Abel Chivukuvuku, líder da CASA-CE, a terceira força política angolana, defendeu que a “mudança em Angola é inevitável” devido “ao problema da pobreza e da má governação” e apontou 2017 como o prazo desejável para essa transformação.
Em entrevista à Lusa após uma semana de contactos em Lisboa, Chivukuvuku disse que “Angola é um país que precisa de reformas” mas o atual regime “não tem nem vocação nem visão para as fazer”.
“A mudança em Angola é inevitável tendo em consideração o problema da pobreza, a má qualidade da governação, a corrupção, os desvios, o enriquecimento ilícito”, apontou.
Neste momento, o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, “já não está à altura de fazer as reformas que o país precisa porque não tem convicções para tal”, considerou.
Para o líder da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), uma força política que surgiu há um ano e foi a terceira mais votada nas eleições de agosto de 2012, as mudanças têm de ser feitas num prazo mínimo de cinco anos e máximo de dez anos.
“Quanto mais depressa melhor, por isso digo 2017, para que então o país tome um rumo diferente”, respondeu, questionado sobre o tempo necessário para a mudança.
Chivukuvuku, que pôs fim a uma militância de 38 anos na UNITA (principal força da oposição) para formar a CASA-CE, referiu-se a Angola como “um país com uma democracia incipiente, ainda em formação. Infelizmente o processo democrático estagnou”.
“Hoje temos uma democracia de fachada. Temos um Estado de direito legal, mas não funcional, temos um regime político autoritário e caracterizado pelo poder pessoal do Presidente da República. Temos uma economia em crescimento, mas uma economia de enclave porque é fundamentalmente dinamizada pelo setor petrolífero”, indicou.
O dirigente político afirmou ainda que existe em Angola “uma estrutura social de alto risco com a maioria da população muito pobre e desigualdades tremendas com um grupo que em 10 anos enriqueceu exponencialmente e de forma ilícita”.
A remodelação governamental feita esta semana em Angola, que envolveu dois ministros, incluindo o das Finanças, “não tem relevância nenhuma para a situação do país”, no entender de Chivukuvuku.
“Isso são só acertos no seio da família, sai o cunhado e entra o sobrinho”, criticou.
Sobre a sua visita a Lisboa, o líder da CASA-CE disse que se destinou a “partilhar” a sua visão sobre a situação em Angola e as perspetivas de evolução a médio prazo e a “contribuir para uma melhoria das relações entre Angola e Portugal”.
“Neste momento considero as relações funcionais, mas imaturas e inseguras e é preciso evoluir para um quadro de relações sólidas e com previsibilidade”, avaliou.
Ao longo da semana, Chivukuvuku manteve contactos com a comunidade angolana, com os principais partidos políticos (exceto o PCP), com “círculos empresariais” e com as “autoridades governamentais”.
Questionado sobre estes últimos, respondeu: “Não nos cabe a nós dizer com quem estivemos, isso cabe ao Governo português, mas estamos satisfeitos porque estivemos aos mais altos níveis”.
A delegação da CASA-CE seguiu entretanto para França, depois visita o Reino Unido e por fim os Estados Unidos. O objetivo é o mesmo da visita a Lisboa – explicar a situação política em Angola e esclarecer o papel da nova formação política no futuro do país.
(lusa.pt)