Sábado, Maio 18, 2024
16.3 C
Lisboa
More

    O ano em que Putin recriou o fantasma da Guerra Fria

    (Foto de Jim Watson/AFP/)Arquivos
    (Foto de Jim Watson/AFP/)Arquivos

    Vladimir Putin assumiu riscos em 27 de fevereiro. Naquele dia, um comando ocupou o Parlamento da Crimeia, cumprindo suas ordens. A anexação mudou o mapa da Europa e iniciou uma era de confrontos entre a Rússia e o Ocidente.

    Mais de 10 meses depois da rápida incorporação desta pequena península russa, as consequências totais da decisão do presidente russo ainda são ignoradas.

    Mas para muitos, 2014 foi o ano de Putin, caracterizado por uma mudança de natureza e status do chefe de Estado e uma desforra da Rússia em nível internacional.

    Quando a crise ucraniana começou, Putin tinha uma longa experiência à frente do Estado russo. Nos 15 anos em que está no poder , como presidente (três mandatos) ou primeiro ministro (duas vezes), conheceu três presidentes americanos, além de chefes de Estado e governo franceses e britânicos.

    A guerra da Chechênia, a tomada de controle da imprensa independente e a falta de força da oposição russa já lhe haviam permitido conquistar uma reputação de presidente autoritário. Em seu país, ele é o homem da estabilidade económica, do surgimento de uma classe média após os anos caóticos da presidência de Boris Yeltsin. É o responsável pela renovação, o amo de uma Rússia que ergue a cabeça depois da humilhação causada pelo fim da União Soviética.

    Paladino do antiamericanismo

    O movimento de protesto pró-europeu na praça de Maidan, na Ucrânia, e a queda do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich em fevereiro indignaram Moscovo. O Kremlin considerou que os ocidentais tentavam ultrapassar o limite russo, e Moscovo denunciou que a Otan se encontrava às portas do país.

    A resposta de Putin não demorou: incorporação da Crimeia através de um plebiscito e, depois, do apoio militar aos rebeldes separatistas do leste ucraniano, acusaram Kiev e os ocidentais.

    O desencontro entre russos e ocidentais começou a ganhar forma. Para Moscovo, a anexação da Crimeia não significou mais do que um retorno natural à Rússia de um “território sagrado”, a “Jerusalém russa”. Mas para as capitais europeias, o chefe de Estado russo redesenhou o mapa da Europa e se apropriou de um território como ninguém havia voltado a fazer no Velho Continente desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

    Putin, ignorado até o ostracismo pelos líderes ocidentais, que o acusam de agressão na Europa, caracterizado como um novo Hitler pelos jornais sensacionalistas europeus, mas mais popular do que nunca na Rússia, ganha, aos 62 anos, um novo status: o de paladino do movimento que se opõe à “liderança americana” e ao modelo liberal ocidental.

    Esta fome de poder do dirigente russo levou ao retorno de uma expressão que não era usada desde 1991, quando caiu a União Soviética: “Guerra Fria”.

    Trata-se de um termo pouco adequado, já que a Rússia, ao contrário da URSS, não defende uma ideologia, um modelo, mas tem o mérito de ser compreendido por todo o mundo, enquanto não surge uma definição melhor do “inverno prolongado” na futura relação entre russos e ocidentais.

    Os voos de bombardeiros estratégicos perto de países europeus e o envio de navios de guerra para exercícios navais preocupam os generais da Otan. Este aumento da actividade russa traz muitas lembranças. O presidente russo considera que se trata apenas de uma resposta justa: uma vez que os ocidentais não cumpriram a promessa de não ampliar a Otan até as portas da Rússia, por que este país se privaria de fazê-lo? Quem está ameaçando quem?, questiona Moscovo.

    Legado de Putin

    A partir destes acontecimentos, as mesmas perguntas são feitas: O que Putin quer? Onde ele quer chegar?

    “Ele se vê como o eterno líder encarregado da missão de salvar a Rússia do Ocidente. Cita com frequência fatos históricos, buscando seu lugar entre os líderes que salvaram a Rússia da ameaça”, considera a analista independente María Lipman.

    Para Konstantin Kalashev, diretor do Grupo de Valorização Política, Putin “pensa no que os livros de história falarão sobre ele”.

    “Daqui a 50 ou 100 anos, os historiadores não estarão interessados na cotação do rublo, mas sim na incorporação da Crimeia e no confronto com os Estados Unidos”, prevê.

    Segundo os especialistas, a crise ucraniana mostrou que, no fundo, Putin queria apenas uma coisa: respeito e igualdade de tratamento em relação aos Estados Unidos.

    O que se pode esperar da Rússia daqui para a frente? A continuação de sua política de reconquista, a reformulação de suas prioridades energéticas da Europa até a Ásia, a retomada dos laços com os países de América do Sul e Médio Oriente, como o presidente anunciou recentemente, e a continuação do apoio ao regime sírio de Bashar al-Assad, com um papel inevitável nas negociações sobre o programa nuclear iraniano como pano de fundo.

    E o confronto com o Ocidente? “Ele aposta em que os nervos dos ocidentais não são tão sólidos quanto os seus”, estima Kalachev. (afp.com)

    por Karim TALBI e Olga ROTENBERG

    Publicidade

    spot_img

    POSTAR COMENTÁRIO

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

    - Publicidade -spot_img

    ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    TSE suspende julgamento de ações que pedem cassação de Moro por atos na pré-campanha em 2022; caso será retomado na 3ª

    O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) suspendeu nesta quinta-feira o julgamento das ações que pedem a cassação do senador Sergio...

    Artigos Relacionados

    Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
    • https://spaudio.servers.pt/8004/stream
    • Radio Calema
    • Radio Calema