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    As Cidades e o Mar

    Gabriel Baguet Jr (Foto: Jorge Monteiro/Portal de Angola)
    Gabriel Baguet Jr (Foto: Jorge Monteiro/Portal de Angola)

    Segundo estudos estatísticos referentes a 1950, menos de um terço ( 30%) da população mundial vivia em espaços urbanos. Em 2050 e de acordo com o Relatório Perspectivas da Urbanização das Nações Unidas de 2014, a taxa do aumento populacional subirá para os 66%. É um grande desafio que se coloca e representa uma evidência perplexa, mas real perante os decisores políticos, mas é igualmente uma enorme responsabilidade relativamente ao planeamento e de que modo os Urbanistas e os Arquitectos vão responder esta questão tão pertinente e profunda. Há cidades no mundo que se designam como grandes metrópoles como Tóquio, São Paulo, Pequim e o Rio de Janeiro. Noutras partes do globo, há cidades com significativo aumento populacional e com extenso território onde a realidade mostra assimetrias claras entre as cidades capitais e o interior. No caso de Luanda por exemplo, o fenómeno da mudança do campo para a cidade em plena guerra civil é o exemplo real do constrangimento que essa realidade implicou no ordenamento luandense e criou várias e pertinentes questões e que enumero: como se irá avançar para descongestionar Luanda em termos populacionais e urbanísticos por exemplo ?Como lidar com o aumento da natalidade, mas por outro lado com o envelhecimento da população? Mas há outros desafios para o nosso território: como atrair a fixação de população no interior do País e em cidades como Benguela, Malanje, Lobito, Lubango, Namibe, Kuando-Kubando e Huambo? É um exemplo entre outros considerando as 18 Províncias angolanas. Mas depois e num recorrente termo que utilizamos de vivermos num mundo globalizado, constata-se que se vive cada vez mais num mundo competitivo e com parametrização em rankings e talvez seja pertinente perguntarmos a nós próprios o seguinte: o que admiramos numa cidade? O que nos fascina numa cidade? É a História da cidade? É a Arquitectura que acaba por ter uma ligação à História Urbana da cidade, mas também ao que é edificado em termos de escolhas arquitectónicas? São as ruas? Os jardins ou a existência de espaços verdes e ao livre para exercitar o corpo e a alma? São os monumentos históricos? É o mar como continuidade e destino turístico e paisagístico? Porque há cidades sem mar como Madrid e com grande densidade populacional ou Paris que não tendo mar, tem o rio Sena como garante entre outras atrações históricas e arquitectónicas de fixar o Olhar à Memória. As perguntas são imensas. Mas o Mar é o lugar que nos faz sonhar e pensar a Cidade e o Campo em qualquer lugar do mundo. O simbolismo do Mar pode constituir o espaço para Olhar as Cidades do futuro e as nossas Cidades com bastante inspiração, visão humanista e pragmática aliando a História à Modernidade, mas sobretudo como a governação e a planificação das Cidades poderá potenciar um desenvolvimento regional (interprovincial ) ou nacional com reflexos sustentáveis na gestão urbanística, na limpeza das Cidades, na segurança em termos latos, na mobilidade populacional, na educação, na cultura, no licenciamento de múltiplas actividades locais, no turismo cultural, religioso e rural e na projecção internacional. A escolha deste tema as Cidades e o Mar decorreu da visita à Biblioteca Nacional de Portugal e do título de uma Exposição documental e bibliográfica sobre o Rio de Janeiro, prendeu o meu Olhar. “ No Mar estava escrita uma Cidade…/450 anos da fundação do Rio de Janeiro”. Considero um título poético e forte sobre uma Cidade e pude, percorrendo a exposição, que a escolha recaiu sobre a evocação de Carlos Drumond de Andrade, associando-se a Biblioteca Nacional de Portugal às comemorações dos 450 anos da fundação histórica da Cidade do rio de Janeiro que é assinalada todos os anos na data “ simbólica de 1 de março de 1565 “, segundo a Biblioteca. E o curioso nesta viagem é a divisão dos seis núcleos temáticos sobre a cidade brasileira do Rio de Janeiro que passo a designar: Identidade geográfica: Cartografia do Rio de Janeiro, São Sebastião do Rio de Janeiro: origens e fundação, Missionação e organização eclesiástica: Inscrição Urbana e monumental, Ouro e diamantes: A nova capital do Vice-Reino, A Corte nos Trópicos: A capital do Império e Paisagens cariocas entre a montanha e o mar, através dos quais se apresenta uma síntese das épocas e acontecimentos mais representativos da memória do Rio de Janeiro, com base nas coleções BNP* e da Biblioteca Pública da cidade de Évora, em Portugal. De acordo com a nota introdutória à Exposição, refere a mesma que esta “ mostra percorre, assim, diferentes momentos dos 450 anos da história da Cidade, testemunhando a sua permanente capacidade de reinventar, dinâmica em que prevalece a expressão estética e a riqueza cultural inspiradora que lhe conferem o estatuto único de « Cidade Maravilhosa»”. Esta notória tradução do que é e são as Cidades registam o cruzar da História com a Memória, aliando a evolução tecnológica com o simbolismo que a mesma em si encerram. Basta revisitar e sentir esta Letra Musical do nosso saudoso André Mingas, Arquitecto Compositor Músico e quando canta isto “É LUANDA”.

    «Kalunga bairro negrinho nome que veio do mar,
    Foi um escravo bagajeiro que foi de barco pra la
    Trouxe palavras novas, kianda virou iemanja
    Calulo virou mukeka, funge virou batapa/
    Kimbanda que é pai de santo, no santo é lá em acção
    Crioulo no rio é preto, candonga é muamba lá/
    Eu sou da bahia….é luanda

    Gilberto Gil…é luanda
    O ileia he …é luanda
    Até oludum…é luanda/
    Kianda que aqui é santa, umbanda é feitiço por lá
    Há uma rua que é das pretas, que o nosso muyongonga
    Makas so falas bocas, bocas também há por lá
    O mujimbo é la fofoca, palavra que é cajambwa/
    Kimbanda que é pai de santo, no santo é lá em acção
    Crioulo no rio é preto, candonga é muamba lá/

    Eu sou da bahia….é luanda
    Gilberto Gil…é luanda
    O ileia he …é luanda

    Até oludum…é luanda/». A beleza deste tema musical cruza dois universos inerentes à Cultura e à História de duas cidades. Luanda e a Bahia. Mas cruza a Música, as Tradições, a História pelo triste tragédia da Escravatura e o Mar. Por isso considero que o Mar ou os Rios deveriam constituir à escala do século XXI, fonte de inspiração permanente para pensar as Cidades, a nossa e a dos outros onde a sustentabilidade, a relação Centro/Periferia abrisse outros caminhos à inovação e à criatividade e que todos os Talentos de todas as áreas do Saber e do Conhecimento contribuíssem para a construção de Cidades menos poluídas, com bons transportes públicos, acessíveis Equipamentos culturais, valorizando as Tradições e a Modernidade e habitações enquadradas face ao meio ambiente independentemente das escolhas estéticas. A Arquitectura não é, nem pode estar isolada de uma envolvência humana e as Cidades, como palco de diversidade, podem ser o caminho para percorrer o que nos cerca, transferindo para o interior de cada região e zonas históricas, o sentido da preservação, da modernização sem destruir a História e definir espaços de concentração por excelência, de pessoas e de actividades culturais e económicas que potenciem bem-estar e não fragmentação. Se as Cidades foram e são ao longo da História da Humanidade locais privilegiados de concentração humana, o Campo pode e deve ser, lugar de destino, relevando o simbólico e que é cultural, mas também aliar a economia às questões sociais. Todas as pautas musicais, recorrendo-me de uma linguagem musical podem ter este pano de fundo que é o Mar, a Música, mas o Mar como fonte de inspiração permanente e futura. Por ter referido aqui esta relação da Música com a Arquitectura e o Mar e da Cidade com este forte elemento do nosso quotidiano, recorro-me de uma belíssima música de Toquinho, histórico Compositor brasileiro nascido em 6 de Julho de 1946 no Brasil para falar da Cidade e o Mar:

    “A Cidade e o Mar”
    «Quem vive a vida aflita da cidade/
    Mas tem seu coração em alto-mar/
    Se engana muito por ingenuidade/
    Sorri às vezes tendo vontade de blasfemar/
    Se esconde quase sempre da verdade/
    Caminha desejando navegar/
    Levanta vela ao vento, corre apresentar/
    Cruzando a ponte, gira entra num bar/
    E no fim de semana está cansado/
    Pensar que qualquer lado dá no mar/
    Quem fica em casa na tranquilidade/
    Mas tem seu coração em alto-mar
    Às vezes tira uns anos da sua idade/
    Pra, finalmente, ficar contente, poder sonhar/
    Viaja sempre e não sai da cidade/
    Caminha desejando navegar/
    Atira a rede ao chão todo asfaltado/
    Ajeita o leme e sai, vai trabalhar/
    Pergunta aos céus o que é que fez de errado/», porque é bom “ pensar que qualquer lado dá no Mar. (opais.co.ao)

    por Gabriel Baguet Jr

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