A liberdade de imprensa no mundo vive seus níveis mais baixos em dez anos, afectada pelas legislações baseadas na segurança, na intimidação e na ingerência de proprietários de meios de comunicação, segundo um documento que destaca Cuba e Venezuela como exemplos graves.
O Brasil ficou entre os países classificados que possuem uma imprensa parcialmente livre e teve citados os casos de agressões contra jornalistas durante os protestos de 2013.
O trabalho da organização de defesa dos direitos humanos Freedom House divulgado nesta quarta-feira revela que os “jornalistas enfrentaram em 2014 uma intensificação das pressões provenientes de todo lado”.
“Os governos utilizam as leis baseadas na segurança e de luta contra o terrorismo como pretexto para calar as vozes críticas, os grupos de pressão e os grupos criminosos utilizam tácticas cada vez mais descaradas para intimidar os jornalistas, e os proprietários de meios de comunicação tentam manipular o conteúdo das informações em favor de seus interesses políticos e económicos”, advertiu a organização.
Uma das “evoluções mais preocupantes” foi a mobilização dos países democráticos ante o aumento de propaganda dos regimes autoritários e dos grupos activistas, explicou Jennifer Dunham, responsável pelo estudo.
“O perigo é que em vez de impulsionar um jornalismo honesto e objectivo e a liberdade de informação como um antídoto adequado, as democracias recorram à censura e a sua própria propaganda”, prosseguiu.
Do total de 199 países e territórios analisados para o documento, 63 foram classificados de livres para os meios de comunicação, enquanto 71 foram descritos como parcialmente livres e 65 não livres.
Particularmente no continente americano, de um total de 35 países, 15 foram assinalados como parcialmente livres e cinco como não livres: México, Cuba, Venezuela, Equador e Honduras.
“Estes países receberam suas piores classificações em termos de liberdade de imprensa em uma década”, destaca o texto.
“Na América Latina apenas 2% da população vivem em ambientes onde existe liberdade de imprensa”, afirma ainda, citando Uruguai e Costa Rica como exemplos.
A Freedom House destacou a situação de Cuba, onde, apesar da abertura das relações com Washington, “ainda havia jornalistas atrás das grades e a censura continua sendo generalizada”. Classificação: 91, em uma escala onde 100 indica nenhuma liberdade e 0 a maior liberdade possível.
No ranking, o Brasil levou a nota 45, de parcialmente livre.
Os países da região que sofreram quedas mais pronunciadas foram a Venezuela (segunda no ranking atrás Cuba, e que passou de 78 a 81 pontos) e Honduras (64 a 68), enquanto que o Equador passou de 62 a 64.
Em termos globais, apenas 14% dos habitantes do planeta vivem em um país com uma imprensa livre, 42% em um país com uma imprensa parcialmente livre e 44% em países que não autorizam a liberdade de imprensa, revelou a Freedom House.
A avaliação sobre os Estados Unidos caiu devido às prisões, ao assédio e aos tratamentos brutais aplicados aos jornalistas pela polícia durante as manifestações, por vezes violentas, em Ferguson, Missouri (centro).
O retrocesso também foi observado no continente americano em Honduras, Peru, Venezuela, México e Equador.
A Europa é a melhor aluna, mas também a região que piorou mais em 10 anos devido, sobretudo, ao tratamento que os jornalistas na Rússia recebem.
A organização ressaltou a piora da situação na China, onde “as autoridades reforçaram o controle dos meios de comunicação”, e as condições difíceis em Síria, Argélia, Nigéria e Etiópia.
A Tunísia “registou a melhor nota de todos os países árabes”, ressaltou a Freedom House, declarando que apenas 5% dos habitantes da região Ásia-Pacífico gozam de uma imprensa livre e 2% o fazem nos países do Oriente Médio e da África do Norte. (afp.com)