saúde e distribuídos diversos equipamentos e meios técnicos. Quanto à componente de reforço institucional realça-se a construção de 40 casas para professores, 9 residências para administradores municipais e comunais e 7 esquadras policiais. Foram ainda instaladas 28 cozinhas comunitárias.
Relativamente ao saneamento básico e água potável, destaca-se a construção de 17 balneários públicos, 273 latrinas comunitárias e 11 aterros sanitários. Foram ainda implantados 37 furos com bombas manuais para abastecimento de água potável, construídas 4 sistemas de abastecimento de água, 26 chafarizes, 17 fontanários, beneficiando directamente 23.100 habitantes; quanto ao domínio da agricultura, comércio rual e pescas destaca-se a distribuição de 21 moageiras, 222 kits diversos (carpintaria, serralharia, construção civil, salão de beleza, etc e a construção de oito armazéns comunitários, dentre outras acções. (jornaldeeconomia.ao)
Por: Mateus Cavumbo