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    Desconfiança e críticas marcam aniversário de 70 anos da NATO

    O primeiro dia de cerimónias pelo aniversário de 70 anos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) foi marcado pela desconfiança provocada pela confirmação da compra de mísseis russos pela Turquia e pelas críticas dos Estados Unidos ao baixo investimento da Alemanha em recursos militares.

    Numa tentativa de contornar as divergências internas, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, fez um discurso solene no qual pediu “preservação da unidade” dos 29 Estados-membros da organização, além de garantir que a organização não busca uma “nova Guerra Fria”.

    “Superamos nossas divergências no passado e devemos superar nossas diferenças no futuro”, declarou Stoltenberg em uma mensagem que também parecia dirigida ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem pressionado seus aliados.

    “A NATO é boa para a Europa, mas a NATO também é boa para os Estados Unidos” porque “é bom ter amigos”, disse o secretário.

    Stoltenberg foi aplaudido de pé pelos parlamentares republicanos e democratas ao recordar a “promessa solene” feita em 1949 na capital dos EUA pelos doze membros fundadores da Aliança: “Um por todos, todos por um”, um princípio questionado por Trump que está registrado no tratado da entidade, que tem como prioridade a luta contra a “ameaça” de Moscou.

    – Turquia azeda a festa –

    A desconfiança do governo americano em relação à parceria dos países-membros da NATO ganhou um novo argumento com a decisão turca de comprar o sistema anti-míssil russo S-400, o que levou Washington a suspender uma parceria militar com Ancara.

    Apesar da posição americana, a Turquia informou que não vai abandonar o acordo de compra de armas firmado com Moscou.

    “O acordo (para o sistema anti-míssil russo) S-400 está feito e não vamos abandoná-lo”, disse o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu, em Washington.

    Na segunda-feira, em represália ao negócio fechado entre Ancara e Moscou, os Estados Unidos anunciaram a suspensão do envio de peças para os caças F-35 turcos, bem como o trabalho conjunto de manufactura da aeronave.

    Cavusoglu disse que seu país se voltou para a Rússia porque não podia comprar mísseis Patriot e citou o presidente Donald Trump, que notou que seu antecessor, Barack Obama, cometeu um erro ao não vender o sistema para a Turquia.

    No entanto, o governo Trump deixou claro que está pronto para vender os mísseis Patriot a Ancara se abandonar a compra do sistema S-400.

    O chanceler turco indicou que a compra desse sistema russo não representa um sinal de aproximação com Moscou. “Discordamos da Rússia em muitos assuntos”, disse Cavusolglu, apontando para a “agressão” do governo de Vladimir Putin no Mar Negro e prometendo nunca reconhecer a anexação russa da península ucraniana na Crimeia.

    “Temos trabalhado com a Rússia”, disse. “Mas isso não significa que estamos minando a Aliança e que estamos de acordo com a Rússia em tudo, não há mudança em nossa política externa”.

    Os Estados Unidos temem que a Rússia obtenha dados do F-35 para aperfeiçoar a capacidade do sistema S-400 de abater aviões ocidentais.

    Antes de uma reunião com o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, o ministro turco esboçou uma solução que possivelmente não vai agradar Trump ou o Congresso, que está decidido a impor sanções à Turquia caso a negociação com Moscou prossiga.

    “Estamos propondo aos Estados Unidos a criação de um grupo de trabalho técnico para garantir que este sistema não seja uma ameaça para os F-35 nem para os sistemas da OTAN”, disse Cavusoglu.

    O ministro garantiu que seu país necessita “urgentemente” de um sistema de defesa como este “devido às ameaças na região” onde “todos têm mísseis”.

    – “Divisão dos custos” –

    Outro ponto sensível nas relações entre os Estados Unidos e a NATO recai nos investimentos na Aliança, já que Trump insiste para que os outros 28 países-membros aumentem seus orçamentos de defesa e que a entidade dependa menos do gasto militar americano.

    E um dos alvos dessa crítica foi a Alemanha, convocada pelo vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, a aumentar sua participação financeira.

    “A Alemanha tem que fazer mais. Não podemos garantir a defesa do Ocidente se nossos aliados se tornarem dependentes da Rússia”, declarou Pence durante o evento comemorativo.

    Para Pence é “sensivelmente inaceitável que a maior economia da Europa siga ignorando a ameaça de uma agressão russa e descuidando de sua própria defesa e a defesa comum”.

    O presidente americano, Donald Trump, se queixou várias vezes da Alemanha pelo não cumprimento da meta de investimento estabelecida em 2014 pela NATO de dedicar 2% de seu PIB à defesa.

    “Se a Alemanha insiste em construir o gaseoduto Nord Stream 2, tal e como falou o presidente Trump, isto poderá converter sua economia literalmente numa refém da Rússia”, advertiu Pence.

    O gaseoduto Nord Stream 2 vai permitir o fornecimento de gás para a Alemanha e o resto da Europa diretamente pelo mar Báltico e sem passar pela Ucrânia, o principal ponto de passagem no momento.

    O governo dos Estados Unidos criticou em várias ocasiões este projeto, e o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, advertiu em fevereiro passado que seu país fará tudo que for possível para impedir essa iniciativa.

    A Alemanha, que tem uma política contrária ao uso da energia nuclear, necessita com urgência de outras matrizes energéticas, mas o projeto Nord Stream 2 também enfrenta a oposição dos países Balticos e da Polônia, que desconfiam dos interesses da Rússia neste empreendimento.

    Como há 70 anos, a agenda da NATO segue pautada pela “ameaça” que a Rússia representa para os Estados Unidos e a Europa, com a adoção de um pacote de medidas para fortalecer a vigilância no Mar Negro.

    “Não queremos uma nova corrida armamentista. Não queremos uma nova Guerra Fria. Mas não devemos ser ingénuos”, disse o secretário-geral da NATO, convocando Moscou a respeitar o tratado INF de desarmamento que abrange armas nucleares de alcance médio.

    Mas “a NATO sempre tomará as medidas necessárias para garantir uma dissuasão confiável e efetiva”, advertiu Stoltenberg.

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