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    Espanha e Irlanda tentam que UE se incline para o reconhecimento da Palestina

    A decisão de mais três países, incluindo dois da UE, de reconhecerem a Palestina como Estado é simbólica, mas tem consequências práticas para a crise em Gaza, disseram à euronews especialistas em política do Médio Oriente.

    A decisão da Irlanda e da Espanha de reconhecerem formalmente um Estado palestiniano, anunciada esta quarta-feira, (bem como a Noruega, que não é membro da UE), poderá desencadear novas declarações que inclinarão a balança a favor daqueles que na UE são a favor do reconhecimento do território.

    É provável que os três países, que hoje fizeram o anúncio, reconheçam formalmente a Palestina (com base nas fronteiras de 1967), já a 28 de Maio, sete meses após a eclosão da guerra em Gaza, na qual pelo menos 35.500 palestinianos e 1.470 israelitas foram mortos.

    “Isto é importante em termos de reforçar o apoio internacional à solução de dois Estados para a crise. Também é algo com impactoprático porque, provavelmente, irá promover medidas futuras para sancionar, potencialmente, colonatos israelitas ou pelo menos excluir (esses) produtos israelitas da Europa”, explicou Hugh Lovatt, analista no Conselho Europeu de Relações Exteriores.

    A Bélgica, a França e a Eslovénia poderão, em breve, seguir este precedente à luz da posição formal da UE de que a solução para a crise deve passar pela coexistência de dois Estados.

    James Moran, investigador no grupo de reflexão Centro de Estudos de Política Europeia (CEPS), também considera que é provável que outros países sigam o exemplo.

    “Se mais cinco países também reconhecerem agora a Palestina como um Estado, a maioria dos 27 países da UE seriam a favor”, disse Moran à Euronews.

    Até agora, apenas nove dos 27 países da UE reconhecem a Palestina como Estado: Bulgária, Chipre, Chéquia, Hungria, Malta, Roménia, Polónia, Eslováquia e Suécia.

    A exigência dos vizinhos árabes

    O reconheciemnto da Palestina também poderia ajudar a impulsionar um cessar-fogo em Gaza e ao envio de uma força de manutenção da paz, já que os vizinhos de Israel exigem o reconhecimento da autodeterminação deste povo.

    “Os Estados árabes têm um papel importante a desempenhar no apoio a um cessar-fogo sustentável em Gaza e, potencialmente, também no envolvimento posterior no envio de tropas árabes. A Autoridade Palestiniana também tem um papel importante a desempenhar no regresso a Gaza e na assunção de funções de governação e da segurança”, disse Hugh Lovatt.

    Moran argumenta que o reconhecimento de hoje deve contribuir para restaurar “parte da credibilidade da UE” junto do mundo árabe, alegando que a reputação do bloco “sofreu sérios golpes” nos últimos meses, devido à “percepção de padrões duplos” em comparação com a posição da UE na Ucrânia.

    Um Estado independente para a Palestina continua a ser o objetivo da política externa alemã, uma solução de dois Estados daria aos palestinianos e aos israelitas uma vida em paz, lado a lado.

    Porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha

    O papel da Alemanha e de outros países

    Alguns estados-membros da UE, tais como a Alemanha, a Áustria e a Hungria, apoiam firmemente Israel, mas têm demonstrado uma vontade crescente em que a União assuma posições fortes.

    Um exemplo foi o apoio consensual à exigência de uma “pausa humanitária” em Gaza e outro foi a aprovação de sanções da UE contra colonos israelitas violentos.

    Mas a Alemanha e os Países Baixos, por exemplo, acreditam que o reconhecimento deveria ser alcançado através de conversações diretas entre a Palestina e Israel.

    Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão disse, hoje, em conferência de imprensa, que “cada país toma a sua posição” sobre o assunto.

    “Um Estado independente para a Palestina continua a ser o objetivo da política externa alemã, uma solução de dois Estados daria aos palestinianos e aos israelitas uma vida em paz, lado a lado”, acrescentou o porta-voz.

    O analista Moran disse, ainda, que o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, poderia afirmar que as posições atuais dos governos de Dublin e de Madrid são um “sinal de movimento em direção a um horizonte político mais claro para os palestinos” , embora uma posição comum entre os Estados-membros ainda precise ser alcançada,

    Mas um porta-voz de Borrell insistiu que “o reconhecimento [da Palestina] não é uma competência da UE, é uma decisão de dois Estados-membros e não nos cabe  comentar”.

    A vice-primeira-ministra belga, Petra De Sutter, que condenou as ações de Israel em Gaza, reagiu hoje no X dizendo que a Bélgica deve seguir o exemplo da Irlanda e da Espanha.

    O eurodeputado irlandês de centro-direita, Barry Andrews, também disse que hoje é um dia “histórico” para a Irlanda, e que a UE deve agora seguir o exemplo irlandês “para ter uma oportunidade de paz e de solução de dois Estados”.

    Em Portugal, o novo primeiro-ministro de centro-direita, Luis Montenegro, disse que o país “não irá tão longe” como Espanha, a menos que seja implementada uma abordagem concertada da UE, após uma visita do seu homólogo Pedro Sanchez a Lisboa, tentando reunir apoio para o reconhecimento.

    Edouard Rodier, diretor-gerente do Conselho Norueguês para os Refugiados, classificou o anúncio de hoje como uma “medida simbólica” que estava “muito atrasada”.

    “É também um sinal concreto para o partido mais forte, Israel, bem como para os palestinos, de que a situação atual não pode continuar. Ter um estatuto igual entre os dois lados é um passo em direção a uma solução pacífica que ansiamos como humanitários que agora têm de juntar os cacos após cada nova guerra”, disse Rodier à Euronews.

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