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    Para onde vamos, a produzir tanta cerveja?

    NORBERTO CARLOS (Foto: D.R.)
    NORBERTO CARLOS
    (Foto: D.R.)

    Recentemente, a secretária de Estado da Economia, Laura Alcântara Monteiro, anunciou que algumas empresas do sector público vão ter de fechar as portas, por falência. Parecendo ser novidade, a informação da secretária trouxe, apenas, aquilo que todos nós já sabemos. Uma parte significativa das nossas empresas públicas não anda bem.

    O que aquela notícia trouxe de novo, talvez, são as consequências que aí vêm. Entristece-nos o facto de que muitos trabalhadores dessas empresas, provavelmente, irão para o olho da rua conviver com a amargura do desemprego. Para compensar o lado ruim da notícia, vale o velho adágio popular segundo o qual quando uma porta se fecha, outra se abre. Por isso, talvez, a notícia do Expansão da edição nº 283, de 29 de Agosto de 2014, ajude a consolar.

    Até 2017, vão surgir novas indústrias de cerveja. Embora estes investimentos não venham do sector público, a notícia do semanário traz novas esperanças para quem precisa de um emprego. Cerca de 23 mil postos de trabalhos serão criados na indústria cervejeira. Ou seja, quando algumas empresas caem em desgraça outras nascem para compensar.

    Só que, infelizmente, são cervejeiras. Mas, mais do que a importância do investimento em bebidas, a notícia, que saiu na primeira página do Expansão, com o título garrafal Cerveja saca metade do investimento até 2017, trouxe à discussão uma velha questão que tanto se vem debatendo sobre o consumo do álcool e as suas implicações.

    Na verdade, tamanho investimento indica que somos bons consumidores de cerveja, o que, por si só, já justifica tudo. Ao aferir que metade do investimento industrial para o sector alimentar e bebidas, até 2017, vai para a cerveja, o jornal agrega pistas que nos ajudam a entender melhor por que o álcool, e a cerveja, em particular, nos causam tanto mal. Na verdade, 111,5 mil milhões de Kz, a metade de todo o investimento destinado ao sector alimentar, não é nada, se concluirmos que o nosso País precisa mais de alimentos do que de bebidas.

    Mas aquela notícia de capa, lida à primeira vista, requer uma releitura, sentado, para voltar a ler tudo de novo. Este crescimento galopante do investimento no sector de bebidas, que cresce a um ritmo que não pode ser mantido a longo prazo, deve constituir motivo de preocupação, até mesmo para os defensores mais fervorosos do mercado livre.

    Um investimento daquele tamanho num país que ainda se debate com um défice de alimentos, não é lá muito cristão avançar com esta velocidade. Avaliando bem, esta é, talvez, uma forma canhestra de tentar amenizar a ausência de uma indústria à base de matérias-primas nacionais. A questão que se coloca aqui é a de saber para onde caminhamos investindo tanto em cerveja ou em bebidas, no geral.

    Os resultados de tudo isso já se podem adivinhar. Mas vamos esperar para ver lá mais para a frente. Por enquanto, acreditamos que esse investimento é mais uma excepção do que a regra. Os números, e não é a primeira vez que são revelados dados desta natureza, longe de mostrarem a importância económica do investimento, destapa também aquilo que o jornal não diz: somos um povo que toma bem a cerveja! Adoramos o copo. O investimento pode não reflectir isso, mas dá-nos boas indicações. Eles reforçam tudo aquilo que vivemos no dia-a-dia. Um consumismo desenfreado somado à degradação de valores.

    Uma combinação nociva à sociedade. Os acidentes no trânsito, ou os crimes que a polícia relata todos os dias, quase sempre estão associados ou têm alguma motivação ligada às bebidas alcoólicas.

    Os dados podem não dizer tudo, mas mostram que comemos pouco e bebemos demais. Não nos alimentamos. Embora haja, no ar, uma ponta de receio e impulsos contraditórios que desautorizam qualquer generalização ou associação directa, o consumo de bebidas alcoólicas deve ser travado. Porque, a serem consumidas desregradamente, como temos vindo a observar, fica cada vez mais difícil visualizar a forma como deveremos cultivar a moralidade social para o nosso bem e das futuras gerações.

    Investir tanto em bebidas alcoólicas pode indicar uma afeição nossa à cerveja. Porque, aqui, tomar uma cervejinha fica mais barato do que beber uma água. Então, já que a grana escasseia, que tal optar pelo mais barato! O que nos preocupa mais, e é grave, é estimular o consumo. Não é tanto o que se vai investir em bebidas, ou o agravamento das tarifas sobre as bebidas importadas. O que não podemos permitir é que a água mineral produzida no Pais, seja mais cara que a cerveja, cuja produção, se supõe, é mais complexa. (expansao.ao)

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    1 COMENTÁRIO

    1. Esta é uma questão que deve ser debatida de forma muita séria, caso queiramos ver melhorada a nossa sociedade.
      Fala-se do combate à sinistralidade rodoviária, à criminalidade, à violência doméstica entre outras mazelas, que muitos desses casos têm como causa o uso abusivo do álcool. Mas, o mais inusitado é que alguns elementos do executivo e não só, contribuem para o agravamento de tal situação inaugurando mais fábricas de cerveja.
      Afinal, para onde vamos?

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