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    Portal de Angola – Novos Rumos

    Em Julho de 2011 nascia o Portal de Angola, num período em que Angola fazia a transição para um regime democrático e multipartidário. O caminho então percorrido por Angola tinha sido longo e penoso. À luta de libertação nacional, que se arrastou de 1961 até 1975, seguiu-se uma guerra civil sangrenta que durou 27 anos. Outros acontecimentos de importância histórica vieram também enlutar o povo angolano, quando em 27 de Maio de 1977 milhares de jovens angolanos foram barbaramente mortos.

    A revolução estava sedenta de sangue, e a juventude angolana derramou-o generosamente, tendo como palco de fundo a Guerra Fria, que fez com que acreditássemos que as nossas diferenças fossem ideológicas, entre o bem e o mal, entre os defensores da trincheira firme do socialismo em Africa e os lacaios do imperialismo capitalista, amordaçando pelo caminho, com slogans do género ‘um só povo uma só nação’, a riqueza da nossa identidade espelhada na diversidade étnica e cultural do povo angolano.

    Como a narrativa histórica é pontuada por datas, a paz chegou finalmente em 2002, numa data em que povo angolano partilhou da vitória e da derrota. Dos escombros da guerra civil nasceu a esperança de um novo amanhã, um amanhã cheio de promessas em que os tão falados dividendos da paz iriam reflectir-se no desenvolvimento e no bem-estar do povo, num país bafejado por imensas riquezas.

    O processo de transição começou lentamente. Só em setembro de 2008 é que se realizaram as eleições legislativas. Em 2010 foi feita a revisão da Constituição que abriu o processo para as eleições presidenciais de 2012. Muitos angolanos alertaram para o perigo da nova Constituição depositar uma forte concentração de poderes nas mãos do Chefe de Estado, não oferecendo garantias de que, independentemente da sua filiação política, o Chefe de Estado não venha a exercer um poder autocrático. Foi isso o que veio acontecer a seguir às eleições de 2012. A captura do Estado por uma pequena elite e a corrupção gigantesca que se seguiu teve como base uma Constituição que dá ao Chefe de Estado poderes quase absolutos.

    Foi neste contexto de transição difícil que nasceu em 2011 o Portal de Angola sob a iniciativa de Jorge Monteiro, filho do grande nacionalista angolano António Marques Monteiro (Antonico), um dos réus do famoso “processo dos 50” que constitui um marco histórico do nacionalismo angolano.

    Naquela altura, o Portal de Angola assumiu-se como um agregador de notícias, publicando informações de diversas fontes, mas obedecendo a um quadro deontológico rigoroso. Desde o início, o Portal de Angola destacou-se pela qualidade da informação que publicava, abrangendo um grande leque de tópicos e dimensões geográficas, pelo seu caracter isento e apartidário, e pela qualidade do seu design fazendo apelo às mais recentes inovações de comunicação digitais.

    O Portal de Angola tornou-se uma referência em termos de comunicação não só para milhares de angolanos dentro e fora do país, como para milhares de pessoas do vasto mundo lusófono que abrange Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau, Portugal e Brasil, e também para muitos outros pelo mundo fora que se interessam por Angola. Ao longo desse processo o Portal de Angola foi informando com imparcialidade contribuindo, juntamente com outros meios de comunicação, para a formação de uma cidadania consciente dos desafios e oportunidades que se deparam no desenvolvimento de Angola.

    Hoje o Portal de Angola prepara-se para iniciar uma nova fase. Novos parceiros juntaram-se ao Jorge Monteiro e juntos reflectimos sobre o queremos que seja o novo Portal de Angola. Queremos que seja um portal que ofereça um conteúdo próprio em termos de comunicação que corresponda à evolução da sociedade angolana e às suas aspirações.

    O traço mais marcante dessa evolução é o facto de que mais de metade da população de Angola ter nascido após 2002, já no período de paz, e não tem qualquer vivência da guerra civil ou das crises políticas que abalaram a sociedade angolana. A juventude actual não está interessada nos grandes debates ideológicos que marcaram a geração, que é a nossa, da independência de Angola.

    Não porque ela desconheça a história de Angola. Pelo contrário, muitos jovens estão ávidos em conhecer melhor o que se passou. Figuras do passado surgem hoje como referência, guias e mentores da nova geração. Nenhum povo esquece a sua história, ela é apenas reinterpretada à luz dos desafios contemporâneos.

    São esses desafios que distinguem a juventude actual. A juventude está inquieta e em ebulição. De certa forma, os jovens sentem-se defraudados pela geração da independência, pelas promessas não cumpridas, pelo silenciar das opiniões, pela falta de educação e saúde, pelos problemas económicos enormes, pela corrupção endémica e esbanjamento das riquezas nacionais. Algo semelhante se passa noutros países africanos, aonde após décadas de independência a miséria socioeconómica continua ou, mesmo, aumentou e aonde centenas de jovens optaram pela via do radicalismo.

    A juventude angolana está mais interessada por questões de desenvolvimento, bem-estar e realização. A comunicação entre eles e o “establishment” político não é feita na mesma frequência. Os partidos políticos olham para as bases como um elemento passivo a espera que dali saia o voto que lhes permita governar, ao passo que a juventude quer exercer a sua plena cidadania e ter opções de escolha política consoante o grau de participação que lhes é dado na definição do projecto de sociedade e das soluções que vão ao encontro das suas aspirações.

    Outro facto marcante que nos levou a reflectir sobre o que queremos que seja o novo Portal de Angola é o posicionamento de Angola no mundo. Angola é sobejamente conhecida internacionalmente pelos recursos naturais que tem – petróleo, gaz, diamantes, minerais – e pelo seu potencial agrícola. Angola sempre esteve no centro dos interesses geostratégicos mundiais. Foi palco dos confrontos mais marcantes da Guerra Fria; teve um papel determinante na queda do Apartheid na Africa do Sul, e na queda da ditadura em Portugal, ao lado da luta pela independência dos povos de Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Principe. Angola está no centro dos interesses da China em Africa. Mas os angolanos têm beneficiado muito pouco da sua exposição ao mundo.

    Hoje assiste-se a uma recomposição do xadrez geopolítico mundial. A globalização é questionada em nome dos interesses nacionais e regionais. Economicamente a “global chain” está a ser ameaçada de ruptura pela corrida à re-industrialização das grandes economias mundiais e pelo reforço das preferenciais locais e regionais. Os recursos naturais não são só economicamente importantes, eles são sobretudo politicamente estratégicos. Esse novo paradigma obriga-nos a repensar num novo modelo de desenvolvimento económico.

    A nossa reflexão sobre esse tema levou-nos a introduzir por baixo do logotipo “Portal de Angola” a frase “Connecting Angola with the world” para assinalar um processo de comunicação nos dois sentidos de Angola para o exterior e do exterior para Angola. O “exterior” tem para nós várias dimensões. “Connecting Angola with the world” é acima de tudo ligar Angola à sua diáspora pelo mundo fora. É também ligar Angola ao resto do continente africano, ao mundo da lusofonia e ao resto do mundo nas várias vertentes política, económica, social e cultural, criando sinergias e uma convergência de interesses.

    Finalmente, achamos que o Portal de Angola deveria integrar as inovações nas tecnologias digitais de comunicação. Quando o Portal de Angola nasceu, a comunicação digital era utilizada da mesma forma que utilizávamos a TV, saltando de um canal para o outro. Hoje os conteúdos de comunicação digital são cada vez mais integrados oferecendo uma gama vasta de serviços na palma da mão com um simples toque no telemóvel ou na tablete. O cidadão actual atravessa os espaços de comunicação com uma fluidez crescente graças as inovações tecnológicas. As pessoas estão interessadas nos grandes temas, no que se passa no mundo e no país. Mas também estão interessadas no que se passa a volta delas, nos eventos sociais e culturais, nos restaurantes, no desporto, nas novas tendenciais, resumidamente no “lifestyle and trends”.

    Foi com base nessa reflexão que definimos três eixos estratégicos para esta nova fase do Portal.

    Desenvolvimento Sustentável – Com artigos de fundo, analises e entrevistas sobre temas de caracter económico, de negócios e de oportunidades de parceria estratégica, virados para o crescimento económico e para o bem-estar social dos cidadãos. Falaremos muito sobre as políticas publicas como alavanca para promover o desenvolvimento sustentável, atender às necessidades básicas da população e criar igualdade de oportunidades.

    Cidadania e Identidade – Iremos trazer conteúdos de qualidade para contribuir para um espírito de cidadania responsável, conhecedora dos seus direitos e deveres. Não cairemos no sensacionalismo barato, mas também não nos coibimos de denunciar casos de corrupção, má gestão dos fundos públicos ou violação dos direitos dos cidadãos. Falaremos da nossa diversidade étnica e cultural que constituem a grande riqueza do povo angolano. Neste contexto, dedicaremos um espaço específico ao registo histórico.

    Lifestyle & trends (Estilo de vida & tendências) – A nossa relação com o leitor irá também ser diferente. Iremos ligar o leitor ao meio que o rodeia, interagir com ele, dar-lhe a conhecer coisas novas e sobretudo “ouvi-lo”.

    Estamos a trabalhar com entusiasmo no nosso projecto. Vamos manter o leitor informado do progresso e pedimos que nos enviem sugestões. Esperamos que dentro de poucas semanas o Portal de Angola possa aparecer com uma roupagem nova. A nossa ambição é tornar-nos no site mais lido sobre Angola. A referência ao Portal dr Angola continuará a ser uma referência de qualidade e imparcialidade. É a porta que nos dá acesso ao espaço publico aonde cada um de nós poderá exercer plenamente a sua cidadania.

    Bem-vindo ao Portal de Angola.
    -José Correia Nunes
    Director executivo

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    2 COMENTÁRIOS

    1. Todo o inicio é um grande começo, quando estamos a pensar no futuro e é lá que queremos chegar

    2. Todo o inicio é um grande começo, quando estamos a pensar no futuro e é lá que queremos chegar.

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