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    Reflexão: À volta do Estado da Nação

    J. CARLOS SILVA Economista (Foto: D.R.)
    J. CARLOS SILVA
    Economista
    (Foto: D.R.)

    Acompanhei, com atenção, os pronunciamentos feitos por entidades e cidadãos comuns, sobre as expectativas que teriam quanto ao discurso do Chefe de Estado Angolano, José Eduardo dos Santos, sobre o Estado da Nação. Antes mesmo do início da sessão parlamentar em que o vice-Presidente da República, Manuel Vicente, viria a representar o Chefe do Executivo sob seu mandato, dei comigo a pensar na necessidade da racionalização das expectativas, tal como defendida pelo pensamento económico do Nobel de Economia em 1995, o americano Robert Lucas.

    Os seus pressupostos assentavam sobre o salário real, o emprego e a inflação, baseando-se na hipótese de que os agentes económicos utilizam toda a informação disponível sobre o comportamento actual e as previsões para o futuro da economia. Com base na experiência adquirida e nas informações disponíveis, antecipam de forma racional, quer as atitudes, quer as políticas futuras do governo, reagindo no presente, em consonância com as expectativas formuladas e anulando, em algum grau, a efectividade dessas políticas.

    A hipótese das expectativas racionais, largamente utilizada na elaboração de modelos e na análise macroeconómica, ao tratar de aspectos do comportamento dos agentes económicos, lida também com o conceito de risco moral, motivando estudos nessa área e influenciando a chamada economia comportamental. O discurso do líder angolano não beneficiou da consultoria técnica do professor Lucas.

    Porém, foi tão feliz na linha de abordagem económica que, quanto a mim, incorporou na perfeição a ideia das expectativas racionais, num modelo de equilíbrio geral e, sobretudo, de antevisão dinâmica. A assertiva técnica que privilegiou, priorizando a análise econométrica da situação e recorrendo à informação disponível, formulou julgamentos comportamentais sobre os preços dos bens e quantidades dos factores de produção, nomeadamente, os quadros humanos, água, electricidade, etc, e perspectivou o futuro do ciclo económico, considerando as expectativas dos cidadãos e demonstrou conhecer devida e efectivamente, apesar de reconhecer a inevitabilidade da contracção do ciclo económico.

    O vice-Presidente apresentou também, à Nação, fundamentos teóricos sólidos sobre a pretendida neutralidade da moeda, no longo prazo, e procurou explicar a correlação entre o produto e a inflação, cuja deterioração tem sido sustentada pela depreciação cambial, induzida pelos choques externos sobre a principal ‘commodity’ – fonte de divisas do país. A abordagem indiciou, claramente, uma opção por um modelo macroeconómico construído como uma versão agregada de modelos microeconómicos, ainda que, observamos, a agregação no sentido teórico, pode não ser possível dentro de um sistema de modelos pré-definidos.

    Estabeleceu também a intenção de reformular a política económica, visando sustentar as relações que parecem verificar-se na economia, como uma aparente ligação entre a inflação e o desemprego, apontando desde logo, as vias para essa alteração. Na orientação macroeconómica, defendeu a prioridade da reanimação da oferta de bens e serviços para recuperar o poder da moeda, o que sugere que as pessoas podem estar a ser iludidas temporariamente, por uma política monetária não sistemática e enfatizou a necessidade de adopção de práticas comportamentais e de consumo, que valorizem a poupança, o investimento e também a diversificação da economia doméstica.

    Antes de terminar de forma enfática, com a tranquilizante afirmação de que, «a boa notícia é que, não haverá recessão em 2016!» – nada mais correcto, se concordarmos que precisamos todos de ultrapassar a barreira psicológica, induzida pela falácia da crise – pois que, nos últimos tempos, generalizou-se entre os angolanos a ideia da crise financeira, decorrente da queda do preço do petróleo, sendo que a maioria dos discursos produzidos por técnicos, ou simples curiosos, ao contrário da esperada produção das melhores soluções adaptáveis ao momento, primam quase sempre pela dramatização da situação, quantas vezes, com argumentos altamente sofríveis.

    O discurso presidencial deixa claro que há condições para a continuidade da execução dos principais projectos económicos e que na dificuldade, perante os desafios que o país enfrenta, deverão ser encontradas soluções ainda mais audaciosas, em demonstração da criatividade positiva que sempre caracterizou os angolanos. (jornaldeeconomia.ao)

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