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    Museu dos Reis do Congo, uma referência obrigatória

    Museu dos Reis do Kongo (OPAIS)
    Museu dos Reis do Kongo (OPAIS)

    A instituição passou a constar do calendário de eventos culturais da cidade, devido à sua importância histórica. Encontros, curiosidades, troca de impressões e leituras entre visitantes preenchem frequentemente o seu diário de registos .

    Por incrivel que pareça o museu regista uma média diária de uma centenas de visitantes que, guiados por profissionais da instituição, fazem do local a mais importante fonte do saber, socorrendo-se de fontes orais e escritos ali depositados.

    O museu detém um acervo constituído na sua maioria por objectos de uso pessoal dos últimos reis, entre os quais D. Pedro V, o Ntotela Ntinu Nekongo que já reinava em 1878. Embora tenha sido criado logo nas primeiras décadas após a Independência, O Museu dos Reis do Kongo, nunca viu a sua missão definida nem o seu estatuto reconhecido por um diploma legal. Conta com seis salas temáticas.

    A primeira dedicada às migrações, fixação, distribuição e composição dos Povos Kongo. A segunda que aborda o território e limites do antigo Reino Kongo e a terceira, a organização sócio-político e económica Kongo. A quarta sala dá uma panorâmica sobre a evolução histórica da cidade de Mbanza Kongo, como Capital do Reino e, nas restantes salas, a vida de um Soberano Kongo. Desde então, funciona num imóvel inadequado que, dada a sua antiguidade, carece de intervenção ao nível estrutural e ampliação de modo a anexar novos compartimentos para agilizar a actividade dos seus profissionais, desde o laboratório à conservação e depósito de peças. Neste caso particular e para a alegria dos munícipes, a boa nova saída da capital do país, faz menção a reabilitação desta instituição que segundo testemunhos orais e escritos, foi o antigo Palácio dos Reis do Kongo.

    Quanto podemos saber desta instituição, pretende-se com esta intervenção, dar um tratamento e aprofundamento às questões relacionadas a civilização Kongo, através de uma outra a qual designarão Museu Regional Kongo, a ser implantado por consenso administrativo, num outro espaço do vasto território do antigo Reino Kongo, dentro dos limites nacionais.

    O mesmo terá a missão de aprofundar o estudo biográfico dos Reis do Kongo, visando perpetuar a memória daqueles que de uma maneira ou de outra ssumiram a responsabilidade máxima do antigo Reino do Kongo. A sua reabertura ao público acorreu em 2007 com uma exposição documental retratando o fenómeno da Escravatura, gentilmente cedida pelo Comité Português da Rota do Escravo, anos depois de ter sido encerrado para obras de restauro. A visita ao famoso museu é antecedida de explicações relacionadas com o funcionamento da instituição e os passos a seguir nos diferentes compartimentos, por técnicos da instituição.

    Cumpridos os requisitos, a visita prossegue com a visualização do retrato do príncipe Nicolau, a que se segue a visualização de um outro que retrata a nobreza do povo Nkongo ou Kongo. Na segunda sala encontramos um vasto acervo ilustrando a agricultura, com diversos instrumentos, desde enxadas, flechas, armadilhas para a caça e escudos. Junta-se a estes uma linha de instrumentos musicais, como é mo caso do chocalho (Nzanzi), alguns deles utilizados para acalmar os bebés quando choram, conchas que retratam os provérbios da região, bem como o Mbemba, artigo utilizado nos rituais de advinha.

    Já na terceira sala encontramos uma exposição de instrumentos de caça e captura de pescado, ao passo que no quarto compartimento um retrato com cinco espadas testemunha a presença dos portugueses na região. Cada uma, segundo o director Biluka Nsonkala, tem uma denominação atribuída à cidade na época, antes dela ser conhecida como Mbanza Congo. A primeira espada denomina-se Mbemba, tendo em conta o carácter hospitaleiro do povo Nkongo, e a segunda Nkumba ungugi (cordão umbilical).

    Segue-se a terceira espada que remonta à chegada dos portugueses e chama-se Nkongo di ngunda, (Congo do sino). Já a quarta faz menção à chegada dos portugueses na época em que a cidade passou a designar-se São Salvador do Congo, e a última, a actual designação da cidade Mbanza Congo. Prosseguindo, na quinta sala, encontramos um acervo que foi pertença do Rei, como o trono, a pele de onça que segundo os Nkongo representa capacidade poderosa do Soberano, o seu fato oficial com mais de 130 anos de existência e que, no passado, serviu de Rei para Rei.

    A mesma sala alberga ainda alguns carimbos utilizados pelo rei na autenticidade de documentos utilizados dentro e fora da comunidade, chapéus que simbolizam o poder tradicional, entre outros meios indispensáveis ao reinado. Já na sexta e última sala encontramos artigos atribuídos à rainha, tais como jarras, copos de prata enviados pela Rainha de Portugal à Rainha do Congo, colares e outros acessórios.

    Mistérios à volta da Yala Nkuwu

    Não se sabe ao certo quando é que esta árvore foi plantada, mas segundo os anciões da região, estudiosos e elementos afectos à comunidade, terá sido antes ou depois de 1483. A verdade é que de antiga nunca secou e continua sempre cheia e enverdizada. É conhecida em toda a região como árvore misteriosa, uma vez que, naquela época, cada galho que caísse era motivo de preocupação por agitar a comunidade. Tanto podia significar uma grande tragédia, ou anunciar a morte do rei ou de uma entidade importante do reinado. Curiosamente, os últimos acontecimentos atribuídos à poderosa Yala Nkuwu, ocorreram em 1999 e foram marcadas por fortes tempestades, mortes e inundações ao nível da urbe.

    Preservar para a posteridade

    A par do acervo, o museu alberga ao seu redor simbolismos relevantes da história, como a aclamada árvore Yala Nkuwu, o local onde se realizavam julgamentos, designados na língua materna kikongo por (Lumbu) que, apesar de real, é tida como sagrada e, ao mesmo tempo, secreta. Um procedimento que segundo relatos do director da referida instituição museológica, Biluka Nsonkala, se conserva até aos nossos dias. Junta-se a esta o famoso Palácio e a Residência Oficial do Reino, onde funciona actualmente o museu, classificado Património Históricos Cultural, através do Despacho Ministerial nº 95 de 18 Abril de 1995, a área de tratamento do cadáver do Rei, o local onde o corpo do Rei aguardava as exéquias oficiais e, por último, o cemitério dos reis. Todos estes locais estão intimamente ligados ao Palácio Real. Por essa razão, decidiu-se dedicar o referido museu aos Reis do Kongo. Mbanza Congo era a capital do grande império da África Central e estendia-se do sul do actual Gabão até ao Rio Kwanza. Nela residia o Ntótila, autoridade máxima Kikongo, tendo daí saído orientações para as seis províncias que compunham o Império. Foi também em Mbanza Congo que baptizaram Ntótila Nzinga Nkuwu, em 1491 e, por força do cristianismo, a cidade passou a chamar-se São Salvador do Kongo até a Independência do jugo colonial português. (opais.net)

    Augusto Nunes

     

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