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    Pedro Mantorras: O herói do Estádio da Luz

    Poucos terão sido os futebolistas com uma relação tão especial com os adeptos do clube que representam como a que uniu Pedro Mantorras aos adeptos do SL Benfica. Mesmo fragilizado, bastava o angolano iniciar os exercícios de aquecimento para que as bancadas do Estádio da Luz, qual vulcão, explodissem de alegria no apoio ao seu herói.

    Nasceu em Angola, no Huambo, em 1982. Era uma época em o país vivia mergulhado numa guerra civil, o que dificultava ainda mais a vida ao menino Pedro e à sua família. Numa tentativa de amenizar o ambiente que lhes rodeava, partiram para Luanda em busca de um pouco de paz e melhor sorte.

    Um dia, quando era criança, Pedro queimou-se por acidente. Esse episódio fez com que lhe chamassem de “Mano Torras” e a alcunha pegou. Foi nas ruas do bairro de Sambizanga, com os amigos, que começou a evidenciar um grande talento para o futebol. Com naturalidade passou a jogar no Progresso de Sambizanga onde deu nas vistas ao ponto de chamar a atenção do FC Barcelona. Viajou até à Catalunha e prestou provas, agradando aos blaugrana. Contudo, o número reduzido de jogadores extracomunitários que eram permitidos encurtou-lhe a estadia em Camp Nou.

    Os clubes portugueses estavam atentos e, após uma experiência em Coimbra, na Académica, o Alverca antecipou-se, ganhando a corrida pelos préstimos de Mantorras, a quem se vaticinava um futuro brilhante. No clube ribatejano teve a oportunidade de se estrear na Primeira Liga portuguesa e mostrou pormenores de craque. Era um avançado rápido, ágil, potente e pleno de potencial. Os holofotes mediáticos viraram-se para si na noite de 17 de fevereiro de 2001 quando o jovem, então com 19 anos, ajudou o Alverca a impor-se ao campeão Sporting numa vitória por 3-1 com uma grande exibição, coroada com um golo a Peter Schmeichel.

    No verão de 2001 Pedro Mantorras assinou pelo Benfica. Luís Filipe Vieira, o homem que o recebera no Alverca, era agora dirigente do clube encarnado. A boa relação estabelecida entre os dois foi importante para a mudança do jogador que tinha sido um dos principais destaques do campeonato anterior, tendo despertado o interesse de clubes de nomeada como o AC Milan. Na Luz, foi recebido em festa pelos adeptos e as comparações com o ‘Pantera Negra’, Eusébio da Silva Ferreira, foram inevitáveis.

    A sua estreia de águia ao peito foi na Póvoa de Varzim. O jovem avançado foi lançado no jogo, tendo sido alvo de uma marcação cerrada, num prenúncio da sua capacidade desequilibradora. O encontro não correu de feição à sua nova equipa. O Benfica empatou e, após a partida, Luís Filipe Vieira lançou um apelo que haveria de ficar célebre: “Deixem jogar o Mantorras!”.

    A temporada não foi feliz para o clube, que foi quarto classificado, nem para Mantorras, que sofreu uma grave lesão no joelho direito e viu travada a sua ascensão. Foi o início de um longo calvário que o iria conduzir a uma prematura retirada do futebol. No entanto, nesses anos dolorosos, revelou uma fibra e uma resiliência que o envolveram numa comunhão muito especial e particular com os adeptos benfiquistas. Apesar das suas notórias debilidades físicas, que lhe retiraram muito tempo de jogo, foi decisivo na caminhada para o título de campeão nacional em 2005 com golos tardios a valerem pontos preciosos. Giovanni Trapattoni lançava-o a partir do banco e o angolano, com a sua determinação e energia contagiantes, galvanizava equipa e adeptos rumo às vitórias.

    Também em Angola foi um símbolo do desporto nacional, tendo integrado a seleção dos Palancas Negras que se estreou em Campeonatos do Mundo em 2006, na Alemanha.

    Depois de anos de luta a tentar debelar os problemas no joelho, Mantorras pendurou as botas em 2011, com apenas 29 anos. Fica a imagem de um jogador que nunca desistiu, nem mesmo perante as adversidades, e que fez milhões de adeptos felizes. Em tempos avaliado em 18 milhões de contos, pode imaginar-se o rumo que a sua carreira poderia ter tomado não fossem as lesões.

    Simione Gourgel

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