Augustin Bizimana estava foragido há mais de 20 anos e era um dos principais acusados de crimes de guerra durante genocídio de 1994 no Ruanda. Organizações de sobreviventes lamentam que não tenha sido levado à justiça.
Testes de ADN realizados em restos mortais encontrados numa cova em Ponta Negra, na República do Congo, identificaram tratar-se do antigo ministro da Defesa do Ruanda, Augustin Bizimana, confirmou o procurador do Mecanismo Internacional Residual para Tribunais Penais (MICT), tribunal de direitos humanos das Nações Unidas na sexta-feira (22.05).
Segundo Serge Brammertz, acredita-se que Augustin Bizimana – indiciado por 13 acusações, incluindo genocídio, homicídio e violação – teria morrido em 2000.
Na declaração, lê-se que a “confirmação da morte” foi o resultado de uma investigação exaustiva “que combinou tecnologia avançada com operações de campo extensivas e envolveu uma cooperação excepcional com autoridades parceiras no Ruanda, na República do Congo, nos Países Baixos e nos Estados Unidos”.
“O tribunal verificou ainda provas adicionais relativas às circunstâncias da morte de Bizimana”, acrescenta o comunicado.
“Bizimana foi alegadamente responsável pelos assassinatos do antigo primeiro-ministro Agathe Uwilingiyimana, dez capacetes azuis belgas das Nações Unidas e de civis Tutsi” em cinco regiões do Ruanda, descreveu Brammertz, numa declaração.
O anúncio da morte de Bizimana segue-se à detenção em Paris, na semana passada, de Felicien Kabuga, outro de um punhado de suspeitos proeminentes do genocídio ruandês que se encontram foragidos há mais de duas décadas.
Justiça continua a tardar
“A principal lição da morte de Augustin Bizimana é que o mundo deve fazer justiça em tempo útil”, disse Nathal Ahishakiye, secretário-executivo da Ibuka, uma organização de sobreviventes do genocídio.
“Os suspeitos devem ser levados à justiça antes das suas mortes, também para evitar que os sobreviventes morram antes de ouvirem os casos daqueles que mataram os seus entes queridos,” acrescentou.
Em França, o chefe de uma associação de vítimas de genocídio disse que a notícia de que Bizimana tenha morrido sem ter sido levado à justiça foi uma “grande desilusão”.
“O maior desejo dos sobreviventes é que os assassinos enfrentem a justiça”, disse Alain Gauthier, fundador do Colectivo de Partes Civis para o Ruanda, organização que faz campanha para a acusação dos suspeitos de genocídio.
“Só a justiça lhes pode dar um pouco de conforto e, quando um líder de um genocídio é julgado, a sua honra é restituída”, afirmou.
Gauthier lamentou ainda que a morte de Bizimana tenha privado os sobreviventes de pormenores essenciais do que terá acontecido.
“Se ele tivesse sido capturado vivo, podíamos ter aprendido coisas – é uma pena,” concluiu.
Seis outros foragidos
O Tribunal Penal Internacional para o Ruanda conduziu 50 julgamentos antes de fechar as suas portas em 2015. Brammertz é procurador num tribunal sucessor das Nações Unidas que continua a funcionar para os restantes suspeitos e recursos.
Brammertz disse que o seu gabinete continua a perseguir a Protais Mpiranya, o ex-comandante da Guarda Presidencial das Forças Armadas ruandesas, e cinco outros suspeitos ruandeses.