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    O Estado da Nação

    É importante que saibamos o que é e o que se deve esperar do discurso sobre o Estado da Nação. Assim evitam-se falsas expectativas e sabemos com o que podemos contar. Se assim não for, qualquer dia dar-se-á início a um mercado de apostas e ganharão aqueles que apostarem no inverossímil.

    Falar do discurso sobre o Estado da Nação passa por que se questione qual a natureza e o objectivo do mesmo. E há uma diferença entre estes, a que se acrescenta a questão relativa ao “afinal, o que é que os angolanos querem ouvir”.

    A expectativa em torno do mesmo, particularmente alimentada pela comunicação social (o que se compreende), atinge o seu paroxismo nas vésperas do aprazado dia. Pensar-se-á, porventura, que as opiniões debitadas poderão ser consideradas e rasuradas no discurso. Parece-me que não tem sido esse o caso.

    Entre o que é ou tem sido e o que deverá ser, há um espaço considerável de desconforto, mas também de correção, que o discurso que abre o novo ano legislativo, considerado o mais importante do PR em cada ano, deve ter em atenção.

    Entre programa e prioridades, assim foi o discurso sobre o Estado da Nação de 2017. Claro e objectivo. O de 2018 foi um balanço, factual, na senda do anterior. O de 2019, positivo, abriu portas à esperança (criação de 161.997 empregos, 1 401 235 barris de crude por dia, com tendência pra subir para 1 436 900 em 2020). E fastidioso. Vejamos o deste ano de 2020 .

    Sobre o discurso, muito se disse antes. Também eu fui convidada para participar num programa radiofónico. Declinei, e permaneci no meu pequeno mundo. Declinei, entre outras razões (aliás, como já faço há algum tempo) por não saber se estava em condições de acrescentar algo.

    Por preferir a escrita. Mas também porque o que poderia pensar poder ser uma ideia meritória e dizê-la no programa, poderia ser simplesmente interpretado com a conhecida expressão “armada!!!“, ou ainda “quem é que ela pensa que é!!!”, muito comum na banda. Se tivesse participado no referido programa, algumas das coisas que diria e quem me conhece, sabe bem que teria dito! – que entendo dever ser preocupação do PR e/de quem escreve os seus discursos, são as seguintes (válido para este e outros discursos e não necessariamente na ordem em que o apresentamos):

    i) conhecer os problemas e anseios reais das populações; ii) saber a que público se dirige; iii) definir as linhas mestras do discurso; iv) saber exactamente o que quer dizer;

    v) saber o que deve dizer; vi) saber como dizer; vii) ser claro; viii) ser objectivo; ix) ler o discurso antes (o PR); x) alterar (acrescentar, limpar) se necessário for; xi) treinar a leitura (o PR).

    Sobre o discurso, também muito se disse, depois. Corro o sério risco de, mais uma vez, não trazer nada de novo, mas não resisto a tecer algumas considerações. Uma das questões abordadas foi o que alguns chamam o “modelo” do discurso, outros chamar-lhe-ão “forma”, já abordado atrás. Mas o que verdadeiramente está em causa é o conteúdo, e é sobre o mesmo que passo a dedicar algumas linhas.

    O discurso terá sido feito mais para o consumo externo do que interno, pois a ideia que fica é que as expectativas de todos, incluindo as dos militantes e deputados do partido no poder, que obviamente não o admitem, terão sido goradas. E porquê? Porque assim como o país, também o discurso deveria ter (tido) diferentes andamentos. Como uma sinfonia.

    Não foi o que ouvimos ou lemos. Damos um sim, à prestação de contas, outro sim, ao enaltecimento do trabalho do governo/executivo, mas feitos de forma moderada. Um claro e maiúsculo NÃO, à ausência de SENSIBILIDADE para com a sorte dos menos afortunados que esta pandemia agravou ainda mais.

    Um claro e maiúsculo NÃO, ao facto de não se ter dirigido directamente à JUVENTUDE, que constitui a maioria da população, que clama por emprego sobretudo se considerarmos que aguarda e cobra, cada vez mais, os prometidos 500 mil.

    Em suma, o discurso não foi bom. Foi um não discurso. Mais pareceu o texto de um/a contabilista, uma factura, um recibo… Um texto mecânico, lido num tom monocórdico, e não poderia ser de outro modo.

    Não estava bem escrito, não conseguiu passar a tão necessária mensagem de que o governo/executivo (até) está a trabalhar, não conseguiu passar a tão necessária esperança, sobretudo num tempo complicado como este que vivemos. Foi um flop.

    Não se exige que os discursos do PR sejam como os do Obama, mas que é possível fazer melhor, penso que ninguém tem dúvidas. Para que assim seja, a equipa que escreve os discursos do PR deverá ser multidisciplinar. E por multidisciplinaridade, neste caso, deve entender-se uma conjugação de economistas, contabilistas, cientistas sociais, competência, rigor, técnica, e sensibilidade.

    Levantou-se o circo! E com ele a prestidigitação. A azáfama terminou. Para o ano há mais!

     

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    FonteO País

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