(Foto: Maridée Cervantes)
Acordei esta manhã visivelmente bem disposto. Depois de ter degustado, boa parte da noite, duas “entradas” do novíssimo álbum de Belmiro Carlos, “Phrases mestiças”, que vai gerar conversas de quintal, regadas com um “quindungo”* daqueles, de sábado, à sombra da mandioqueira ou da figueira. Primeiro a começar pelo título que é sofisticado, depois pelo teor da música, todo ele instrumental e cheio de “artefactos e sustenidos”.
Ao apreciar os temas “Delícias” e “Milongo”, postados no Facebook notei a ansiedade do autor, em mostrar aos amigos e admiradores, a sua segunda obra de instrumentais (três anos depois do álbum Belos Rumos) em detrimento do lado comercial, que aconselha o sigilo, não posso deixar de realçar a forma irrepreensível como Belmiro Carlos elabora a música, ostentando uma técnica muito suis generis de execução, extraindo caracteres melódicos de apurada estética.
Por isso é de salientar o comentário de um dos “facebookianos”, a propósito das músicas, dizendo que as mesmas devem ser objecto de estudo.
Já Betinho Feijó, nas suas vastas considerações sobre Belmiro Carlos, não hesita em considerá-lo um “cientista”, pelo trabalho de pesquisa que realiza em torno dos instrumentais. Há quem considere que a arte de “Nito” está longe dos padrões convencionais da música angolana, o que deve ser considerado um erro, pois as harmonias nela impressas têm Angola como fonte de inspiração.
“Delícias” é um rumba de sabor bem angolano, que leva o autor a fazer delirar a sua guitarra, num alegre passeio pelas profundezas do nosso ser, com ousadas harmonias de arrastar os pés no salão.
“Milongo”, não me engano, é um semba que atira para a saudade dos velhos tempos, não só do Marçal, o berço da nossa música (estarei errado?). Um semba todo ele vaidoso e cheio de swing, que não deixará sossegada a vassoura lá de casa, na ausência da bailarina atrevida do “passo de Sangazuza”.
A Banda Maravilha cumpriu e deu provas de sapiência, nesta obra de 9 instrumentais, a ser lançada em Janeiro, em Paris pelo instrumentista, que, curiosamente, é o secretário geral da União Nacional dos Artistas e Compositores de Angola, UNAC.
A imprensa francesa estará mobilizada em Paris para ouvir “Phrases mestiças”, de Belmiro Carlos, seguindo-se Lisboa e depois Luanda. Uma aposta de gabarito na internacionalização, feita com recursos próprios.
Ao Betinho Feijó, cumpre-nos dizer que é o visionário, o patrão, o timoneiro das novas correntes estéticas que alimentam o semba e a kizomba, os esteios da actual música angolana, ao conferir ao álbum, o toque final de qualidade, na sua condição de produtor musical. Um bem haja para ele.
Com esta novidade, o Portal de Angola dá início à categoria “Dinossauros”, um espaço exclusivo para as grandes figuras da música angolana. (Portal de Angola)
Por: Dias dos Santos
NOTAS:
* Quindungo – expressão popular quimbundo, da região de Luanda, que quer dizer vinho.
“artefactos e sustenidos”- um dos temas do álbum Belos Rumos
Baixe as músicas do álbum Belos Rumos, de BELMIRO CARLOS em:
NB – Oiça os dois temas de “Phrases mestiças” no seguinte endereço: https://soundcloud.com/belmiro-carlos-2
