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    Aumento de resistência do vírus da sida em África preocupa especialistas

    Na semana em que a luta contra a sida ganha visibilidade devido à conferência anual, há um sinal preocupante a vir de África: está a aumentar o número de pessoas infectadas com o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) que apresenta resistência aos medicamentos.

    A informação aparece num artigo na revista de medicina The Lancet publicado na semana da 19ª Conferência Internacional de Sida, que começou domingo em Washington, nos Estados Unidos, e só termina na sexta-feira. O trabalho reuniu dados de estudos feitos desde Janeiro de 2001 até Julho de 2011 onde se avalia a resistência de indivíduos aos anti-retrovirais, além de nova informação produzida pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

    O resultado reúne dados de mais de 26.000 pessoas. Os principais problemas aparecem nas regiões Oriental e Sul de África, avança a equipa de Silvia Bertagnolio do departamento de VIH da OMS, em Genebra, que teve o apoio da Fundação Bill e Melinda gates e do sétimo programa-quadro da Comissão Europeia.

    Segundo o estudo, durante um período de oito anos a resistência ao vírus na África Oriental aumentou de um para 7,3% na população seropositiva, o que equivale a um crescimento anual de 27%. No Sul de África o aumento foi de 14% ao ano, ou seja a população com resistência passou de um para 3,7%, um valor menos dramático mas que não deixa de ser preocupante.

    Esta resistência do vírus VIH-1 está associada aos fármacos utilizados na primeira linha de combate contra a sida, que controlam o número de vírus e diminuem a hipótese de contágio da doença.

    Menos opções

    A sida é o último estádio de uma infecção que vai progressivamente minando o sistema imunitário humano. Apesar de se desenvolver ao longo de anos, na grande maioria dos casos o corpo não tem forma de lutar contra o vírus que se vai multiplicando em algumas classes de células do sistema imunitário, matando-as. Ao fim de um certo tempo, as pessoas ficam sem resistências e à mercê de infecções que, numa situação normal, são combatidas facilmente, mas que em doentes com sida podem matar.

    Desde o seu aparecimento, no início da década de 1980, a sida já matou 30 milhões de pessoas em todo o mundo. Mas, na década de 1990, a descoberta de medicamentos que atacam o vírus permitiu pela primeira vez controlar a doença. Ainda não foi descoberta uma vacina para a doença.

    Em países como a Inglaterra ou os Estados Unidos a resistência do vírus aos fármacos atinge cerca de 10% da população seropositiva. Mas este problema é controlado. “Nós monitorizamos as pessoas regularmente e alteramos os medicamentos se desenvolverem resistência”, disse Ravindra Gupta à BBC News. O investigador é um dos autores do estudo e pertence ao departamento de infecção da Universidade College de Londres, no Reino Unido.

    Em África, este controlo da população seropositiva está muito mais distante. “Na África subsaariana existem menos opções de tratamento disponíveis. Se surgem resistências aos fármacos não costuma haver uma terapia alternativa”, disse por sua vez Deborah Jack, do National Aids Trust do Reino Unido. “Precisamos de investigar mais a causa desta resistência em África e de uma acção urgente para apoiar o acesso diário a terapias alternativas para as pessoas.”

    O artigo mostra ainda que em regiões como a África Ocidental e Central, América Latina e na região das Caraíbas a resistência na população manteve-se entre os 3,5 e os 7,6%. Ravindra Gupta explica que ainda não é necessário alterar a medicação existente, mas avisa: “Este trabalho dá-nos os primeiros avisos de que as coisas podem piorar.”

    Uma epidemia para os próximos 50 anos

    Noventa por cento dos seropositivos vivem em países em desenvolvimento, onde 97% das novas infecções são produzidas principalmente pela transmissão do vírus durante relações sexuais não seguras ou trocas de seringas infectadas.

    De acordo com um relatório de 140 páginas da ONUsida, o programa das Nações Unidas para a sida, publicado antes da conferência deste ano, o número de pessoas que morrem de sida desceu de 1,8 milhões de pessoas em 2010 para 1,7 em 2011 e o número de novos infectados desceu de 2,6 para 2,5 milhões. No entanto, este declínio da epidemia é demasiado lento.“Os números são positivos, mas a tendência tem de ser acelerada”, explicou Paul De Lay, o director-executivo do programa, citado pelo The Guardian. “Se nós fizermos um gráfico [com esta tendência], vamos olhar para uma epidemia significativa para os próximos 40 ou 50 anos.”

    Em 2011, existiam 34,2 milhões de pessoas seropositivas no mundo, segundo o relatório. Na conferência do ano passado, os países ricos concordaram em financiar um tratamento universal contra a sida que chegue a 15 milhões de pessoas dos países pobres, até 2015. Neste momento já existem oito milhões a serem tratadas, um aumento de 1,4 milhões face ao ano passado.

    Ban Ki-moon, o secretário-geral das Nações Unidas anunciou há um ano que queria ver o fim da sida até 2021, ou seja, o fim de mortes relacionadas com a doença e o fim de novas infecções.

    “Devemos decidir em conjunto nunca mais voltar atrás”, disse domingo, na abertura da conferência em Washington Elly Katabira, presidente da Sociedade Internacional da Sida, citado pela Al-Jazeera. O tratamento de seropositivos é visto hoje pelos cientistas não só como uma forma de controlar a progressão do vírus e evitar mortes, mas também como um meio para diminuir em muito as probabilidades de infecção.

    Para os medicamentos chegarem às 15 milhões de pessoas é necessário aumentar o investimento. Em 2011, gastou-se 16,8 mil milhões de dólares (13,86 mil milhões de euros) para os tratamentos de sida, mas é necessário mais sete mil milhões de dólares (5,77 mil milhões de euros) anuais para o objectivo ser cumprido. Um dos esforços da conferência deste ano é aumentar este investimento.

    “Este intervalo está a matar pessoas”, disse por sua vez Michel Sidibé, ex-director executivo da ONUsida, numa conferência. “Meus amigos, o fim da sida não é de borla. Não é demasiado caro. O fim da sida não tem preço.”

    FONTE: Público

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