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    Hospitais sírios são alvos de ataques intencionais, diz ONG

    Em uma década, hospitais do país foram atacados mais de 400 vezes. Dados obtidos pela DW sugerem que ofensivas fazem parte de estratégia maior para impedir acesso a instalações médicas em áreas controladas por rebeldes.

    O Hospital Kafr Zita Cave foi construído na encosta de uma montanha, quase 20 metros adentro, na esperança de escapar de bombardeios aéreos.

    Ele foi fundado em 2015 ao norte da cidade de Hama, a quarta maior cidade da Síria, longe de quaisquer instalações militares e áreas residenciais, a fim de garantir a continuidade dos serviços médicos aos civis após a destruição do hospital principal.

    Ainda assim, as instalações médicas alojadas no interior da caverna sofreram diversos ataques nos anos subsequentes, até os rebeldes serem expulsos da área.

    No início deste mês, o hospital foi completamente destruído pelas forças russas. A justificativa, segundo relatos da própria mídia russa, é de que os ataques visavam prevenir o uso do hospital por terroristas – uma palavra frequentemente usada pelo regime para se referir aos rebeldes.

    Mas grupos humanitários, como a Rede Síria pelos Direitos Humanos, viram na ofensiva uma tentativa de remover provas de que o hospital havia sido atacado várias vezes nos últimos seis anos.

    “O governo russo pretende… apagar as terríveis consequências e evidências das atrocidades e crimes cometidos pelas forças russas no bárbaro bombardeio deste hospital”, disse o grupo em comunicado.

    O Hospital Kafr Zita Cave, porém, não foi o único centro médico a ser atacado durante o longo conflito que já se arrasta por uma década na Síria.

    Hospital Kafr Zita Cave foi construído na encosta de uma montanha depois de hospitais da área serem destruídos por ataques
    (DR)

    Ofensiva “intencional” de forças sírias e russas
    Na última década, hospitais já foram atacados mais de 400 vezes, de acordo com dados fornecidos a DW pelo Arquivo Sírio (Syrian Archive), uma organização que visa documentar de maneira visual as violações dos direitos humanos no conflito sírio.

    Nesta terça-feira (09/03), a organização sediada em Berlim publicou um banco de dados afirmando que mais de 90% dos ataques documentados a hospitais tinham características de uma ofensiva deliberada.

    Além disso, o grupo sugere que a destruição de instalações médicas faz parte de uma campanha estratégica do regime sírio e das forças russas contra as áreas controladas pelos rebeldes.

    Em seu relatório, o regime sírio e a Rússia foram identificados como os principais condutores de tais ofensivas, que incluíram ataques aéreos, bombas de barril e projéteis.

    “O banco de dados é muito importante para mostrarmos a intencionalidade, o impacto e a estratégia dos ataques contra instalações médicas”, disse Hadi al Khatib, fundador e diretor do Arquivo Sírio, à DW.

    “A maioria desses ataques e a maior parte desse padrão observado se deu entre as forças sírias e russas.”

    O Ministério da Defesa da Rússia e a Embaixada da Síria em Berlim não responderam a um pedido de comentário antes da publicação deste artigo. No entanto, as autoridades russas e sírias negam sistematicamente envolvimento em tais ataques.

    Em seu relatório, o regime sírio e a Rússia foram identificados como os principais condutores de tais ofensivas, que incluíram ataques aéreos, bombas de barril e projéteis.
    (DR)

    O ônus da prova
    A jurista Libby McAvoy, que participou do projeto, observou que a organização dos dados foi feita com o direito internacional em mente.

    Por exemplo: o banco de dados dá detalhes sobre o método dos ataques marcando quando determinado hospital foi atingido por um míssil guiado de precisão ou sujeito a um tiro duplo, no qual um ataque é seguido por outro numa questão de horas ou mesmo minutos depois.

    Pelo menos 216 dos atos de agressão consistiram em repetidos ataques a instalações médicas, totalizando quase metade das investidas registradas. Dados relativos a ataques repetitivos podem ser usados como um indicador de disparos intencionais, algo considerado crime de guerra segundo o direito internacional.

    McAvoy espera que o material que ela e seus colegas compilaram possa um dia ser usado por equipes jurídicas e investigadores para responsabilizar os agressores.

    Mas os desafios permanecem. Embora os dados tenham sido compilados para uso em um ambiente jurídico, qualquer tentativa de responsabilizar os agressores exigiria mais do que mera documentação visual.

    “Vídeos sempre poderão ser no máximo uma peça do quebra-cabeça”, disse McAvoy. “Mas, como a Síria é tão bem documentada, trata-se de uma peça importante do quebra-cabeça.”

    O Arquivo Sírio documentou pelo menos 410 ataques a hospitais na Síria
    (DR)

    Vidas na linha de frente
    Observadores acreditam que o regime sírio, apoiado pelas forças russas, ainda se voltará para a retomada da província de Idlib, no norte da Síria, considerada o último bastião das forças rebeldes.

    Al Khatib teme que as forças sírias e russas continuem a visar hospitais em uma tentativa de negar o acesso médico às áreas controladas pela oposição, especialmente à luz dos dados do arquivo, que sugerem que os hospitais se tornam cada vez mais alvo das grandes batalhas.

    “Aconteça o que acontecer com Idlib no futuro, as instalações médicas serão os primeiros alvos”, disse ele à DW. “E gostaríamos de ser capazes de mostrar isso na esperança de impedir que se repita no futuro.”

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    FonteDW

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