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    Há 40 anos, David Bowie fez de “Young Americans” uma obra prima de mais uma de suas metamorfoses

    (yahoo.com)
    (yahoo.com)

    Muito já foi comentado a respeito de como David Bowie aponta novas direcções em sua carreira com um radicalismo poucas vezes visto na história da música. Também muito já foi dito sobre suas reais intenções ao realizar estas guinadas estético-musicais. O que pouca gente sabe é que um dos capítulos mais intrigantes destas metamorfoses guarda detalhes saborosos que, de certa forma, oferecem novas luzes e cores a uma trajectória tão deliciosa quanto surpreendente…

    Muita gente se surpreendeu quando Bowie deixou de lado a imagem quase bucólica que ostentava nos tempos de Hunky Dory (1971) para encarnar um alienígena que caiu na Terra em Ziggy Stardust (1972), Quando todo mundo pensava que Bowie continuaria nesta ‘praia’ para sempre, ele matou o personagem e tratou de montar uma nova faceta, que resultou em dois óptimos e subestimados álbuns: Pin Ups (1973), só com canções alheias, e o apocalíptico Diamond Dogs (1974). Só que ninguém estava preparado para o que viria a seguir…

    O primeiro indício de uma nova mudança, muito mais radical, surgiu na turnê americana de 1974 que, teoricamente, serviria para divulgar o Diamond Dogs. Quem assistiu aos shows percebeu que as canções estavam menos “roqueiras” e que havia uma maior presença de saxofones e teclados, além de andamentos mais lentos. E conforme os shows iam acontecendo, não apenas a sonoridade dos arranjos das canções foi se tornando cada vez mais próximo da soul music – o que incluiu a substituição de músicos da banda de apoio de um show para outro -, mas a própria presença cénica de Bowie foi sendo alterada de maneira drástica a cada show. Tanto é que ao final da turnê, Bowie estava quase que totalmente transformado, tanto em termos estéticos como no aspecto musical como um todo. Quem quer ouvir esta transformação com clareza tem que adquirir o óptimo álbum duplo David Live, lançado em Outubro daquele ano, imediatamente após o término da turnê. Na capa já dá para sacar a mudança radical, com Bowie vestindo um elegante terno “azul bebe” e aparentando pesar uns 25 quilos.

    Cheirando cocaína como quem tomava cafés ao longo do dia, Bowie ficou tão electrificado com o som que vinha fazendo que, em um intervalo da turnê, levou a formação da banda na época para dentro do estúdio e resolveu que um novo álbum deveria marcar uma nova etapa não apenas de sua carreira, mas de sua vida. Tudo gravado ao vivo dentro de uma mesma sala. Todo mundo tocando junto, ao mesmo tempo. E o gravador rolando.

    Foi então que a inacreditável transformação se consumou quando os fãs de Bowie colocaram as agulhas de seus gira-discos na primeira faixa de Young Americans, o álbum de estúdio lançado em 1975 e que espelhava a radical mudança do cantor. Completamente imerso dentro do universo da soul music americana – notadamente a vertente que na época era conhecida como “Philly Sound”, originária da cena musical da Filadélfia, de onde vieram grupos como The Tramps, Spinners, Harold Melvin & The Blue Notes e até mesmo o nosso quase “ compatriota brasileiro” Billy Paul – ele se metamorfoseou novamente como um alienígena, branquelo e esquálido, só que agora caindo directamente dentro do universo da música negra americana. E o serviço foi feito com perfeição…

    Bowie rompeu as barreiras das rádios americanas promovendo uma integração racial surpreendente. Não importava a cor da pele dos ouvintes: todo mundo sacudiu o rabo ao som de “Fame”, uma surpreendente parceria entre Bowie, seu guitarrista Carlos Alomar e John Lennon, então moravam em Nova Iorque. Isso sem contar a ainda mais surpreendente versão de uma canção dos Beatles, “Across the Universe”, que faz jus em termos de qualidade ao que se ouve no restante do álbum.

    Quatro décadas depois, Young Americans ainda exibe um frescor dançante tão inebriante quanto saborear um cálice de um finíssimo licor após uma lauta refeição. (yahoo.com)

    Por r-tadeu | Na Mira do Regis


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