Cerca de uma centena de militantes do PAIGC, principal partido da Guiné-Bissau e no poder até ao golpe de Estado de 12 de abril, participaram hoje num comício em Bissau, o primeiro desde o golpe militar.
Evarista de Sousa, membro do comité central do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) o comício serviu para “demonstrar o repúdio dos militantes pelo comportamento da CEDEAO” (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental).
“Mandámos uma carta à CEDEAO na qual pedimos que cumpram as resoluções das Nações Unidas mas não nos responderam, por isso queríamos realizar uma marcha pacífica até sede deles para lhes demonstrarmos o repúdio dos militantes pelo comportamento que estão a ter com a Guiné-Bissau”, afirmou a antiga ministra da Agricultura e ex-governadora regional.
Desde o golpe de Estado todas as manifestações de rua de militantes de partidos políticos têm sido proibidas pelos militares. Hoje foi a Câmara Municipal de Bissau que mandou dizer aos dirigentes do PAIGC que a marcha até a sede da CEDEAO não tinha sido autorizada.
“Durante o Governo do PAIGC todos os que quiseram fizeram as suas manifestações de rua sem restrições de ninguém mas hoje estamos a ser proibidos de realizar uma simples marcha. Queremos saber o que está a fazer neste pais a força da CEDEAO”, questionou Carlitos Costa, animador principal do comício que durou cerca de uma hora.
Enquanto decorria o comício passou um carro com soldados da CEDEAO que foram vaiados pelos presentes, na grande maioria mulheres.
O sindicalista Benjamim Correia, membro da Frenagolpe (plataforma que junta partidos e organizações sociais que condenam o golpe de Estado), pediu aos guineenses para que cerrem fileiras contra o tribalismo e o divisionismo, fenómenos que disse espreitarem o país.
“Na luta armada contra o colonialismo não sabíamos quem é de que etnia. Todos éramos um só, guineenses, mas hoje há perigos de divisionismo que estão a ser fomentados por alguns guineenses” defendeu Benjamim Correria.
No calor dos discursos a deputada Nhima Cissé tomou a palavra para pedir que se gritassem vivas à CPLP (comunidade de países de língua portuguesa), à União Europeia, à União Africana e a as Nações Unidas, organizações que disse, querem ajudar o povo da Guiné-Bissau.
“Estes sim são nossos amigos porque querem ajudar-nos a avançar na democracia”, afirmou Nhima Cissé.
Com muita gente a pedir para usar da palavra, Carlitos Costa, animador do comício terminou a concentração lembrando que “as pessoas querem ir para casa porque hoje é dia do jogo de Portugal”.
“Viva Portugal. Viva a vitória de Portugal. Vamos agora para as nossas casas assistir a grande vitória de Portugal contra Espanha”, vaticinou o ‘speaker’ de serviço ao que foi respondido com vivas e uma debandada geral.
O PAIGC promete a partir de hoje realizar outras ações de luta política semelhantes contra as autoridades de transição no país.
O comício de hoje decorreu sem incidentes e não foi visível a presença de qualquer polícia ou militar.
FONTE: Lusa