“Pessoas, Processos e Produtos: o Compromisso com a Educação e Formação de Qualidade”. Este foi o tema da Feira Educa Angola, realizada na Feira Internacional de Luanda (FIL). Participaram do evento mais de 100 expositores e foram apresentadas inovações, lançamento de livros científicos e palestras com especialistas vindos de Portugal, Brasil, Estados Unidos da América e França. Estudantes de diferentes províncias mostraram na feira produtos que criaram e fabricaram.
Organizada pelos Ministérios da Educação e Ensino Superior e Ciências e Tecnologia, a feira registou a presença de mais de 20 mil visitantes e no último dia foram premiadas empresas e instituições académicas que apresentaram os melhores produtos.
A feira contou com expositores de Portugal, Namíbia, África do Sul, Alemanha e Brasil.
Uma maqueta sobre a “requalificação do bairro Marçal” foi dos trabalhos mais apreciados durante a feira, apresentado pelos estudantes do Instituto Médio Industrial de Luanda(IMIL). Tal como no ano passado, o instituto levou o prémio de melhor participação na categoria de institutos politécnicos.
Alcides Raul, estudante do último ano do IMIL, disse que 19 estudantes dos cursos de construção civil, química e informática trabalharam no projecto, que contempla habitações, postos de abastecimento de combustível, creches, escolas, valas de águas residuais, esgotos, cinemas, centros culturais, correio e áreas sociais.
O Hospital Américo Boavida, o Mercado da Chapada e a subestação de tratamento de água da EPAL estão implantados no projecto elaborado pelos estudantes.
O director do IMIL, Leite Faria, reconheceu que a principal dificuldade é a falta de indústria transformadora no país para absorver os jovens que terminam a formação técnica e profissional.
Os estudantes, que terminam o curso de química, deparam-se com dificuldades para conseguirem um emprego, o que os obriga muitas vezes a mudar de área.
O director do Instituto Médio Comercial de Luanda (IMCL), Novais Kimbanda, sublinhou que esta edição foi muito concorrida e os projectos apresentados tinham qualidade. “Cada ano que passa a criatividade aumenta e isso é importante para quem está formar técnicos com qualidade”, disse.
Livros lançados
“Educação em Foco” e “Iniciação Científica” foram os dois livros lançados durante a feira pela editora Quality Cultural em parceria com o Ministério da Educação.
O director da editora, Lopes Trigo, disse que os livros publicados procuram reflectir aquilo que tem sido a produção científica nos institutos médios técnicos e agrários de Angola, com o objectivo de proporcionar uma bibliografia à altura para que os estudantes possam ter instrumentos de referência para as suas actividades académicas.
Lopes Trigo afirmou que a sua instituição aposta na formação de agentes culturais, criando uma linha específica de lançamento de livros, que vão ser apresentados de forma trimestralmente.
Definição de estratégias
Durante a Feira Educa Angola foram realizadas várias palestras com especialistas convidados pelo Ministério da Educação em parceria com o Grupo Aldeia. O professor universitário brasileiro Nelson Cerqueira, que dissertou sobre “A importância da Educação para o Desenvolvimento Sustentável do País”, referiu que os países precisam de fazer uma definição estratégica para o desenvolvimento sustentado da Nação.
Nelson Cerqueira, que aproveitou a ocasião para apresentar o seu livro sobre “Hermenêutica e Literatura”, disse que o desenvolvimento implica ter uma estrutura de atracção de investimentos.
O professor argumentou que qualquer país tem de ter auto-sustentabilidade económica e social. “Se o objectivo de Angola for a educação, o investimento deve ser superior a 2.7 por cento do PIB. Angola não pode ficar atrás de países pequenos, como Costa do Marfim, Malawi e Cabo Verde”, disse.
Na sua opinião, é importante fazer mais investimentos na educação básica, média e intermediária. “O dinheiro da educação não é para investir em universidades. Podemos investir, mas a universidade pode ser uma parceria público-privada, porque o ensino básico é responsabilidade do Estado e não de privados”, defendeu.
“Não sou contra as ciências humanas, mas devemos evitar ter seis faculdades de Direito e nenhuma de Engenharia”, explicou o professor Nelson Cerqueira.
Kimbundo e Kikongo
A Universidade Estadual da Baía (UEB), no Brasil, introduziu no seu currículo as línguas kimbundo e kikongo, por terem sido as mais faladas durante a colonização. Os cursos têm o mesmo estatuto das outras línguas do mundo inseridas naquela instituição universitária.
A professora universitária e pesquisadora brasileira, Yeda Pessoa de Castro, disse que foi a seu pedido que as línguas foram inseridas no currículo da academia e outras línguas angolanas vão igualmente merecer a mesma atenção na referida instituição do ensino superior.
Yeda de Castro, que autografou no stand do Grupo Aldeia o livro “Falares Africanos na Baía”, editado pela Academia Brasileira de Letras, disse que o livro trata da influência das línguas subsarianas na língua portuguesa.
A pesquisadora explicou que, nesta pesquisa, constatou uma presença extraordinária das línguas angolanas no falar brasileiro. defendeu que a academia brasileira deve reconhecer a importância e influência das línguas africanas.
Yeda de Castro esteve em Angola pela terceira vez para participar na II edição da feira Educa Angola.
Desafios da Educação
O tema sobre Políticas Educacionais de Acesso e Permanência na Escola foi apresentado por Kátia Siqueira Freitas, consultora do Instituto Internacional de Ciência da Educação do Brasil.
A professora brasileira explicou que a educação deve preparar os cidadãos para um espírito democrático, de participação respeitosa pelas diferenças culturais, étnicas e físicas, para garantir uma sociedade mais democrática, mais justa e menos desigual para os cidadãos.
Kátia Freitas salientou que Angola está a passar por um processo que o Brasil viveu e é possível que sirva de exemplo e não de modelo.
“Não deve ser modelo porque cada Nação tem a sua particularidades, soberania e autonomia para decidir e deliberar sobre os seus problemas e como quer resolver os seus problemas”, disse.
A professora salientou que a Feira Educa Angola mostrou o valor e a importância que o país está a dar ao sector da educação para competir de forma igual com os países do primeiro mundo.
Rodrigues Cambala
Fonte: Jornal de Angola
Fotografia: Paulino Damião