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    Música angolana perdeu um ícone

    Ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva manifesta consternação pelo desaparecimento físico de André Mingas

    O músico e compositor angolano André Mingas  morreu na passada terça feira em São Paulo, Brasil, vítima de doença, aos 61 anos. A Rádio Nacional de Angola teve de interromper a sua emissão normal para passar a triste notícia que marcava a actualidade (cultural) nacional do passado dia 11. Vítima de doença, o cancro esteve na origem da morte do autor – dizia a noticia, sem avançar mais detalhes.

    Nascido a 24 de Maio de 1950. Miúdo crescido no bairro do Cruzeiro, em Luanda, era oriundo de uma família de artistas : o irmão mais velho o poeta Gasmin Rodrigues, mais conhecido Saídy Mingas, os renomados músicos Rui Mingas, é o mano mais velho de todos entre os rebentos do igualmente já falecido velho André Rodrigues Mingas, de quem herdou o nome, e o seu “Ti”Liceu Vieira Dias,o maestro do famoso agrupamenrto musical Ngola Ritmos, que era irmão da sua mãe. Ambos marcaram profunda e visceralmente a sua trajectória artística.
    André Mingas, contemporâneo de outros como Teta Landu, era um ícone da música angolana e vai ficar sempre lembrado pelo seu “Mufete”. O ora finado foi músico de elevado gabarito e arquitecto de formação, tendo sido docente universitário em Portugal e Angola. André Mingas estudou na Universidade Agostinho Neto e posteriormente na Universidade Técnica de Lisboa. Mestre em Arquitectura e Urbanismo foi formador de quadros em Portugal, onde também leccionou na Universidade Lusófona de Lisboa.
    Nos últimos tempos foi indicado para cônsul de Angola em São Paulo, devido as suas constantes idas ao Brasil em tratamento.
    Um dos grandes nomes da música angolana, André Mingas ocupou durante a década passada o cargo de assessor do Presidente da República para os assuntos locais e regionais, acumulando durante alguns anos com a função de vice-ministro da Cultura de 2002 a 2008, no primeiro governo de Angola em Paz.
    A música “Esperança” é considerada “uma das virtuosidades do cancioneiro assinado por André Mingas”. Outras canções também merecem destaque no seu brilhante percurso artístico: “Mufete” e “Tchipalepa”.

    Consta entre dos artistas da considerada geração de ouro da música angolana, a par de Teta Lando, Filipe Mukenga ou Waldemar Bastos. O seu primeiro álbum, “Coisas da Vida” foi lançado há mais de 30 anos, mas continua ainda hoje a ser uma das referências musicais angolanas, misturando os ritmos locais com o jazz e o rock. Entre os seus trabalhos mais conhecidos está a música “Mufete”, considerado um dos grandes êxitos angolanos. À altura da sua morte tinha concluído um outro projecto discográfico que deverá merecer rápida divbulgação para prestar tributo á sua memória e homenageá-lo à dimensão da grandiosidade da sua contribuição a favor da música angolana e da cultura nacional, em geral.
    Além da música e da arquitectura, André Mingas, dedicou parte da sua vida à política,preparando-se para enveredar para a diplomacia, pelo que foi tráido pela morte prematura. Emquanto em vida sentia-se como um homem “tranquilo e com um grande sentido de paz e fraternidade

     “Vazio no ‘music haal’ nacional”

    Filipe Mukenga, músico e amigo íntimo, diz que a morte de A. Mingas representa um vazio ho music haal nacional”.
    “Pessoas do género de André Mingas, que além de músico era arquitecto de formação, são necessárias para o desenvolvimento do país. A sua morte representa assim uma grande perda para Angola”, disse à Angola Press o músico Filipe Mukenga.
    O cantor Filipe Mukenga considerou  que a morte do seu colega André Mingas, deixou um vazio no music hall nacional, pois era um artista engajado na exploração das novas sonoridades como o Jazz.
    Filipe Mukenga, em declarações à Angop, referiu ter compartilhado ideias com André Mingas sobre outras nuances de fazer música, tendo sempre em conta que esta arte é feita para o consumo mundial.
    “Tínhamos a música como uma das belas artes. Aprendi com André a utilização dos acordes invertidos que vêm do Jazz. Éramos amigos e como tal intercambiávamos ideias nesta área”, asseverou, acrescentado que, Angola perde assim um músico que via a nova música de Angola, numa perspectiva internacional.

    Reacções 

    Músicos, amigos  e apreciadores da sua música consternados  choram a morte do artista:

    João Melo, amigo e confidente do finado, jornalista e deputado pela bancada do MPLA, lamenta num tom dialogante, bastante abalado com a notícia trágica: “André: partiste, mas a tua música permanecerá para sempre com todos nós. Onde quer que estejas agora, recebe o meu kandando, enorme como o futuro do nosso país, sobre o qual falámos tantas vezes e que tão bem cantaste neste tema. É a melhor homenagem que te posso fazer: partilhar a tua arte.” João Melo, jornalista e deputado escreveu no seu mural da rede social Facebook: “Acabei de receber uma notícia trágica: morreu André Mingas, um dos grandes nomes da música angolana, vítima de cancro. Arquitecto de profissão, antigo vice-ministro da Cultura, tinha sido indicado para cônsul de Angola em São Paulo. Era um grande amigo meu, há muitos anos. Mais do que isso: um cúmplice. Estou arrasado”.

    Paulo Flores, admirador e amigo do músico, disse ao SAPO que “o André foi alguém que num momento difícil da nossa história recente apareceu com um disco, com uma mensagem e uma musicalidade para cima
    com esperança e com uma liberdade de abordagem melódica refrescante e que até aos dias de hoje (o disco foi gravado no inicio da década de 80) continua como referência, como exemplo de alternativas e caminhos que a nossa música pode tomar.
    “Pessoalmente também o conheci. O André foi das primeiras pessoas a ouvir os meus dois primeiros discos, foi dos primeiros a opinar e a dizer o que achava… anos depois foi a minha casa e pediu-me para escrever a letra,  para tres músicas que ele tinha, uma delas acabei por escrever com Albano Cardoso e gravei no meu disco ” EXcombatentes”, chama-se “Ndapandula”, que quer dizer Obrigado e é Obrigado que temos todos que dizer ao André pelo seu contributo nesta nova abordagem às linguas e melodias da nossa musica, pela leveza e frescura da voz que só de se  ouvir sabiamos estar a sorrir”.

    Puto Português, jovem músico e uma revelação do semba, “dizer perder André Mingas significa dizer que perdemos uma grande parte da cultura e raízes angolanas. Deixando um vazio que só DEUS sabe!”
    “André Mingas para mim é um espelho, um modelo que qualquer artista tem o prazer de seguir como exemplo. A música de André Mingas que eu admiro, venero e na qual me revejo muito nela é “SOBA”.
    “André Mingas (Que a sua alma descanse em paz)”, concluiu.
    O cantor Filipe Mukenga disse à Angop “que a morte do seu colega André Mingas, deixou um vazio no music hall nacional, pois era um artista engajado na exploração das novas sonoridades como o jazz.” Mukenga que também já havia dito que Mingas foi uma influência para a sua música referiu ter compartilhado ideias com André Mingas sobre outras nuances de fazer música, tendo sempre em conta que esta arte é feita para o consumo mundial.
    “Tínhamos a música como uma das belas artes. Aprendi com André a utilização dos acordes invertidos que vêm do jazz. Éramos amigos e como tal intercambiávamos ideias nesta área”, revelou.
    Quando lhe disse que era seu fã, Don Kikas ganhou o dia
    “O desaparecimento físico do André Mingas é uma das maiores perdas nos últimos tempos, para a cultura angolana. Visto que ele era não só o grande músico, compositor e intérprete que conhecemos, mas também um homem da cultura em toda a sua amplitude”, partilha Don Kikas.
    “André Mingas foi, é e continuará a ser uma grande influência para músicos como eu, que para além de angolano e apreciador da nossa música, também sou apreciador de toda a música bem feita. E o André era um grande exemplo de grande musicalidade, um verdadeiro orgulho e exemplo a seguir, daí que os seus temas sempre foram interpretados por cantores das novas gerações”, reforça o cantor de “Esperança Moribunda”.
    “Sempre que me encontrava com o kota André, trocávamos algumas breves palavras, o suficiente para lhe demonstrar a minha admiração e ele gentil como era dizia ser recíproca. Lembro-me da primeira vez que o encontrei, foi na fila do cinema em Lisboa, fui ter com ele, cumprimentei-o e disse que era seu fã, ele muito gentilmente e simpático disse que também era meu… Ganhei o dia!”

    Don Kikas revela-nos que todas as canções de André Mingas o marcaram: “Porque todas trazem aquela musicalidade dele bem impressa. Mas sem dúvida “Mufete” ,  “Tchipalepa”  e “O que eu quero” são clássicos, pérolas do reportório angolano”. “Obrigado por se lembrarem de fazer essa homenagem, ele merece!” – afirmou ainda Don Kikas, acrescentando que “morreu uma das melhores vozes, um dos melhores compositores angolanos de todos os tempos”.

    A Banda Maravilha escreveu no seu mural:”Nós que somos parte de ti, pois foi também por ti que surgimos no teu programa Gentes e Tons na TPA; pois que muitas vezes te acompanhámos por vários palcos, André Mingas o silêncio do momento nos leva a várias recordações, saudades eternas e um muito OBRIGADO. Há 18 anos, você ajudou a criar a Banda Maravillha. Sabemos que a sua alma vai descansar em paz”.

    Victor Hugo Mendes, jornalista da RNA refere: “Morreu. A nossa vez ninguém sabe, mas dele, lembro-me da sua vaidade, das músicas, do programa kandando na tv e do sorriso só dele. É nacional, é bom e eu gosto. André Mingas.”

    Patrícia Faria, cantora e radialista, mostrou-se :”chocada! Descanse em Paz nosso André Mingas!”
    André Mingas foi um insigne homem de cultura.

    Nelson Cosme, o embaixador de Angola no Brasil, destacou  a disponibilidade do músico e compositor angolano André Mingas para o engrandecimento da diplomacia cultural entre os dois estados. Reagindo à morte de André Mingas, o diplomata angolano considera uma perda irreparável para Angola o passamento físico do artista.
    “O país perdeu assim um insigne homem de cultura que, com o seu saber, contribuiu para a massificação da cultura angolana e o reforço das relações culturais com o Brasil”, reforçou o diplomata.

    Rosa Cruz e Silva, ministra da Cultura, numa mensagem pelo obituário, sublinhou o empenho e dedicação do músico André Mingas em prol das artes angolanas. André Mingas sempre se dedicou à preservação e valorização da cultura nacional, emprestando todo o seu saber à afirmação da música angolana no país e no estrangeiro.
    “O seu desaparecimento físico empobrece o universo artístico nacional, deixando um grande vazio, só mitigado pelo valor intelectual da sua obra que ficará indelével nos marcos históricos de Angola”- destaca a mensagem.

    Um pilar da música angolana

    Mário Cristóvão Kajibanga, o director provincial da Cultura em Benguela, considerou que, com a morte do músico e compositor André Rodrigues Mingas Júnior, o país perdeu um pilar da música e da arte angolana, pontualisando que sua morte é uma grande perda, por ser um artista que tudo fez e deu em prol da música e da cultura angolana. Segundo o coreógrafo, André Mingas é um artista que marcou as décadas de 1970 e 1980 com músicas de intervenção, na linha do Semba /Jazz, tendo lembrado que, com a sua formação de arquitecto, foi o mecenas do pavilhão de Angola na Expo/98, em Portugal.
    Finalmente, enfatiza a passagem de testemunho, sublinhando que sua atitude de tocar e cantar o semba/jazz influenciou muitas gerações de músicos, exemplificando Matias Damásio, Coreon Dú, Tô Manjenje, entre outros, que têm uma influência na forma de cantar de André Mingas. “Perdemo-lo fisicamente, mas vai haver essa preocupação de mantê-lo vivo com a reprodução da sua obra, através das inspirações que vai afectar os jovens que estão a enveredar na linha musical”, rematou.


    Fonte: Jornal de Angola

    Fotografia: Jornal de Angola

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