O Nobel da Economia Joseph Stieglitz diz que as políticas de resposta à crise, em particular a austeridade, estão a falhar e prevê “uma década perdida para a Europa e Estados Unidos”.
“A austeridade não tem funcionado e não vai funcionar”, disse Stieglitz, durante um debate temático de alto nível sobre a situação da economia mundial, na Assembleia-Geral das Nações Unidas.
“Nenhuma grande economia alguma vez recuperou com programas de austeridade de abrandamento ou recessão económica, e muito menos da magnitude que enfrentam hoje a Europa e Estados Unidos. E estas são ambas grandes economias”, adiantou o Nobel da Economia.
Para Stieglitz, as reformas estruturais em curso não vão tirar a Europa da recessão em breve, e quando “mal desenhadas ou aprazadas, podem até exacerbar os problemas”, afectando a procura global, que deviam estar a estimular.
Mercados estão a falhar
Na génese da crise, afirmou, esteve a “falha dos mercados”, que conduziram a bolhas especulativas, e “hoje os mercados estão a falhar outra vez”.
“É claro que os mercados não estão a usar bem os nossos recursos. E os nossos governos estão a falhar na correcção destes desequilíbrios dos mercados”, afirmou. “Meia década depois do rebentar da bolha, as economias não estão recuperadas e não parece que regressem ao normal em breve”, sublinhou Stieglitz.
Lembrando os anos de 1980 na América Latina, considerada uma década perdida devido a uma acumulação de políticas erradas, o economista defendeu que “esta será a década perdida para a Europa e Estados Unidos, como resultado de más políticas”.
No pico da crise, há quatro anos, Stieglitz presidiu a um grupo de peritos convocado pelo Presidente da Assembleia-Geral da ONU, para preparar um relatório com propostas de resposta à crise.
O seguimento destas propostas “não foi tão longe” como devia, no combate à desigualdade e, em particular, na reforma dos mercados financeiros, que não regressaram a um patamar “estável e sólido”, salientou.
Stiglitz defende um papel central das Nações Unidas na coordenação deste tipo de políticas, através de um “Conselho Global de Coordenação Económica, guiado e informado por grupos de peritos”.
“A necessidade destas reformas é hoje mais clara ainda. O custo dos atrasos vai ser elevado, especialmente numa economia global frágil”, sublinhou.