China, Angola e Brasil podem trazer grandes dores de cabeça ao Terreiro do Paço.
O relatório do Orçamento do Estado para 2016 é claro: as perspectivas de crescimento económico deste Governo enfrentam diversos riscos, sobretudo descendentes. As contas do país, seja o PIB, o défice ou o desemprego, jogam-se cá dentro, mas sobretudo lá fora.
MENOS EXPORTAÇÕES
Uma das principais preocupações do Ministério das Finanças é a degradação do crescimento mundial e da procura externa dirigida à economia portuguesa.
Os maiores receios são o abrandamento mais pronunciado da China, num contexto de transição para um modelo de crescimento com maior enfoque na procura interna, e o agravamento da crise em Angola, num cenário de continuada queda do preço do petróleo.
A China não tem impacto direto nas exportações tão grande como Angola, mas o Ministério das Finanças receia o significativo efeito indireto que pode advir da relevância que o mercado chinês tem para os nossos principais parceiros comerciais, a começar pela Alemanha.
CRISES DE CONFIANÇA
A estabilidade dos mercados financeiros internacionais joga-se na China mas em muitos outros palcos internacionais.
O Ministério das Finanças teme que as incertezas quanto à capacidade de ajustamento da economia chinesa, quanto à trajetória futura das políticas monetárias, quanto às perspetivas de crescimento de outras economias de mercado emergentes, ou quanto à situação geopolítica no Médio Oriente, na Ucrânia e em África provoquem crises de confiança.
O problema são os juros. É que estas alterações súbitas no comportamento que têm determinado a atuação dos investidores (o denominado search for yield) têm impacto nos prémios de risco e na volatilidade dos mercados. A reduzida liquidez dos mercados financeiros, nomeadamente dos mercados secundários de obrigações, poderá contribuir para a amplificação destes efeitos.
MENOS INVESTIMENTO
Metade do investimento direto estrangeiro (IDE) efetuado em Portugal em 2014 veio de Angola, Brasil e China e toda esta instabilidade, sobretudo num contexto de apreciação do euro, pode afetar o fluxo de investimento no nosso país.
Quanto aos investimentos já realizados, o Ministério das Finanças teme que possa haver uma necessidade acrescida de utilizar a liquidez das subsidiárias portuguesas ou os seus ativos como colateral para financiar as empresas-mãe. Quanto ao investimento de Portugal no estrangeiro, 8% e 6% está no Brasil e em Angola, respetivamente, e toda esta instabilidade terá repercussões para as empresas-mãe cá sediadas.
EXPOSIÇÃO DA BANCA
Outro problema para as contas de Centeno pode estar nas exposições diretas e indiretas do sector financeiro nacional à instabilidade dos mercados emergentes.
De facto, a exposição indireta do sector bancário às economias angolana, brasileira e chinesa representa, respetivamente, 19%, 14% e 5% do total de crédito concedido às sociedades não financeiras residentes. O Ministério das Finanças também faz notar um aumento da exposição à economia chinesa, não só por via da aquisição de títulos pelo sector financeiro residente, como também pela participação na estrutura acionista de sociedades portuguesas.
AVERSÃO AO RISCO
De acordo com o Ministério das Finanças, o efeito da manipulação dos testes de emissões por parte da Volkswagen, o impacto da crise de refugiados, o desenrolar do programa de ajustamento da Grécia, o referendo no Reino Unido e as tensões geopolíticas no Médio Oriente, na Ucrânia e em África são fatores que podem ter um impacto negativo na confiança dos agentes económicos e aumentar a sua aversão ao risco.
Para a equipa de Mário Centeno, o clima de elevada incerteza poderá traduzir-se num obstáculo acrescido ao investimento, que desempenha um papel essencial na recuperação económica e financeira dos países da União Europeia.
Outro receio é a redução do preço do petróleo além do esperado. O impacto até pode ser positivo, mas esse tenderá a ser minimizado caso essa redução seja reflexo de uma travagem mais acentuada da economia mundial. Estes desenvolvimentos irão acentuar as dificuldades em economias como a angolana e nos mercados emergentes, afetando negativamente a economia portuguesa, lê-se no relatório do Orçamento do Estado. (expresso)
Por: Joana Nunes Mateus