O artista plástico angolano Álvaro Macieira destacou, nesta quinta-feira, em Luanda, a necessidade de os criadores angolanos apostarem na criatividade para contornar os efeitos causados pela pandemia da Covid-19.
Em declarações à Angop sobre as consequências da Covid-19 no meio artístico angolano, Álvaro Macieira avança que os angolanos, em todos os segmentos, estão a viver momentos muito duros, cujas consequências serão igualmente difíceis de superar a curto prazo.
“A nossa economia, de modo geral, está em crise. Esse é um problema que afecta grande parte da humanidade, em luta pela sobrevivência, perante um quadro tão duro e dramático agravado com a pandemia actual, que nos prejudica a todos. Os resultados sociais, económicos e financeiros da nossa vida artística e cultural em Angola já vinha sendo difícil de suportar nos últimos sete anos, agora, essa situação agravou-se, de tal forma, que os resultados dramáticos são visíveis”, reforçou o artista.
Para o criador, se não forem tomadas medidas de apoio a classe artística, advinha-se um futuro sombrio na cultura e, sobretudo, entre os fazedores da arte, em todas as dimensões.
“Se não existir, para todos, uma política concreta de gestão desta crise, cujos contornos e resultados são, ou serão, dramáticos e assustadores”, adianta.
“A crise pretende tirar-nos a alegria. Nós, artistas, cultuamos a alegria. Esse é o nosso papel e a nossa missão: insuflar esperança, palavras de encorajamento, poesia, literatura, luzes, cores e formas tridimensionais, dança e música”, assevera.
Conforme o artista, é preciso fazer alguma coisa para ultrapassar estes momentos, com mais solidariedade, inteligência e criatividade para melhor distribuição dos poucos recursos financeiros.
“Temos que ir ao encontro das necessidades vitais do artista e não deixar que as notícias tristes nos roubem a pouca alegria que nos resta. Esta é a verdadeira e inadiável hora de se abrir os cordões à bolsa para nos acudirem, como diz a sabedoria popular”, avançou.
Álvaro aponta para a necessidade de ter esperança e trabalhar no futuro, sem perder o norte, o prumo, a orientação, para se melhorar e apoiar o desempenho e a argúcia da juventude nas artes.
“Os jovens artistas precisam de ser apoiados. Mas apoiados mesmo!…Não explorados, por aqueles que encontram no seu labor inicial, escassez de materiais e oportunidade, e até fragilidades e muitas vezes mesmo, ingenuidade, própria do percurso de cada adolescente ou jovem, uma forma de lucrar facilmente com o resultado do seu talento. Auguro que esses jovens talentos da actualidade, os que estão a sair das escolas de arte, ou mesmo das oficinas dos consagrados e mestres, esses artistas que começam hoje o esforço e o labor para concretizarem os seus sonhos, se organizem convenientemente”, frisou.
De acordo com o artista, desta forma não viverão as mesmas crises, as dificuldades e consequências que mais antigos, de todas as áreas da vida cultural nacional, vivem.
Relativamente à sua mais recente exposição que está exposta no Centro Cultural Português, Álvaro Macieira avança que se trata de 40 obras resultante de uma selecção criteriosa de formas, cores e técnicas desenvolvidas nos últimos 20 anos de actividade pictórica e cultural.
“Esta exposição de pintura, com o título Síntese – um artista, múltiplas linguagens, acontece para, exactamente, suplantar o medo que tenta apodera-se de nós”, disse.
De acordo com o artista, trata-se de uma exposição que estava preparada logo no início deste ano para ser inaugurada em Março, mas só foi possível agora devido à propagação mundial desta pandemia.
Avança que nestes cerca de seis meses, a Embaixada de Portugal e o Centro Cultural Camões de Luanda encontraram as melhores formas de segurança e aperfeiçoaram as formas tecnológicas de divulgação.
Para o efeito, as visitas são limitadas a cinco pessoas por hora, no horário de expediente. Essas visitas devem ser marcadas previamente por telefone ou para o endereço electrónico Icamões.ccluanda@gmail.com.
A instituição está também a usar as redes sociais (Facebook, Instagram e You Tube) para as sessões de divulgação pela Internet.
Álvaro Macieira é jornalista, escritor, artista plástico e consultor cultural. Nasceu a 13 de Maio de 1958, na vila de Sanza Pombo, na província do Uíge.
Como jornalista, foi Editor de Cultura na Angop – Agência Angola Press, onde começou em 1983. Colaborou para a Rádio Nacional de Angola, Televisão Pública de Angola e Tribuna Cultural da BBC – Londres, em Língua Portuguesa, a partir de Luanda.
Durante mais de 20 anos, dedicou-se à investigação dos vários aspectos da vida cultural angolana, percorrendo o país e tomando contacto com a realidade nacional, consolidando os conhecimentos que lhe vêm da sua vivência rural e do privilégio de ter viajado desde muito jovem pelas inúmeras regiões de Angola.
O paradigma da sua inspiração pictórica é composto pela poesia, a filosofia dos provérbios, os contos, as histórias que ouviu na sua infância rural, o contacto com as artes e as tradições africanas, as viagens, os museus que tem visitado pelo mundo e os lugares e sítios de memória.
Com o pintor alemão Horst Poppe e o angolano Augusto Ferreira fundou, em 2002, o grupo Conexão Cultural (www.conexao-cultural.com).
Em oito anos de intercâmbio e diálogo artístico, ora na Alemanha, ora em Luanda, Álvaro Macieira e o seu colega alemão fizeram várias exposições e pintura juntos (108 obras conjuntas de pequenas e grandes dimensões).
Três das suas obras estiveram expostas no Nord Art 2009, tida como a maior exposição colectiva de artes plásticas do mundo, realizada em Randsburg, norte da Alemanha.