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    Augusto Miragaia: Dentro de cinco anos Angola pode começar a exportar cimento

    Instalada há 60 anos no morro da Quileva, transformou-se actualmente numa unidade fabril de carácter misto detida pela SECIL Portugal em 51 por cento e pelo Estado angolano em 49 por cento. 

    A produção actual da SECIL Lobito ronda as 300 mil toneladas, devendo aumentar para um milhão e 500 mil toneladas, daqui há três anos, quando for inaugurada uma nova fábrica, próxima de uma reserva de calcário, de 140 hectares, com período de exploração de 200 anos. 

    A nova fábrica completa que passará a produzir clinquer, a matéria prima do cimento, representa um investimento avaliado em  200 milhões de dólares.

    Augusto Miragaia, delegado da Secil em Angola, acedeu ao nosso convite para a entrevista que a seguir, transcrevemos:

    PORTAL DE ANGOLA – Que orientações recebeu de Portugal, relativamente a esta unidade de produção industrial?

    AM – As orientações foram fundamentalmente de tentar – e uma vez que eu tenho uma experiência de 22 anos em produção cimenteira – organizar a empresa de maneira que ela se aproxime, o mais possível, de uma empresa do género.

    A fábrica não é grande.  Algumas questões não estavam a ser geridas de acordo com a tradição, obedecendo às particularidades técnicas da produção. E quando se selecciona uma pessoa como eu,  o objectivo é o de exactamente incutir aqui no Lobito, a forma como se deve organizar uma indústria cimenteira.

    PA – Quando diz que a Secil Lobito é pequena, quer dizer o quê, em termos de capacidade instalada?

    AM – A fábrica tem uma capacidade próxima das 300 mil toneladas. O máximo que já produziu foram 280 mil toneladas, em 2008. Nos anos seguintes 260. O ano passado produzimos 230 mil. Não foi um ano famoso. No primeiro trimestre de 2011 houve alguma dificuldade em escoar produto. O resto do ano decorreu normalmente, mas ficou de certa forma, marcado por um arranque menos bom. A economia também parou um pouco, resultado de todas essas crises internacionais que andam por aí, seja a do imobiliário ou a crise financeira e das dívidas soberanas. O accionista ficou satisfeito com os resultados do ano de 2011 e estamos a trabalhar…

    PA – E da parte do accionista angolano, que é o Estado, que orientações é que neste momento existem para esta unidade de produção, que é considerada pequena. Será que ela cobre as necessidades da província de Benguela?

    AM – É assim: os nossos produtos fundamentalmente vão para as províncias de Benguela, Luanda, alguma coisa para a Huíla, Kuanza Sul (Sumbe) e o Bié.

    No entanto, não conseguimos fornecer – eu diria -, nem 50 por cento das necessidades.

    A intenção do accionista angolano, neste caso do seu administrador, engenheiro Abel Fernandes é de crescer. Há uma vontade grande para que a empresa cresça. Em princípio nós temos um projecto para construir uma nova fábrica com capacidade de um milhão e 200 mil toneladas.                                                                                                              Este projecto está vivo – apesar de ter estado uns anos parado.

    Há uma vontade muito grande não só do accionista Estado angolano, como também da parte da Secil Portugal, de agarrar novamente no projecto e desenvolvê-lo.

    Não posso adiantar muito mais, como deve imaginar: são questões do accionista e eu sou o administrador executivo aqui. Diria que a vontade da população fabril, de toda a direcção é muito grande, relativamente ao novo projecto. Há motivação para isso!

    Esta unidade também não é muito nova – já tem 60 anos – embora de 2002 a 2004 tenham sido instalados aqui elementos novos. Mas pronto, a base continua a ser dos anos 50…

    PA – E  onde que estará localizada a nova unidade?

    AM – A previsão é construí-la a três quilómetros para o interior, na chamada zona do Cumingo onde nós temos a nossa pedreira. É lá que nós extraímos parte da matéria prima, utilizada para fazer cimento. O cimento é feito maioritariamente de clinquer, matéria prima produzida em fornos, com acréscimo de calcário.                                                                                                                        A idéia é construir a fábrica junto à pedreira.

    Por sua vez, o clinquer só pode ser produzido se a fábrica tiver fornos. Não os tendo neste momento, a nova fábrica já os prevê, com a inclusão dos moinhos. Será uma unidade fabril completamente nova.

    PA  – E isto deve ocorrer quando?

    AM –  A minha vontade seria começar já amanhã…!

    PA – Será esta uma das suas missões, a de avançar com o projecto?

    AM – Eu espero bem que sim. Até porque eu estive sempre ligado a ele, desde que começou em 2005. Fazia parte da equipa como químico e logicamente para um gestor, como eu, nada me daria maior satisfação do que ver nascer, do princípio ao fim – uma nova fábrica de cimento, que pode representar na totalidade, 200 milhões de dólares.

    Portanto, estamos a falar de algo que não vemos construir todos os dias. Um investimento de 200 milhões de dólares, numa fábrica de  cimentos é algo complexo. Não é como fazer uma estrada – não quer dizer que não tenha complexidade – mas temos muito mais valências envolvidas numa fábrica de cimentos – desde a electromecânica, automação, parte química, plano civil, enfim  toda uma série de coisas que não existem noutros projectos que até podem ter valores superiores…

    Construir uma fábrica de cimentos é efectivamente algo que pode realizar uma pessoa para o resto da vida. Eu acredito que uma das razões da minha presença aqui deriva da necessidade que houve de encontrar alguém com alguma experiência cimenteira e com capacidade de fazer evoluir o projecto.

    PA – E em quantos anos deverá ser construída?

    AM – Olhe em princípio, para uma fábrica de cimentos completa temos que contar sempre com cerca de 3 anos de construção. O que não quer dizer que ao fim de ano e meio/dois anos não comece a produzir.

    Portanto desde que ela seja conseguida faseadamente eu acredito que ao fim de dois anos comecemos a produzir, por exemplo, clinquer.

    Temos esta unidade que a vai  consumir na produção de cimento.

    Podemos implementar o projecto de forma faseada. Num espaço de dois anos começarão a aparecer os resultados.

    PA-  E essa capacidade instalada agregada vai permitir produzir quantas toneladas?

    AM –Multiplique por 4, ou se quisermos até por 5.  Porque o projecto que existe tem uma capacidade por exemplo de 1 milhão e 200 mil toneladas. A manter esta fábrica a laborar já estamos a falar de 1 milhão e 500 mil toneladas. Portanto com as duas a funcionar passamos automaticamente para 1 milhão e 500 mil toneladas…

    PA – E será necessariamente maior do que a cimenteira da concorrência que vai nascer aqui no Lobito?

    AM – A que concorrência é que se refere?

    PA  – Ao  projecto Palanca…

    AM –  Eu já ouvi falar da Palanca… Agora, não sei se há palanca ou não. Vejo lá uns terrenos que estão reservados, umas placas identificativas: agora se vai haver fábrica ou não, não sei… Veja: nós temos o projecto feito há cinco anos e ainda não colocamos a primeira pedra…

    Não quero falar da concorrência, porque não conheço. Até porque, também não existe concorrência…!

    PA – E em termos de capacidade laboral é uma empresa que vai dar emprego a quantos angolanos?

    AM –  Veja: empregos directos não prevemos em grande número. O número de pessoas que temos nesta unidade é muito superior às necessidades. A fábrica nova será totalmente automatizada. Será 1 fábrica que trabalhará ao fim de semana com 12/14 pessoas, não mais. Portanto, penso que o número de pessoas não irá aumentar.

    Agora, os empregos indirectos, esses sim,  vão aumentar brutalmente. Eu prevejo que o número, entre directos e indirectos, numa fábrica de cimentos envolva cerca de 2 mil pessoas. Porque vai tudo funcionar à volta da fábrica:  prestadores de serviços, transportes, fornecimento de combustíveis, etc.  Serão cerca de 2 mil, pela experiência que eu tenho

    PA – E isso influenciará necessariamente para baixo,  o preço do produto?

    AM – Sem dúvida. Com produção própria de matéria prima – o clinquer – há condições para que o preço baixe substancialmente.

    PA – Falando agora desta unidade que já tem alguns anos – cerca de 60 anos –  que problemas podem ser evidenciados em todo o processo laboral até à comercialização?

    AM – Os problemas da fábrica são fundamentalmente de natureza técnica.  Como disse,  a  fábrica tem muitos equipamentos novos, instalados em 2005, quando a Secil Portugal se tornou um parceiro. Contudo, a estrutura de base é antiga. Muitas vezes os problemas têm a ver com alguma falta de meios que caracteriza o país Angola, uma vez que importa muita coisa ou praticamente tudo. Boa parte das vezes os equipamentos ficam parados por falta de um simples parafuso, que é especial. Não será um parafuso normal, já que temos de o mandar vir do exterior, com todo um processo que leva sempre uns 10 dias.

    Por exemplo, 10 por cento dos problemas que nós temos eu atribuo-os à energia. Cada vez que a ENE falha no fornecimento, os nossos equipamentos sofrem brutalmente!

    Nós temos motores muito grandes, de 1500 kilowats. Cada vez que há um corte de energia sofrem danos. Arrancar com as instalações demora no mínimo meia hora, porque temos que lançar os geradores, que não entram imediatamente. Há todo um processo a ser cumprido, para lançar um equipamento de 700 kilowats, (não são os geradores lá de casa de 10 kilowats, são máquinas grandes). E toda esta problemática da energia acaba por provocar quebras de produção brutais.

    Chegamos a ter quatro a cinco cortes por dia. E isso gera um grande constrangimento, sobretudo para obter algumas peças, que vêm do exterior. Apesar de solicitadas via DHL nunca conseguimos tê-las aqui por menos de 15 dias. Porque veja: há o tempo de despacho (partindo do princípio que a peça esteja disponível, porque algumas só por encomenda…).

    Depois mais dois dias para o transporte, até Luanda. A seguir, para o Lobito. Se forem peças grandes não podem vir por DHL, porque sai caríssimo. Têm que vir de contentor, no mínimo um mês e meio.

    PA – Tudo isto resulta em prejuízos graves à produção?

    AM – Muitos. Olhe um constrangimento que temos: uma coisa tão simples como esta: um dos geradores tem um radiador sujo. É natural (nós trabalhamos com cimento e a poeira agarra-se ao radiador)… Estamos a falar de um radiador com 2 metros de largo e 3 metros de alto, que é limpo com líquidos desincrustantes. Ora, em Angola não encontramos esse líquido.  Quando nos “cai”a fábrica, por avaria do gerador, chegamos a ficar mês e meio a trabalhar de forma limitada, à espera do liquido desincrustante.

    PA – E em relação à água?

    AM – Sem problema nenhum. Dou por isso,  os parabéns à Empresa de Águas do Lobito. Nós trabalhamos com água da rede. Não temos captação.

    PA – A procura do vosso produto é grande neste momento?

    AM – Eu diria que se nós tivéssemos o dobro, vendíamos. É um produto com muita credibilidade e a prova é que, daquilo que conhecemos todos os consumidores industriais ou seja, as centrais de betão, as construtoras, não compram cimento chinês. Compram cimento da Secil Lobito.

    PA – Existem diferenças entre o cimento local e o chinês?

    AM – Os clientes dizem que sim. É como eu digo: os especialistas de cimento que são as construtoras, as centrais de betão só compram cimento aqui. Portanto, isto quererá dizer alguma coisa…!

    PA – E em termos dos canais de distribuição?

    AM – Nós trabalhamos da seguinte forma: não vendemos ao cliente comum. Temos uma rede de 12 distribuidores, que têm contrato de revenda connosco  e depois temos os clientes industriais, a quem vendemos directamente o cimento. Portanto é assim que funcionamos. Eu sei que os outros produtores vendem a quem tiver dinheiro para pagar. Nós só vendemos aos nossos revendedores e às empresas industriais, que são grandes consumidores.

    E – Olhando  o mercado cimenteiro na generalidade, constatam-se aqui em Angola alguns problemas  entre o cimento importado e o de produção nacional. Que análise lhe compete fazer sobre o assunto?

    AM –   Na minha opinião, o cimento importado, ainda bem que existiu, porque doutro modo, não tínhamos reconstruído Angola!                                                                                         A produção nacional não era suficiente para abastecer o mercado. Com o tempo surgiram novas unidades, para satisfazer a enorme procura. Temos o caso da CIF,  que arrancou em Março ou Abril de 2011, com uma capacidade próxima dos 2 milhões de toneladas.

    Não sei exactamente quanto é que vendeu o ano passado, mas provavelmente já deve ter vendido para aí um milhão de toneladas.

    A NOVA CIMANGOLA aumentou o ano passado, a sua capacidade instalada para 1 milhão e 800 mil toneladas.

    A Secil-Lobito, apesar da reduzida capacidade, a nível regional, tem a sua importância. Com a entrada em funcionamento da nova unidade moageira aqui em Benguela, (de características semelhantes à nossa), o mercado do cimento começa a estar abastecido com produção nacional.

    As autoridades governamentais têm de estar atentas – fazer alguma coisa de modo a impedir que as quantidades importadas, não paralisem a produção nacional. Seria uma coisa inadmissível! Neste momento ainda considero que o país precisa das importações. Mas depois de 2012, as entidades governamentais têm que começar a pensar em limitá-las. Particularmente não estamos afectados, porque a nossa  produção está toda vendida!                                                                                                                         E enquanto estivermos nestas circunstâncias, não corremos riscos.

    PA – Importar é mais barato que produzir localmente. Todavia no contexto regional existe mercado para escoamento da produção nacional. Concorda com isso?

    AM – Perfeitamente! Veja que as indústrias do cimento são consideradas estratégicas, assim como as telecomunicações, a electricidade, os petróleos, etc .. No caso de Angola, depois da guerra, a reconstrução do país promoveu a importação do cimento. Provavelmente nós vamos passar duma situação de défice – e neste prisma, ainda bem que há importação de cimento – para uma situação de excesso.

    Eu prevejo que dentro de cinco anos no máximo, Angola tenha excesso de produção de cimento. Nesta altura, eventualmente, teremos que começar a exportar cimento. Porque não? Veja o exemplo da Secil-Portugal: consegue neste momento – apesar do decréscimo do consumo interno, exportar praticamente 50 por cento da capacidade produtiva, para países africanos com défice e o Brasil.

    PA – Angola incluído?

    AM – Este ano ainda não importamos nada. Mas o ano passado importamos 27 mil toneladas. É muito pouco, comparativamente ao milhão e 200 mil toneladas exportadas pela Secil, o ano passado. É um bom sinal!

    E – Qual o potencial do mercado regional? A Secil-Lobito tem em perspectiva explorar este espaço?

    AM – Para já, os nossos esforços estão a ser concentrados, na consolidação e na expansão aqui. Com o projecto da nova fábrica eu vejo  que, para já, não há necessidade de pensar noutras coisas.

    É evidente que se tivermos capacidade produtiva há seguramente todo o interesse em começarmos a exportar para os países africanos vizinhos, sobretudo. E como podemos observar – o mar está aqui ao lado. Por outro lado temos experiência da Secil-Portugal, que facilmente pode transferir o seu know how, para Angola.

    PA – Tanto quanto se sabe, a acção da Secil também se fazia sentir, no passado,  na fábrica NOVA CIMANGOLA. Que relação é que têm com esta unidade sedeada em Luanda?

    AM – Efectivamente a NOVA CIMANGOLA, na época colonial era da Secil. Curiosamente esta fábrica, a primeira a ser instalada em Angola, foi construída pela pessoa que começou também com a produção do cimento portland, em Portugal: o senhor António Champalimaud. Curiosamente, ele era o proprietário das fábricas, da Maceira, a SL-Empresa de Cimentos da Iria e, em 1946-48, começa a construção desta unidade.

    A relação com a NOVA CIMANGOLA é boa. Há toda uma tradição a levar em conta, por sermos os mais antigos produtores de cimento.

    As relações são estabelecidas dentro de algumas regras de concorrência, que temos que observar – eles têm o negócio deles, nós temos o nosso, mas como todos temos as mesmas dificuldades, de peças,  disto e daquilo, atrasos do navio, enfim, o relacionamento é bom e saudável. Eles põem-me cimento aqui à porta de casa, independentemente da política comercial de cada um. Respeitamo-nos, não nos imiscuímos no negócio um do outro.

    E – Em termos de recursos humanos para a nova fábrica, que políticas estão a ser esboçadas?

    AM – Repare: uma nova fábrica com aquelas características tem exigências técnicas superiores. Portanto, vamos ter que admitir pessoas, de acordo com as exigências do processo. Ou melhor, se a opção for manter as duas fábricas a funcionar – a previsão é mantê-la a funcionar durante seis a sete anos – teremos necessariamente 200 pessoas a trabalhar. Mas veja: uma fábrica de cimentos, envolve sectores de produção de betão; de agregados; de pré-esforçados. Não se fique com a idéia de que vai haver despedimentos ou coisa do género, porque não é nada disso. A partir do momento em que tenhamos a nossa base, bem construída, com sustentabilidade, vão aparecer uma série de empresas à volta do cimento. É o que acontece em Portugal e todo o lado.

    Aliás, nós temos previsto lá em cima, conjuntamente com a fábrica de cimentos, uma central de betão. Portanto, ali mesmo, no acesso à pedreira quando se sai daqui.

    PA –  Em termos de ameaças que o mercado oferece, o que nos pode dizer neste sentido?

    AM –  Neste momento há duas ameaças: por um lado a importação, no caso de não serem tomadas medidas, como disse antes. Isso porque as importações são da China, e nós sabemos a que preço…

    Por exemplo alguém – trader –  ofereceu-me clinquer a 10 dólares a tonelada na origem. O cimento a preço corrente é 180 dólares a tonelada, na origem, na China, ou no Vietname, etc. É evidente que temos que pôr em cima disto, o custo do transporte, a manipulação, etc.. Os impostos, também têm um peso bastante grande. Apesar disso, importar é um bom negócio. Esta é uma das ameaças.

    As outras são o aparecimento de outros produtores nacionais, com o processo completo. Se produzir tudo aqui, isso efectivamente representa uma ameaça.

    Mas eu normalmente penso assim: já cá estamos há 60 anos… Vamos ter capacidade para dar a volta ao assunto? Seguramente, vamos deixar as coisas surgirem, e depois vamos aguardar. Concerteza também temos os nossos trunfos,  como deve imaginar.

    E – E essa ameaça não pode surgir aqui dos países vizinhos?

    AM – De maneira nenhuma. Aí não existe problema nenhum.

    Não tenho qualquer tipo de receio relativamente aos países vizinhos. Por uma razão muito simples: é que os custos com o transporte são brutais.

    Em Angola e em boa parte dos países de África, os transportes são muito altos. Isto tem a ver muitas vezes com as estradas. Nós temos uma rede de estradas satisfatórias (eu fiz 1500 quilómetros num fim de semana. Andei também pelo Lubango. Daqui  para o Bié é um espectáculo! Anda-se a 140-150 quilómetros, nas calmas.!

    Há outras zonas como o Moxico até ao Kuando-Kubango e mesmo na Huíla, com trechos de 50-60 quilómetros de buracos. Isto é doloroso para os camiões: partem-se todos. Portanto qualquer vizinho que queira pôr aqui cimento vai ter que passar por essas estradas esburacadas. Onde é que estamos bem servidos? Não conheço o Norte de Luanda, mas a idéia que tenho, a ligação lá para cima com o Zaire não está muito boa. Aqui no centro até Luanda estamos muito bem: há boas estradas até ao Huambo, e ao Bié, Malange. As Lundas, o Moxico, o Kuando-Kubango, a estrada da Huíla para o Namibe (há cerca de uns meses, rebentei lá dois pneus). Portanto, por tudo isso que passei concluo que os países vizinhos, não me preocupam rigorosamente nada! Porque nós temos aqui ao lado, um porto e caminhos de ferro, que fazem a ligação com a Zâmbia e o Congo Democrático.

    PA – Para si, quais são as tendências do mercado mundial do cimento?

    AM – É de crescimento. Fundamentalmente a Ásia. Está com um crescimento brutal. A China e a Índia, toda essa zona está a crescer brutalmente. No caso da Europa, não há nada para construir. A Europa não tem futuro. Temos o Brasil, que também está com um crescimento espectacular. Por alguma razão, a SEMAPA comprou  uma fábrica no Brasil. Não é por acaso. Está a haver uma deslocalização da produção.

    PA – Portanto, será essa, a tendência no futuro?

    AM – É.  Aliás este processo começou – veja a Secil começou  em Portugal. Começa a sua internacionalização em 1998, com a aquisição de uma fábrica na Tunísia, de 1 milhão e meio de toneladas. Comprou também no Líbano, uma fábrica semelhante e depois vem para Angola. E neste momento está no Brasil também. Portanto está a haver  uma saída dos mercados naturais,.

    PA – Atribui a situação à crise, em si?

    AM – A crise também contribuiu para isso. Aliás, essas transformações já começaram em 1998. Portanto tudo isto era previsível; que o consumo do cimento começasse a cair. As empresas têm que ter – como há bocado já falamos da distribuição (está tudo construído atingiu-se o máximo, vamos tentar crescer para outros mercados). O cimento foi a mesma coisa!

    PA – Em termos de responsabilidade social, o que é a Secil?

    AM – Oiça: eu considero que a Secil tem essa consciência. E a prova disso são toda uma série de apoios, que nós damos seja a escolas; à própria administração municipal; grupos culturais; ao Desporto (recentemente o torneio internacional de Benguela, o básquete de rua são patrocinados pela Secil, a equipa do Nacional de Benguela. Portanto os centros de formação (temos protocolo com o Conselho da Juventude, com estágios profissionais a jovens, para terem contacto com a indústria. Portanto o papel está a ser bem desempenhado

    PA – Portanto são boas as perspectivas…?

    AM – Eu acho que sim! A não ser que alguém me atraiçoe, como se costuma dizer.

    DIAS DOS SANTOS

    (portaldeangola.com)


     

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