O ex-presidente do Governo espanhol, Felipe González, manifestou dúvidas sobre se os países alvo de grandes medidas de austeridade, como Portugal, Espanha e Grécia, conseguirão recuperar e pagar as suas dívidas.
“Adorava poder dizer que tocámos no fundo, que fizemos um sacrifício grande e que agora vão notar isso. Não no Ibex35, mas no emprego, no crédito a empresas, em mais oportunidades. Mas não me atrevo a dizê-lo, porque não acredito nisso”, afirmou.
Felipe González falava em Madrid, numa conferência de imprensa conjunta com o ex-primeiro-ministro italiano, Mario Monti, e com Nicolas Berggruen, responsável do Berggruen Institute on Governance (BIG).
Os três participam num encontro promovido pelo BIG, dedicado ao tema da economia europeia e em que intervêm, na sexta-feira, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e o seu homólogo espanhol, Mariano Rajoy.
González considerou que, em termos gerais, a “austeridade tem sido um erro em todos os sentidos” com um “custo social enorme, um sacrifício excessivo e extraordinariamente mal distribuído”.
“Será que uma certa margem de austeridade necessária para reequilibrar derivas macroeconómicas desastrosas, mas que foi levada ao limite, permite depois do sacrifício recuperar o impulso económico”, questionou.
Num momento em que em Espanha, Portugal e noutros países europeus, se repetem os discursos otimistas sobre a crise, González questionou se os países terão condições de pagar as suas dívidas, mesmo para os “totalmente insensíveis” às políticas sociais.
“Se se mantiverem as políticas atuais e se for completamente insensível às políticas de bem-estar, como pagamos a dívida? Quanto teremos que crescer só para pagar os juros? Se não houver crescimento, e falo aos que não tenham qualquer sensibilidade social, como pagamos? Precisamos de quanto? 2,5 ou 3% de excedente primário para pagar juros? E nem falo em gerar emprego, recuperar políticas públicas, mas para pagar a dívida”, disse.
González considerou que grande parte do problema se deve à forma como a UE continua a lidar com os seus desafios, acrescentando sempre alguns dos problemas mais sérios como o crescimento ou o emprego, “ao final de outras políticas”.
“Quando há um grande acordo europeu há sempre um ‘e’. Pacto de estabilidade ‘e’ crescimento. Pacto de não sei quê ‘e’ emprego. Mas quando chegamos ao ‘e’ já estamos esgotados e cansados”, comentou. (publico.pt)