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    Guiné-Bissau: Rádio é vandalizada por homens armados

    A rádio Capital FM está fora do ar após ser invadida por homens armados na madrugada deste domingo. Vários equipamentos foram destruídos. Sindicato dos Jornalistas da Guiné-Bissau aponta o dedo ao Estado.

    Segundo o relato da presidente do Sindicato dos Jornalistas da Guiné-Bissau, Indira Correia Baldé, a rádio Capital foi invadida na madrugada deste domingo (26.07) por um grupo de homens armados, uniformizados como polícias, que renderam o segurança da estação emissora.

    “Por volta da 1h da manhã, recebi uma chamada do director adjunto da rádio Capital a informar que a estação havia sido vandalizada. O segurança foi coagido a abrir a porta da rádio e os atacantes, que estavam armados e vestindo uniformes da polícia, perguntaram onde é que fica o estúdio, a emissora. O guarda, com esta coação, indicou o lugar. Os atacantes entraram, furtaram a emissora e outros materiais, alguns computadores”, relatou Baldé em entrevista à DW África.

    O sindicato e profissionais da rádio Capital estão desde as primeiras horas no local a averiguar os danos do atentado. Indira Correia Baldé disse que o prejuízo é “muito avultado” e garantiu que a “a rádio não pode, de facto, funcionar porque todos os materiais foram danificados ou furtados”.

    Sabino Santos, assistente técnico da rádio Capital, falou com a DW África por telefone e avançou que os danos ainda estão a ser contabilizados. “Ainda estamos na fase de levantamento, mas o que eu posso dizer agora é que a rádio está totalmente paralisada”.

    O assistente relatou que o atacantes “conseguiram atacar os estúdios, destruíram por completo tanto o aparelho emissor quanto a mesa de mistura, levaram o processador de áudio e destruíram a própria mesa e as cadeiras que estavam no estúdio”. “Neste momento, não temos condições de estar no ar, porque tudo está danificado”, constatou.

    “Atentado à liberdade de imprensa”

    A presidente do Sindicato dos Jornalistas da Guiné-Bissau considerou que a invasão da rádio “é um atentando à liberdade de imprensa e de expressão na Guiné-Bissau”, ao livre exercício do jornalismo no país, e um “atentado à democracia”.

    “Nós o condenamos com veemência e responsabilizamos o Estado da Guiné-Bissau, porque cabe ao Estado garantir a segurança dos profissionais e dos órgãos da comunicação social. Então responsabilizamos o Estado, porque não é a primeira vez. Houve várias ameaças à rádio Capital FM. Houve ameaças públicas, de pessoas a ameaçarem incendiar a rádio, a fazer calar os profissionais da rádio. E hoje estamos perante esta situação”, avançou Indira Baldé, que se mostrou ainda mais preocupada com o facto de os atacantes estarem vestidos como polícias.

    “Preocupa ainda mais, eleva o nível de preocupação. Foi o mesmo que manifestamos ao ministro da presidência do Conselho de Ministros, que há um bocado esteve aqui na rádio com uma comitiva do secretário de Estado e do ministro da Ordem Pública. É preocupante: os polícias, ou os militares e paramilitares, devem proteger os cidadãos e os profissionais. Estando eles com uniformes a atacar, é preocupante”.

    Num comunicado, a Liga Guineense dos Direitos Humanos classificou o atentado contra a rádio como “cobarde”, um ato que considerou ser a “concretização das sucessivas ameaças anónimas que os profissionais desta estação emissora vinham recebendo dos indivíduos desconhecidos e mal intencionados, que querem instalar a prepotência e o caos na Guiné-Bissau”.

    A LGDH também exigiu do Ministério Público, através da Polícia Judiciária, a abertura de um inquérito urgente, transparente e conclusivo, com vista a identificação e consequente responsabilização criminal dos autores morais e materiais deste ato cobarde

    Ato isolado e apelo às autoridades

    O assistente técnico da rádio Capital FM informou que o caso já foi denunciado às autoridades e que a comitiva que esteve na emissora na manhã deste domingo manifestou solidariedade aos profissionais do órgão.

    “Nós já estamos a fazer as denúncias e as autoridades que já aqui estiveram manifestaram a solidariedade do Governo e disseram que é um ato isolado, que o Governo não tem nada a ver com isso. E que as medidas de segurança serão adoptadas pelo bem da rádio. Ouvimos tudo isso, mas esperamos que sejam feitas investigações realistas, capazes de trazer à tona quem foi o responsável por este ato macabro e injustificável”, disse Sabino Santos.

    Também Indira Correia Baldé disse que o sindicato dos jornalistas guineenses pediu à Polícia Judiciária, que já fez um levantamento, “para trazer à luz os autores morais e materiais deste ato”. “Nós queremos saber quem é o mandante deste atentado à liberdade de imprensa e de expressão na Guiné-Bissau”, afirmou.

    As autoridades prometeram que a investigação vai continuar e pediram a colaboração de todos os cidadãos, segundo avançou Baldé.

    “Uma rádio que acompanha a actualidade do país”

    A rádio Capital FM é uma iniciativa lançada, em 2015, por um grupo de jornalistas guineenses, liderados por Lassana Cassamá. Iancuba Dansó, correspondente da DW África na Guiné-Bissau, é um dos profissionais da emissora que tem mais de 30 funcionários, incluindo 14 jornalistas.

    “Somos uma rádio que acompanha a actualidade desse país de perto. Nós defendemos a liberdade de expressão e direitos humanos na Guiné-Bissau. Talvez isso possa incomodar. Mas temos uma linha editorial bem vigiada pela direcção executiva, que não excede, mas faz a abordagem jornalística com todo o rigor necessário”, explicou Sabino Santos.

    Ainda este domingo, os profissionais da rádio Capital FM e o sindicato dos jornalistas devem reunir-se com o secretário de Estado da Comunicação Social. Espera-se que até à reunião os danos totais do atentado tenham sido contabilizados.

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