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    Mito sobre o ordenamento do Mundo: A origem de tudo segundo os Akwakimbundu

    Narrativa mitológica sobre a organização do “mundo primordial” Akwakimbundu, colectada e guardada por José Bernardo Domingos Kyoza (1925-2002), que foi vice-presidente do MPLA (1961-1963), conselheiro do presidente Kwame Nkrumah, do Ghana, e primeiro Embaixador de Angola no Vaticano. Este texto é tornado público pela primeira vez, com a devida vénia à memória de José Bernardo Domingos Kyoza

    “Ngana a Nzambi designou Ngunza, o senhor da providência, para administrar o mundo. Este, por sua vez, confiou essa tarefa a três “génios” da natureza: Kakulu, Kabasa e Kyoza. Os três tinham a mesma origem e idade igual e gozavam de um conhecimento igual e sem paralelo sobre o mundo.

    Assim, Kakulu ficou encarregado de governar os terrenos baldios, as florestas, os rios e lagoas, os mares e os lagos. Kabasa tomou conta da fertilidade das terras, das estações do ano, períodos do tempo que são determinantes para o trabalho do Homem. Kyoza foi incumbido de velar pelos seres humanos, pelo bem-estar e desenvolvimento harmonioso destes, ao mesmo tempo que tinha o controlo sobre a existência de todos os animais na terra, nas águas, nas matas e florestas e, enfim, sobre o ar.

    Depois de certo tempo, Kyoza apercebeu-se que os homens se multiplicavam muito rapidamente e que os produtos alimentares produzidos eram insuficientes para a manutenção destes. Verificou, igualmente, que as matas, florestas, bosques e prados estavam a ser gradualmente devastados pelos seres humanos, constituindo isso

    um grave prejuízo para estes e para os demais animais. Deste modo, Kyoza decidiu consultar Ngunza que, depois de o ouvir, recomendou-lhe que contactasse Kabila ka Mutombo, um grande senhor que tinha sob o seu controlo o tempo e as idades, tanto dos homens como dos animais, das plantas e até dos minerais. Depois de ouvir Kyoza e sem se fazer de rogado Kabila ka Mutondo designou um dos seus súbditos, de nome Kalunga, para equacionar os seres humanos, o seu desenvolvimento e sobrevivência.

    Kalunga conhecia muito bem o passado e o futuro de toda a humanidade, os direitos e os deveres de cada indivíduo, bem assim como a sua ascendência e destino final: ele era o administrador da morte. Nesta conformidade, Kabila ka Mutondo deu ordens a Kalunga para que este tirasse da terra todos os seres humanos que estivessem desprovidos de energia física. No entanto, Kalunga decidiu agir contrariando as decisões de Kabila ka Mutondo, que consistia em fomentar a morte dos mais fragilizados, já que, pouco tempo depois, alertado, Kabila ka Mutondo depois de ter consultado Ngunza pelo facto de Kalunga estar a dizimar não

    apenas as pessoas tidas como caducas, mas também crianças e jovens, ficou indignado com este ignóbil procedimento, porém não o destituiu do seu cargo.

    Como maneira hábil para dar solução à contradição evidenciada por Kalunga, Kabila ka Mutondo indicou Ngola, um dos seus súbditos, que sabia manejar com destreza a técnica de forjar e a manutenção do fogo, e deu-lhe plenos poderes para transformar os metais em figuras humanas, a fim de compensar as perdas sofridas pela humanidade dos mortais, por virtude do trabalho de Kalunga.”

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